Quando houver o distanciamento histórico, daqui a uns 5 ou 10 anos, poderemos dizer que em maio de 2024 a Microsoft entrou oficialmente na “era do ARM”. Durante o evento Microsoft Build, a Gigante de Redmond anunciou a plataforma Copilot+ PC, inaugurada pelos notebooks Surface equipados com chips Snapdragon.
No entanto, para que esta migração da arquitetura x86 para ARM fosse possível, a Big Tech precisou fazer ajustes significativos no Windows 11 para garantir sua fluidez e eficiência na nova arquitetura.
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Um dos pontos chave dessa mudança foi o desenvolvimento do emulador Prism, uma ferramenta avançada que possibilita a execução de programas originalmente concebidos para processadores x86 com uma performance notável. Neste artigo nós explicaremos em mais detalhes quais mudanças a Microsoft precisou implementar no Windows para entrar de vez no mundo dos chips ARM.
Windows rodando na arquitetura ARM
A grande novidade foi anunciada pela Microsoft na última segunda-feira (20), ocasião em que também foram apresentados os mais recentes modelos da família Surface e novos recursos de inteligência artificial voltados para otimização do sistema operacional.
O já citado emulador Prism surge como um facilitador que propicia a execução de aplicativos projetados para chips AMD e Intel em PCs munidos de processadores ARM fabricados pela Qualcomm e outras empresas renomadas no setor. Desta forma, mesmo aqueles programas que ainda não foram otimizados para a nova arquitetura podem ser abertos e utilizados no ambiente Windows.
De acordo com informações fornecidas pela própria Microsoft, a implementação do Prism confere aos aplicativos rodando em PCs com o chipset Snapdragon X Elite um ganho de desempenho que pode chegar ao dobro da velocidade se comparado a dispositivos ARM anteriores, utilizando a versão Windows 11 22H2.
Isso implica que donos de notebooks de última geração que precisem utilizar um software ainda não adaptado para ARM encontrarão um sistema preparado para executá-lo satisfatoriamente. Essa capacidade representa um suporte valioso para aqueles que decidiram apostar na nova tecnologia e temem perder o acesso aos aplicativos cruciais para suas atividades cotidianas ou profissionais.
Segundo o TechSpot, o Windows 11 24H2 otimizará a execução de aplicativos x86 em chips Qualcomm Snapdragon X via Prism, prometendo até 20% mais desempenho. A Microsoft compara o Prism ao Rosetta 2 da Apple, que converte códigos x86 para Arm no macOS.
Embora a execução nativa de aplicativos seja o ideal em chips Arm — como já visto no navegador Opera e em algumas ferramentas do Office — a transição é gradual. O Prism surge como uma solução essencial, podendo beneficiar até PCs com chips Arm antigos e melhorar a compatibilidade.
A necessidade de um emulador para o Windows
Historicamente, o Windows tem sido o ‘lar’ de incontáveis programas criados ao longo dos anos, muitos dos quais ainda não estão prontos para os chips Snapdragon. As diferenças arquiteturais entre as estruturas de x86 e ARM são notáveis, dado que cada uma possui conjuntos específicos de instruções. O software necessita interagir corretamente com estas instruções para funcionar de maneira eficaz num computador.
Por meio de um emulador como o Prism, o sistema operacional atua como um intérprete dinâmico que permite que o código desenvolvido para uma plataforma seja compreendido e executado em outra. Isso significa que, mesmo quando um aplicativo está disponível somente em versão para chips x86, o computador baseado em ARM será capaz de interpretá-lo e permitir sua utilização plena.
Embora essa solução represente uma ponte importante para permitir que softwares não adaptados permaneçam utilizáveis nos novos PCs, é essencial ter em mente que mesmo com um emulador robusto, podem ocorrer certas diminuições de desempenho ou eventuais incompatibilidades.
Por essa razão, ressalta-se a importância de os desenvolvedores se dedicarem à adaptação de seus aplicativos para a arquitetura ARM. No entanto, as notícias são animadoras: a Microsoft revelou que “quase 90% do tempo gasto pelos usuários em aplicativos atualmente já contam com versões nativas para ARM“. Com isso, a experiência de uso do sistema operacional é otimizada para extrair o máximo desempenho possível do hardware.
Os computadores Copilot+ PCs
Durante décadas, a plataforma Windows permaneceu praticamente exclusiva à arquitetura x86 em computadores pessoais e empresariais. Contudo, com os avanços da arquitetura ARM em dispositivos móveis como celulares e tablets, era apenas uma questão de tempo até que essa arquitetura alcançasse o universo dos PCs.
A Apple foi a primeira empresa de massa a iniciar essa migração. Na ocasião a Mação rompeu com a Intel e migrou os chips de design ARM, dando início aos processadores conhecidos como Apple Silicon. A companhia lançou no mercado MacBooks dotados de performance impressionante e vida útil de bateria extraordinariamente duradoura.
Processadores fabricados por empresas como Qualcomm e MediaTek já são extensamente elogiados por seu baixo consumo energético mantendo, simultaneamente, uma potência considerável, em distinção aos componentes tradicionais de arquitetura x86.
Além disso, também na mesma segunda-feira do evento Microsoft Build (20), diversas fabricantes de renome global comprometeram-se a oferecer notebooks com autonomia de bateria prolongada. Marcas influentes como Dell, Asus, Acer e Samsung introduziram ao mundo seus notebooks que prometem estabelecer um novo padrão de mobilidade e conveniência.
É fundamental entender, porém, que o desempenho de um chip ARM (Qualcomm) em comparação com um (x86) Intel dependerá intensivamente do tipo de uso a que o dispositivo é submetido. Ademais, a Microsoft enfatiza enfaticamente que não cessará o desenvolvimento do Windows para PCs com chips x86. Esse movimento, portanto, adiciona pluralidade e expande as possibilidades oferecidas ao mercado de PCs, enriquecendo o cenário tecnológico com opções diversificadas para diferentes perfis de consumidores.
Apple abriu o caminho em 2020
Apesar de a Microsoft estar em destaque no ano de 2024 pela incorporação da arquitetura ARM em PCs, é importante reconhecer que eles não foram os primeiros a efetuar tal transição. A Apple efetivamente cortou laços com a Intel e, agora, comercializa exclusivamente computadores que possuem seus próprios chips personalizados, conhecidos como Apple Silicon.
No ano de 2020, o mundo testemunhou a Apple despertar interesse generalizado com o lançamento do emulador Rosetta 2, que desempenhou papel crucial na facilitação da mudança de arquitetura. Este emulador permitiu que aplicativos desenvolvidos para x86 fossem executados com relativa facilidade em computadores equipados com Apple Silicon.
Passados alguns anos desde então, observa-se que a maioria dos softwares já passou por processo de adaptação, e os usuários pouco necessitam recorrer ao auxílio do emulador, sinalizando a bem-sucedida transição para a predominância da arquitetura ARM no ecossistema da empresa.
É o que provavelmente acontecerá com os computadores equipados com o Windows. Em um futuro bem próximo, pode ser que o emulador Prism nem seja mais necessário, já que 99% dos programas mais utilizados terão suas versões para chips ARM.
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