16Em 2019, durante uma entrevista ao Village Global, Bill Gates declarou que a derrota da Microsoft para o Android é seu maior erro em termos de gestão.
“O maior erro de todos os tempos foi alguma falha de gestão da minha parte que fez a Microsoft não ser o que o Android é hoje. Ou seja, o Android é a plataforma padrão para celulares que não são da Apple. Era algo natural para a Microsoft conquistar”.
Ao longo dos anos, o Android conseguiu tirar o sono de Gates e outros executivos de empresas como Nokia, Palm, e até mesmo da Apple. Estabelecendo um ritmo singular em termos de domínio do mercado de sistemas mobile, baseado em uma abordagem que poderia garantir tal supremacia.
A primeira versão beta do Android completou 15 anos. Neste artigo vamos relembrar alguns fatos curiosos dessa trajetória do robozinho verde implacável.
Visões distintas
Nick Sears, Andy Rubin, Chris White, Rich Miner fundaram em Palo Alto, Califórnia, em outubro de 2003, a Android, Inc. Empresa que tentava um lugar ao sol no mercado de sistemas operacionais. A priori, destinado a melhorar os sistemas operacionais de câmeras digitais.
Dois anos após sua fundação, exatamente no ano em que a Microsoft lançou a versão 5.0 do Windows Mobile (que, naquela época, estava atrás do Symbian e do Palm OS), o Google fez um movimento que se repetiu em inúmeras outras situações de sua trajetória: aquisição.
O Google comprou a Android, inc por US$ 50 milhões em agosto de 2005. Uma forma desesperada de ir contra a uma possível repetição do que a Microsoft conseguiu no segmento da computação: dominar o mundo com seu sistema operacional.
O ex-CEO do Google, Eric Schmidt, confirma que a aquisição do Android foi feita com certa urgência, aventando a possibilidade de se antecipar a alguma estratégia da Microsoft que pudesse ser consistente e criasse uma hegemonia para a empresa de Gates no setor.
Algumas aquisições do Google são mais estratégicas do que a razão pode compreender num olhar mais superficial. O mesmo se viu com a compra da Motorola em 2011.
Neste ano, David Drummond, que era diretor do departamento jurídico do Google, acusara a Microsoft, Oracle e Apple de orquestrar uma campanha hostil de aquisição de patentes relacionadas ao segmento móvel para tentar frear o avanço feroz do Android, tornando o Google dependente de elementos fundamentais para seguir neste mercado.
Além de cobrar até US$ 15 do Google por cada dispositivo Android lançado, dependentes de patentes registradas. Uma tentativa de encarecer toda a operação em torno da relação entre o Google e as empresas parceiras que adotam o sistema. Bons enxadristas corporativos como são, o Google fez um movimento de mestre. Comprou a lendária Motorola, e incorporou mais de 20 mil patentes.
Em 2014, quando repassou sua aquisição para frente, vendendo a Motorola para a Lenovo, o Google manteve boa parte das patentes, usadas para o desenvolvimento do Android.
Retornando aos primórdios do Android, assim que incorporou a Android, inc em seus domínios, um dos primeiros movimentos foi definir qual seria a visão de mercado. O Google adotaria uma abordagem mais centralizadora, com o sistema fechado, ou abriria o leque, seguindo no modelo open-source, código aberto?
Em seu livro “Como o Google Funciona”, Eric Schmidt conta que houve uma breve discussão entre a equipe de gestores sobre se seria adequado ou não manter o Android como um sistema aberto.
“Andy Rubin e a equipe do Android, a princípio, queriam mantê-lo fechado, mas Sergey (cofundador do Google) sugeriu abri-lo. Manter o Android aberto nos ajudaria a escalonar depressa dentro do espaço muito fragmentado dos sistemas operacionais móveis. Então, foi o que fizemos”, diz Rubin.
Em idos de 2005, o mercado de sistemas móveis era disputado pelo Symbian, Palm OS, Windows Mobile e BlackBerry OS.
Essa abordagem destoava a de outros players, como Microsoft, Palm, BlackBerry e Nokia que seguiam o caminho dos sistemas fechados. Abordagem tradicional daquela que conseguiu se manter como a única alternativa viável contra o Android, o iOS, desenvolvido pela Apple. O Google pensava mais em escalonar do que controlar todas as pontas do processo.
2007
O ano de 2007 está para o mercado mobile assim como o ano de 1971 está para a música. Anos emblemáticos por inúmeros aspectos. No caso do segmento mobile, em 2007 vimos nascer o iPhone e também o primeiro beta do Android.
“Esperamos que o Android seja a base para muitos novos telefones e crie uma experiência móvel totalmente nova para os usuários, com novos aplicativos e novos recursos que não podemos imaginar hoje”, enfatiza parte do comunicado do Google publicado em 5 de novembro de 2007 anunciando o lançamento do beta do sistema. A primeira versão comercial, a 1.0, foi lançada apenas em 23 de setembro de 2008.
Poucos dias após o anúncio, o Google soltou a versão inicial do kit de desenvolvimento para programadores, o Software Development Kit (SDK), que incluia um emulador altamente funcional e que poderia ser instalado no Windows, Linux e MacOS.
Neste mesmo período também foi anunciada a Open Handset Alliance (OHA). Formado inicialmente por 34 companhias (hoje são mais de 80), incluindo grandes fabricantes e operadoras de telefonia móvel, responsáveis por guiar o desenvolvimento de padrões abertos para o segmento mobile, e também uma excelente política da boa vizinhança do Google, fundamental para incentivar a adoção do Android.
O primeiro celular lançado com Android partiu de um dos membros da OHA, a HTC.
O primeiro telefone com Android
Foi preciso esperar quase um ano para que o primeiro aparelho com o Android chegasse ao mercado. Em outubro de 2008 foi lançado o G1 Mobile, ou HTC Dream, apostando em tela sensível ao toque e teclado deslizante.
Com preço fixado em US $179, o aparelho foi comercializado pela operadora T-Mobile, outra integrante do OHA. Além dos US$ 179, era preciso ficar preso a um contrato de no mínimo dois anos com a operadora. O valor era mais baixo que a versão mais em conta do iPhone 3GS, que saia por US$ 199 com a AT&T.
A HTC, precursora do mundo Android, sucumbiu às próprias mudanças e divisão do mercado com tantos players e foi encolhendo gradualmente, desde sua saída do Brasil em 2012 até mesmo a venda de parte de sua equipe de P & D para o Google em 2017.
O mesmo desfecho melancólico teve outro nome emblemático no universo Android, a LG, que deixou o mercado de smartphones no ano passado.
Android chega ao Brasil
A HTC também foi a primeira marca a lançar um smartphone com Android no Brasil, o HTC Magic, que chegou em terras tupiniquins em 2009. O modelo oferecia tela de 3,2 polegadas, câmera de 3.2 megapixels e entrada para cartão microSD.
Neste mesmo ano, a sul-coreana Samsung, que domina as vendas de smartphones no Brasil há alguns anos, trouxe sua primeira opção com Android ao país, o Galaxy i7500, com o mesmo tamanho de tela do HTC Magic, mas com uma câmera de 5 megapixels. Ambos os aparelhos chegaram em parceria com a operadora TIM.
Nexus One
Em 2010 foi a vez do Google lançar seu primeiro smartphone, obviamente, baseado em Android. A popular linha Pixel, que hoje faz a cabeça dos amantes da fotografia mobile, foi precedida pelo Nexus, primeira aposta do Google em um smartphone que leva sua chancela.
Fabricado pela HTC, o Nexus One foi um smartphone encomendado pelo Google à fabricante taiwanesa. O aparelho foi lançado com tela AMOLED de 3,7 polegadas, processador Snapdragon de 1 Ghz, 512 MB de RAM, 512 MB de armazenamento interno e câmera de 5 megapixels.
Além da HTC, Samsung, LG, e ASUS também criaram dispositivos Nexus, que se caracterizaram por receber as novas versões do Android em primeira mão e por rodar a versão “pura” do sistema, sem modificações que os fabricantes parceiros do universo de lançamentos Android inserem.
O reinado começa
Em 2011, contrariando as previsões mais otimistas de anos anteriores, o Android assumiu a liderança entre os sistemas mobile, tomando o posto do Symbian, da Nokia. Da primeira posição não saiu mais, ao contrário, apenas se consolidou.
Atualmente, o Android é responsável por 71,25% do mercado de sistemas mobile, seguido pelo iOS, com 27,88%, segundo dados da Statista.
Fatos importantes em 15 anos de Android
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