i740: relembre a primeira placa de vídeo lançada pela Intel

i740: relembre a primeira placa de vídeo lançada pela Intel

Este é o segundo post de uma série especial que estreamos em janeiro aqui no Hardware.com.br. #Nostalgia. Em cada artigo relembrarei algum fato curioso e histórico do mundo da tecnologia. No artigo que deu início a essa série, falei sobre o mítico comercial 1984 da Apple. Campanha que foi utilizada para a promoção do primeiro Macintosh.

Hoje vamos avançar uma década. Vamos para os anos 90. Chegou a vez de relembrar o momento em que a Intel resolveu se aventurar no mercado de placas de vídeo dedicadas, com a i740.

i740, a primeira placa de vídeo da Intel

Se você acompanha o mercado de hardware, sabe que a Intel está novamente apostando no segmento de placas de vídeo dedicadas. A empresa que ficou marcada no segmento por suas soluções gráficas embarcadas, tanto em chipsets, quanto nos próprios processadores, retoma a vontade de investir em soluções dedicadas.

O que muitos não lembram ou sequer sabem é que a Intel já tentou em outras ocasiões se firmar no segmento de placas de vídeo dedicadas. A primeira e mais emblemática tentativa foi com a i740, lançada na década de 90, mais precisamente no dia 12 de fevereiro de 1998.

É interessante contextualizar o ponto em que a Intel se encontrava nos anos 90. Embora a corporação tenha passado por uma grande perda logo no início da década, com a morte do cofundador Bob Noyce, em dezembro de 1990, a marca Intel estava cada vez mais forte, honrando com louvor o legado de Noyce.

Os maiores exemplos ficam por conta do lançamento da linha de processadores Pentium, família de produtos que acabou se tornando um verdadeiro marco na indústria dos computadores, em 1993, o fato da Intel ter alçando pela primeira vez o posto da maior fornecedora de semicondutores do mundo, e a supremacia da empresa em relação a sua participação no mercado dos computadores pessoais.

Na década de 90, mais de 80% dos computadores pessoais estavam equipados com um processador Intel. Era o “Intel Inside” na potência máxima. Ah já que mencionei “Intel Inside”, também foi nesta década que a Intel lançou esse chavão marqueteiro.

Era uma espécie de selo de qualidade que atestara a ideia que a Intel queria refletir nos consumidores. A ideia de que adquirir uma máquina com o selo “Intel Inside”, que representava a presença de um processador Intel naquele computador, o tornava diferente em relação às opções dos concorrentes. Seguramente, o “Intel Inside” é um dos maiores acertos na publicidade da história da tecnologia.

A Intel estava voando baixo. Por que então não tentar uma abordagem realmente significativa que pudesse chacoalhar o mercado? Foi isso que a Intel fez com a i740, primeira opção de placa de vídeo dedicada, que tinha a dura missão de brigar com grandes marcas da época neste mercado: 3Dfx, ATI, Matrox e NVIDIA.

Mas antes de falarmos sobre qual foi o resultado da i740 no mercado, é preciso compreender o ponto de partida, como a Intel chegou até a placa pronta para ser comercializada.

O processador gráfico i740 começou a ser desenvolvido a partir de 1996. Não pela Intel. Esse projeto ficou nas mãos da Real3D, até então, uma subsidiária da Lockheed Martin.

Neste mesmo ano a Intel firmou uma parceria com a Real3D e a Chips and Technologies, empresa do ramo de semicondutores, adquirida pela Intel em 1997 por US$ 430 milhões.

Essa parceria foi firmada para que uma nova placa de vídeo chegasse ao mercado. Projeto que recebeu o codinome “Auburn”.

Além de ter a Intel no projeto, essa placa era diferentona por adotar um novo padrão estabelecido pela própria Intel, o AGP (Accelerated Graphics Port ), sucessor do PCI. A placa i740 chegou em 1998 e de tabela a Intel adquiriu 20% de participação da Real3D.

A própria Intel chegou a se envolver com a responsabilidade da fabricação do chip gráfico, adotando o processo de fabricação de 350nm, moderno para a época.

A Intel comercializou a i740 sob dois nomes. Intel Real3D i740 Starfighter e Intel Express 3D. Assim como vemos hoje, com parceiros da empresa responsável pela GPU lançando versões diferentes em relação ao modelo original, a i740 também ganhou algumas versões de parceiros da Intel. Um exemplo é a Palit i740 Daytona.

Palit i740 Daytona

Algumas, inclusive, nem adotavam o AGP, seguiram com o barramento PCI, que era mais comum na época, com direito a mais memória. Uma dessas versões PCI, com 12 MB de memória, foi testada pelo Vintage3D, em comparação com a Riva 128. Confira abaixo:

A placa foi lançada por US$ 34,75, preço para OEMs, mediante a compra de 10.000 unidades. Para o varejo, a placa era vendida entre US$ 80 e US$ 120.  As especificações eram as seguintes:

Especificações da Intel i740

  • Processador gráfico Intel i740 (clock de 66 MHz);
  • 2 a 8 MB SDRAM ou SGRAM (clock de 100 MHz, interface de 654-bits com 800 MB/s de largura de banda);
  • RAMDAC de 200 MHz;
  • 3,5 milhões de transistores;
  • AGP 2x;
  • Processo de fabricação de 350nm;
  • TDP de 6 Watts.

A Intel promovera a placa em seu comunicado de imprensa como uma solução que poderia entregar alta performance para desenvolvedores e usuários finais. Otimizada para uso com o Pentium II, a Intel também mencionara que a i740 era a combinação perfeita para rodar games como Quake II, Red Line Racer, Incoming e Tonic Trouble.

Red Line Racer

O discurso de comunicados são sempre mais pomposos que o produto em si. A i740 não rompeu com essa tradição. A placa entregou bem abaixo do esperado. O desempenho decepcionou e a ideia da Intel em segmentar uma base no segmento de placas de vídeo dedicadas não decolou.

Abaixo você pode conferir algumas propagandas de PCs em revistas de tecnologia da época que mostram algumas configurações em que a i740 aparece como o chip gráfico.

Repare na imagem acima que, além de opções de computadores com os processadores da própria Intel, máquinas que combinavam o processador AMD K6 junto com a i740 também apareceram no mercado.

No caso da máquina da imagem acima, vemos uma combinação que passava pelo uso da i740 com o Pentium II. Repare que na publicidade é mencionado 440BX, esse era um chipset da Intel popular na época.

Mais algumas opções de configurações com o i740.

Em números a passagem da i740 foi a seguinte. A placa vendeu um pouco mais de 4 milhões de unidades e aproximadamente 45 empresas exibiram placas com o chip gráfico i740 embarcado. Além de não ter dado certo esta tentativa da Intel em despontar no mercado de placas de vídeo, a empresa ainda parou no tribunal por práticas de mercado em relação a esta placa.

Em junho de 1998, a Comissão Federal de Comércio (FTC) dos Estados Unidos entrou com uma ação contra a Intel por adotar uma conduta de preços predatórios com a i740. A Intel chegou a vender a i740 entre US$ 7 e US$ 18 em Taiwan. Um caso de dumping – vender um produto com valor bem abaixo do valor oficial para prejudicar ou até mesmo eliminar a concorrência e dominar o mercado,

Também correram boatos de que era mais fácil para os fornecedores de placas-mãe conseguirem processadores Pentium II se também comprassem i740.

Em resumo, a Intel fez de tudo para tentar emplacar sua placa de vídeo. Mas não teve jeito. O produto ficou abaixo do esperado. Em 1999, a Intel até até lançou uma nova placa de vídeo, a i752, numa tiragem bem limitada. Os esforços da empresa nos anos seguinte em termos de chips gráficos ficaram voltados para soluções embarcadas.

Primeiramente no chipset (numa época em que ainda vivíamos numa realidade de chip de vídeo onboard na placa-mãe, graças a GPU implementada na ponte norte do chipset) e depois integrado ao próprio processador.

A Intel vive hoje um momento em que se coloca como uma das corporações que precisam empurrar a era da inteligência  distribuída, através da diversidade no portfólio. Investimento em diversas frentes, como inteligência artificial, 5G, rede, CPU, e até chip gráfico. Após mais de 20 anos da sua primeira investida em soluções gráficas dedicadas, a Intel retoma esse desejo com A arquitetura escalável Xe.

Essa arquitetura é subdividida em três variantes. O Xe LP (Low Power), que inclui chips com um TDP baixo para uso móvel. Em princípio, são GPUs com um TDP de 5 a 20 watts com picos de até 50 watts. O Xe HPG (Alto Desempenho), responsável por alimentar placas gráficas com TDP entre 75 watts e 250 watts. Com isso, a Intel competirá com as placas de jogos da NVIDIA e da AMD, mas também visa as estações de trabalho. Finalmente, existe o Xe HPC (High Performance Computing) para uso no mercado profissional.

Intel Xe Max

O segmento de notebooks também é contemplado por essas novas soluções gráficas baseadas em Xe. Aliás, esta categoria de produtos foi a primeira atendida por essas novas soluções, com os chips gráficos Xe Max. Um dos primeiro notebooks com as nova gama de soluções gráficas dedicadas da Intel é o Acer Swift 3X, lançado no fim do ano passado.

Leia mais sobre a série #Nostalgia

1984, o lendário comercial da Apple

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Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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