Relembre como foi o lançamento do PlayStation 2 no Brasil

Na década de 90, a recém-formada editora Escala, decidiu ter como primeira publicação uma revista especializada em games.

Para cuidar do conteúdo publicado, o pessoal da ProGames, que tocava a principal rede de locadoras de games do Brasil, foram os escolhidos.  A revista foi batizada de Gamers.

Caso você tenha vivido essa já longeva fase de ouro das revistas especializadas em games, sabe muito bem que uma das sessões recorrentes em diversas publicações era o espaço em que os leitores enviavam perguntas ou comentários para a redação da revista, e os editores respondiam. 

Evidentemente a Gamers tinha também seu espaço para os leitores darem pitacos e manifestarem suas opiniões. Numa delas, na edição 72, o leitor Renato Carlos do Nascimento sugeria uma petição:

“Alô, amigos. Venho por meio desta, pedir a ajuda de todos os leitores desta revista que, tendo em vista a falta de consideração da Sony do Brasil para com seus consumidores, façam parte de uma ação organizada e pacífica com o objetivo de termos o PlayStation 2 fabricado no Brasil”

Esse comentário era o reflexo de meados dos anos 2000. Revistas que mostravam as maravilhas prometidas com o PS2, e uma grande defasagem oficial em relação à chegada do console em solo nacional, ainda mais quando se aventava a possibilidade da fabricação local.

Lançado originalmente no Japão em março de 2000, o PlayStation 2 rapidamente alçou o posto de um produto com moral. Precedido por um acerto incontestável, e que deu início a linha PlayStation, o console vendeu 1 milhão de unidades em apenas 2 dias após o lançamento.

O aquecimento que culminou num estrondo quando as vendas foram liberadas começou a acontecer em meados de 1999. Entre os destaques da Sony: processador de 128-bits, jogos em DVD e gráficos de cair o queixo.

Lançado por 39.800 ienes, o equivalente na época, em conversão direta, a R$ 650 reais, o console parecia que demoraria uma eternidade para chegar ao Brasil. Outras publicações na época destacavam a dificuldade que seria importar uma unidade do Japão.

A edição 149 da revista Ação Games de março de 2000 pontuava:

“A importação direta pode ser complicada, porque não existem muitas lojas que entregam produtos no Brasil e entre as poucas que têm esse tipo de opção, algumas não aceitam nem cartão de crédito.

Nesse caso, o pagamento tem de ser feito com um vale-postal (que, segundo os Correios, pode demorar até três meses para chegar ao Japão) ou através de uma ordem de pagamento internacional (serviço que tem uma taxa alta nos bancos)

Além disso, quando o produto chegar ao Brasil, você deve pagar o imposto de importação, que pode chegar a 60% do valor do equipamento”.

Em abril de 2003, a EGM, outra revista histórica, alertava sobre como o Brasil estava à margem do mercado de consoles, com destaque para o caso da  Sony.

A publicação falava sobre um certo menosprezo da gigante japonesa em relação ao Brasil. Não tinha parceiros para o lançamento, não estava procurando nenhum, e sabe-se lá quando o console seria fabricado por aqui.

Essas posições fortaleciam o mercado paralelo. Na época, a estimativa era que mais de 1 milhão de unidades importadas do PS2 já teriam sido vendidas no Brasil.

É importante fazer essa distinção em relação à chegada de um produto ao país. O site oficial da Sony, e até mesmo a imprensa de forma geral, considera entrada oficial do produto ao Brasil quando ele recebe o aval da empresa responsável.

Mas muito antes de o PlayStation 2 ser chancelado oficialmente pela Sony no Brasil, o console já estava circulando por aqui. Nas mãos de alguns felizardos que podiam pagar o custo de um console trazido por importação.

Era comum anúncios de lojas que destacavam a venda do PS2, como a Netunia, ou a PlugGames.

O custo era alto. Algumas importadoras cobravam cerca de R$ 2.000 pelo console (valor cobrado pelo Nintendo GameCube quando chegou oficialmente ao país, em outubro de 2002).

Muito se especulava sobre o porquê da Sony parecer tão desinteressada com o lançamento oficial do console no Brasil.

Em 2003 começou a circular que a empresa estava estudando a fabricação do console, na Zona Franca de Manaus. Seria o primeiro país em que o console seria fabricado fora do Japão.

Oficialmente a empresa justificava o delay no lançamento em dois pontos:

Pirataria: responsável por mais de 50% das vendas naquele momento. O

O segundo ponto, e que provavelmente muitas pessoas sequer lembram, é o entreveiro que a Sony enfrentou com a marca brasileira Gradiente. Pasme: a marca PlayStation ficou por muitos anos no Brasil nas mãos da Gradiente.

A marca foi registrada pela Gradiente em novembro de 1997. O Brasil era o único país do mundo em que a marca PlayStation não pertencia a Sony.

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Mais curioso ainda é o fato de outra empresa brasileira ter registrado o nome PlayStation antes mesmo do lançamento do console. Em 1991 a  INPERTRONIC IND. PERNAMBUCA EQUIP. ELETRONICOS LTDA, que era do ramo diversão/entretenimento, registrou a marca. Lembre-se, o primeiro console da família PlayStation foi lançado apenas em 1994!

A Gradiente acabou conseguindo a marca anos depois, e a própria Sony não teria se empenhando para conseguir de volta. A Sony Brasil chegou a um acordo com a Gradiente em 2002.

E então chegamos ao fatídico momento em que a Sony lançou oficialmente o PlayStation 2 no Brasil.

Em 2008, a Sony foi autorizada pelo Conselho de Administração da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) a fabricar o PS2 no Brasil, além de autorizar a prensagem das mídias de DVDs dos games por aqui. Naquele momento o console já ostentava mais de 140 milhões de unidades vendidas globalmente.

Com a fabricação local acertada, o lançamento foi a próxima etapa. Durante a E3 2009, a Sony confirmou a chegada do PS2, PS3 (lançado em 2008) e PSP (lançado em 2004) ao Brasil para outubro daquele ano. Simplesmente 9 anos de defasagem em relação ao lançamento do PS2 no mercado japonês.

O preço Sony para o PS2 no lançamento era de R$ 799, acima do valor cobrado por outros lojistas naquela circustância (cerca de R$ 600.

Mesmo com todos os contratempos, o PlayStation 2 se transformou num dos consoles mais amados já lançados no Brasil, e ainda detém o título de mais vendido de todos os tempos, com cerca de 155 milhões de unidades.