O dia em que a SEGA lançou uma TV com um Dreamcast embutido

O dia em que a SEGA lançou uma TV com um Dreamcast embutido

Ao longo de 50 anos de história, a indústria de consoles já tentou algumas fórmulas bem ousadas, uma delas é a ideia de um videogame embutido numa TV, um all-in-one que une televisor com uma plataforma de games.

Este conceito é bem antigo. A ideia embrionária neste sentido surgiu em 1972, com a Magnavox, que lançou a TV Model 4305. Simplesmente uma televisão com um jogo integrado. Como ressaltava o anúncio: da TV para o Odyssey ao toque de um botão.

Outras tentativas foram feitas ao longo das décadas seguintes, do Philips 21TYCDI30, de 1991, com um CD-I embutido, até mesmo a Sony Bravia KDL-22PX300, de 2010, com um PlayStation 2 integrado.

Sony Bravia KDL-22PX300

Particularmente, em termos de design, eu curto bastante um modelo que não é tão conhecido. Batizado de Drivers 2000 Series CX-1 Dreamcast. Nada mais, nada menos que um Dreamcast totalmente funcional e integrado a uma TV CRT de 14 polegadas. Neste artigo vou relembrar a história deste modelo que virou um item raríssimo.

Japão e suas particularidades

O mercado japonês é singular em diversos aspectos. Muitas das empresas que adoramos são de lá, e muitos produtos são pensados especialmente para aquele mercado. Alguns deles jamais verão a luz do sol no ocidente.

O Drivers 2000 Series CX-1 é um desses produtos direcionado ao mercado japonês. A ideia partiu de uma colaboração entre a CSK, Sega e a Fuji Television Network.

Anunciado em março de 2000, o produto chegou praticamente dois anos após o lançamento do Dreamcast, console que divide opiniões até hoje, e que sucumbiu perante ao PS2.

Enfrentar a Sony com o segundo PlayStation foi uma batalha que a SEGA não conseguiu manter por muito tempo. Mesmo com um número de vendas interessantes, não foi o suficiente para fazer frente ao PlayStation 2.

Como explicou Peter Moorre, ex-head da Sega America, “vendíamos 50 mil unidades por dia, depois 60, então 100 mil, mas não seria o bastante para aguentar o lançamento do PS2. Era um grande jogo de apostas. A Sega podia optar por seguir despejando dinheiro e ir à falência, eles decidiram que queriam seguir vivos para lutar outro dia”. O Dreamcast saiu de linha em março de 2001.

Como salientava o anúncio da chegada do dispositivo, o Drivers 2000 Series CX-1 possui uma televisão de 14 polegadas, a câmera digital DreamEye e até mesmo um teclado que poderia ser conectado na parte inferior da tela. As vendas começaram dois meses após o anúncio, mais precisamente no dia 21 de abril de 2000, ao preço de 88.888 ienes, aproximadamente US$ 830. O preço era salgadíssimo, quatro vezes o valor cobrado por um DreamCast na época no mercado japonês.

“Executando uma versão personalizada do sistema operacional Microsoft WindowsCE, é alimentado por uma CPU Hitachi SH4 200MHz, processador gráfico PowerVR 2DC com um GD-Drive de alta densidade para jogos e reprodução de CD. O sistema também pode funcionar com um modem Dreamcast para acesso à Internet e possui uma conexão MIDI dedicada para dispositivos de música”, ressalta o comunicado de imprensa sobre o lançamento do Drivers 2000 Series CX-1.

Como pontue mais acima, o Drivers 2000 Series CX-1 tem um design que me agrada. Realmente é bem peculiar, mas ele carrega uma certa semelhança com uma corrente de design que curto bastante, a Space Age, que foi uma forte tendência entre meados dos anos 50 e 70, no hype da corrida espacial.

O impacto daquele momento foi tremendo, com forte inspiração não apenas para o mercado de produções cinematográficas, mas também do design industrial. De carros a eletrodomésticos, passando por móveis e até mesmo televisores. Muitos produtos ganharam um aspecto meio futurista, com linhas arrojadas e formas alongadas, com referência clara a foguetes e ao espaço sideral.

Acredito que o Drivers 2000 Seris CX-1 não foi projetado com este período em mente. Falam até que o design teria sido pensado para remeter a cabeça do Sonic. No entanto, é um produto que poderia facilmente estar numa sala de uma casa nos anos 70.

Como mostra este colecionador, o conteúdo do Drivers 2000 Series CX-1 inclui cabo de modem (o aparelho tinha um modem integrado de 33,6 kbps), controle remoto, para alternar entre o modo TV ou o modo Dreamcast, teclado, controle, manual, câmera, fone de ouvido com microfone e diversos softwares.

Entre os softwares, o destaque fica por conta do Dream Passport 3, projetado para garantir ao Dreamcast algumas funções básicas de internet. O Drivers 2000 Series CX-1 é uma das primeiras (quem sabe até mesmo o primeiro), televisor com alguma possibilidade de conexão com a internet. Obviamente, fornecido via console integrado, mas, tá valendo.

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A bandeja para receber os jogos do Dreamcast, via GD-ROM, foi posicionada na parte superior do televisor abaulado num belo tom de azul. É possível observar alguns LEDs também na parte lateral, que piscam, indicando o nível de volume. Destaque também para uma espécie de par de antenas na parte frontal da tela, posicionadas nas extremidades do painel de quatro botões

O efeito colecionismo

Assim como muitos filmes que, num primeiro momento, são considerados um fracasso, o Drivers 2000 Series CX-1 está neste mesmo hall. Lançado a uma tiragem limitada de 5.000 unidades, o produto decepcionou. O preço inviabilizou o sucesso dessa empreitada, mas, ao longo dos anos, essa tv simpática com videogame integrado virou um colecionável muito procurado entre os aficionados do Dreamcast. 

Nada melhor para representar o quão ousado foi o Dreamcast que uma TV com ele integrado.

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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