No último domingo aconteceu o evento Xbox Showcase 2024. Esse evento da Microsoft era aguardado com grande expectativa (e um certo frio na barriga) pelos fãs de jogos e, principalmente, por quem tem um console da Microsoft.
A despeito de todo a atmosfera de pessimismo que tomava conta dos fãs nas semanas que antecederam o evento, o Xbox Showcase 2024 foi um verdadeiro sucesso. Eu diria que foi muito mais do que um alívio para os fãs, foi um evento que elevou o nível de hype dos jogadores para outros patamares.
Franquias renomadas deram as caras novamente, como a excelente franquia Gears of War, inúmeros jogos de peso foram anunciados e houve também a confirmação de que o “triple A” Call of Duty: Black Ops 6 estará disponível no Game Pass já no dia 1.
Mas eu tenho certeza que você já sabe de tudo isso. O que nós aqui do Hardware queremos com esse artigo é conversar um pouco sobre o futuro do Xbox. Em nossa opinião, o Xbox Showcase 2024 revelou bastante sobre as estratégias da Microsoft para o futuro e o que o console Xbox vai se tornar muito em breve. Então vem com a gente e depois deixe a sua opinião nos comentários.
O fim da “guerra” PlayStation vs Xbox
A gente se acostumou a acompanhar (e até a torcer) na “guerra” entre o PlayStation e o Xbox. O primeiro console da Microsoft foi lançado em 2001. Ele chegou ao mercado para competir com o já amado e consolidado PSOne e com o recém-chegado PS2, que havia sido lançado um ano antes e estava começando a conquistar os seus primeiros usuários.
De lá pra cá já se vão mais de duas décadas de rivalidade. A japonesa Sony se mostrou um osso duro de roer neste mercado. E a Microsoft suou para conquistar seu espaço no segmento de consoles e jogos, sem falar, é claro, na sua base de usuários e fãs.
A cada nova geração de consoles, a disputa entre as duas gigantes se intensificava. Novos consoles, com novos hardwares, gráficos cada vez mais realistas, videogames potentes e uma infinidade de jogos. Para tentar fidelizar o seu público, surgiram os jogos exclusivos. Tanto PlayStation quanto Xbox tinham seus títulos exclusivos, o que ajudou ainda mais a dividir os usuários. E a própria imprensa especializada também fazia questão de fomentar essa disputa, fazendo comparativos de gráficos, hardware, resolução, etc.
No entanto, tudo indica que essa “guerra” franca entre PlayStation e Xbox está perto de acabar. Se a briga foi equilibrada durante vários anos, agora a Sony tem uma clara vantagem. O PS5 hoje é a geração mais lucrativa da Sony. Dados de 2023 mostram que o PlayStation 5 vendeu 3 vezes mais do que o Xbox. Poxa, até o PlayStation Portal, que é um acessório meio inútil, vendeu mais que o Xbox em seu lançamento. Ou seja, a Microsoft vem perdendo essa guerra. Pelo menos em número de vendas e de jogadores.
E qual foi a saída que a Gigante de Redmond encontrou para isso? Simples: focar apenas nos jogos e não no console.
Xbox será mais uma marca do que um console
É óbvio que a marca Xbox tem a sua força e a sua relevância no mercado. Não podemos menosprezar isso. Mas a Microsoft tomou algumas decisões erradas ao longo do caminho, pelo menos no que diz respeito ao Xbox. Tanto é que as vendas de hardware do Xbox caíram 30% ano a ano, marcando dois anos consecutivos de declínio.
Devido a isso, a Microsoft começou a adotar algumas ações que foram, no mínimo, controversas. A primeira delas — que nem foi tão controversa assim — foi dar um foco maior no Game Pass. De fato, quando a gente compara o Game Pass com os planos equivalentes do PS Plus, a opção de assinatura do Xbox é muito mais vantajosa. O usuário paga um valor baixo e tem acesso a um realmente vasto catálogo de jogos.
Para quem compra o primeiro Xbox, o Game Pass cai como uma luva, pois você não precisa gastar dinheiro com jogos. É só fazer a assinatura e já aproveitar alguns títulos do catálogo. No entanto, a primeira decisão controversa envolvendo o Game Pass foi colocar jogos AAA na plataforma já no dia 01. É o que vai acontecer com o Call of Duty: Black Ops 6. Isso pode ser ótimo para alavancar as assinaturas do Game Pass, mas certamente vai diminuir a venda do jogo isoladamente.
No entanto, a decisão mais controversa, sem dúvida alguma, foi tornar os jogos exclusivos do Xbox em multiplataforma. Então, franquias renomadas passam a ficar agora disponíveis também no PlayStation, bem como no PC. Bem, agora eu te pergunto: qual motivo a pessoa terá para comprar um Xbox?
Isso deixa claro que a Microsoft não está focando tanto no console em si, mas em alavancar as assinaturas do Game Pass e também na venda de jogos. Não é à toa que ela adquiriu uma grande variedade de desenvolvedoras, com o exemplo maior para a Blizzard. Portanto, a Microsoft está focando muito mais na venda de jogos, independente da plataforma onde serão jogados, do que no desenvolvimento e venda do console Xbox.
Microsoft pode “matar” o Xbox?
Lembra que eu falei que a venda do Xbox já vem em queda a 2 anos seguidos? Pois é, essa tendência deve-se, em parte, ao fraco catálogo de jogos e à inconsistência nas entregas por parte do Xbox. Contribui também para essa situação o declínio geral no mercado de games.
Apesar desses obstáculos, o Xbox registrou receitas recordes, mesmo antes da entrada da Activision-Blizzard. A Microsoft, determinada a permanecer no setor de jogos, investiu US$ 72 bilhões na compra da Activision-Blizzard no último ano. Essa aquisição lhe garantiu franquias de peso como Call of Duty e World of Warcraft, abrangendo plataformas PC, console e mobile.
No entanto, as consequências imediatas incluíram centenas de demissões, cancelamento de projetos, orçamentos reduzidos e até o fechamento e venda de estúdios. Observando de fora, é complicado não perceber o ambiente tumultuado do Xbox, um reflexo do padrão errático da Microsoft nos anos que acompanhei a marca. O Xbox passou a última década tentando alcançar seus rivais, e sua persistência no mercado é impressionante.
Iniciativas como o Xbox Game Pass, a liderança de Phil Spencer e o lançamento de consoles acessíveis, como o Xbox Series S, têm sido fundamentais para a sobrevivência da Microsoft na competição. Contudo, a burocracia corporativa ameaça dissipar a boa vontade e o ímpeto que o Xbox vinha construindo, colocando em risco anos de esforços para se reerguer.
O CEO da Microsoft, Satya Nadella, já expressou desinteresse em ter jogos exclusivos no console. Meses depois, ele revela a estratégia de levar títulos do Xbox para o PlayStation, gerando inquietação entre os usuários do Xbox.
Existe um tribalismo nas guerras de consoles, mas as preocupações são válidas. Transferir jogos como Halo, Gears ou Forza para o PlayStation pode anular razões para adquirir um Xbox. Isso pode significar ceder controle a outras plataformas. E a Microsoft já fez isso com o Google e a Apple, quando desistiu do Windows Phone e deixou o mercado mobile na mão apenas de duas empresas. Isso também afeta a atração de usuários pelo Xbox Game Pass e diminui o interesse dos desenvolvedores em criar para o Xbox, potencialmente relegando-o a uma mera editora sem influência na indústria.
O projeto “Latitude” simboliza essa transição e há debates internos na Microsoft sobre sua viabilidade. Jogos futuros da Microsoft já estão a caminho do PlayStation. A Microsoft, que já publica no PlayStation com franquias como Minecraft, poderá não impor limites aos jogos que chegarão ao console da Sony, seguindo a diretriz de Nadella e da CFO Amy Hood para elevar lucratividade. Ou seja, no momento, o dinheiro está acima de tudo. O negócio é lucrar, lucrar e lucrar.
Colocar Halo Infinite no PlayStation pode aumentar os lucros temporariamente, como demonstrado pela liderança de Sea of Thieves na PlayStation Store. Mais jogadores acessando esses jogos seria ideal, mas a realidade é mais complexa, com plataformas relutantes em colaborar. Estratégias como essa podem trazer ganhos imediatos, mas acarretam riscos futuros. A indústra enfrenta declínios, e embora a Microsoft não esteja só nessa luta, sacrificar a identidade do Xbox não parece ser a solução sustentável.
Você é a favor ou contra os exclusivos?
O ex-presidente e CEO da Sony, Shawn Layden, compartilhou sua perspectiva sobre a reavaliação dos jogos exclusivos, uma prática tradicional no setor de games que enfrenta desafios diante das mudanças na indústria. Em entrevista ao VentureBeat, Layden, que comandou a Sony durante o lançamento do PS4, afirmou que os jogos cuja produção custa mais de US$ 200 milhões tornam a “exclusividade um problema”.
Conforme relatado pela GameVicio, manter a exclusividade é complicado, sobretudo em um cenário dominado por GAAS (Game As Service). Layden enfatizou: “Outra plataforma é simplesmente outro meio de expandir o alcance, conquistando mais jogadores. No universo free-to-play, sabemos que 95% desses jogadores nunca investirão dinheiro“, salientou.
Para ele, tudo se resume à conversão de usuários. A estratégia de ampliar o alcance foi exemplificada pelo lançamento simultâneo de Helldivers 2 para PlayStation e PC. Com orçamentos elevados, os jogos exclusivos diminuem a base de consumidores potenciais, aumentando o risco de fracasso comercial.
Layden observou que o mercado de jogos como serviço já funciona como um vasto funil, onde poucos jogos conseguem se manter no topo. “Observo os jogos como serviço e não vejo um cenário com 20 títulos concorrentes, todos bem-sucedidos. Não há demanda suficiente. Recorda-se de Ultima? Depois veio Everquest, e todos migraram. Então veio World of Warcraft, e o processo se repetiu. É difícil muitos jogos prosperarem simultaneamente.“
Além disso, Layden comentou sobre as ondas de demissões nos estúdios, interpretando-as como correções de rumo após decisões mal sucedidas que não geraram bons resultados. Então, olhando por este prisma, será que a Microsoft está certa em deixar de lado a exclusividade dos seus jogos? Você prefere que os consoles tenham jogos exclusivos ou não?
Conclusão
Por fim, após o Xbox Showcase 2024, que recebeu elogios de todos lados, ficou claro que o Xbox (e consequentemente a Microsoft) ainda têm muito lenha para queimar. Há uma legião de jogadores ávidos por bons jogos, boas histórias e horas de diversão. Mas será que a Microsoft vai saber aproveitar isso.
Uma coisa ficou clara com este evento: hoje a Microsoft visa muito mais o lucro e o dinheiro imediato do que a construção de uma marca e uma base sólida de fãs e consumidores. Falta paciência para Satya Nadella e demais executivos. Eles estão olhando muito mais a carteira do que os seus consumidores e clientes.
Por esse lado, pelo menos pra mim, fica claro que o Xbox como console não terá mais tanta relevância. Tanto faz comprar um Xbox, PlayStation ou montar um PC Gamer (ou portáteis como Steam Deck). Os jogos da Microsoft e suas desenvolvedoras estarão em todos eles. Isso com certeza será bom do ponto de vista financeiro, mas será a melhor decisão?
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