Conta aí pra gente: você ainda escuta músicas por mídias físicas ou somente digital?

Conta aí pra gente: você ainda escuta músicas por mídias físicas ou somente digital?

Hoje pela manhã estava lendo uma entrevista que o Ed Motta concedeu à revista Veja. No papo, o músico fala sobre seu mais recente trabalho, o álbum “Behind  The Tea Chronicles”, sua felicidade em ser um completo ermitão, rechaçando interações sociais, e, em determinado momento, ele é questionado sobre a maneira como consome música.

O clássico embate entre mídias físicas, CDs e vinil, contra os meios digitais, como os serviços de streaming. Definidamente não são excludentes, mas, até mesmo para colecionadores como Ed, ao longo dos últimos anos uma transição natural vem acontecendo, as mídias estão ficando de lado e os serviços de streaming vem ocupando o primeiro escalão quando o assunto é ouvir música.

Com esse ganho em mente, resolvi trazer esse tema para o Conta ai pra gente. O quadro fixo aqui do Hardware.com.br em que, ocasionalmente, trazemos alguns temas relacionados à tecnologia para que você interaja conosco nos comentários.

A pergunta central é a seguinte: você ainda escuta música por mídia física? Esse assunto é mega amplo, são muitas nuances, já que, atrelado a esse questionamento da maneira como será o consumo de música, sempre entra em pauta o fato de um meio atingir certa qualidade, enquanto outro tem uma sonoridade mais particular, a comodidade e praticidade etc.

E não podemos esquecer também que para muitas pessoas o ato de ouvir música é apenas um artifício de segundo plano para outra atividade. Não há uma atenção ou dedicação real a essa atividade, é mais colocar um som para limpar a casa ou fazer atividade física, por exemplo. Para essa parcela, o streaming reina de forma absoluta e tecnicidades relacionadas com a qualidade de reprodução não estão em questão.

Já para pessoas mais meticulosas, como o Ed, pode parecer óbvio, num primeiro olhar, que as mídias físicas sempre serão o carro-chefe. Na entrevista, Motta diz que gosta de serviços de streaming de alta resolução, como o Qobuz e Tidal. Mas a sua preferência são os arquivos digitais que ele mesmo faz a cópia. Uma busca incessante pela manutenção de como aquilo foi gravado em estúdio.

Pessoas como o Ed estão enquadradas no nicho do nicho. Ele faz parte de um público que, além de ouvinte, é um estudioso das canções, dos álbuns, e dos equipamentos. O campo dos audiófilos, além da busca incessante pela qualidade máxima, também implica em uma jornada pelo conhecimento. A grande massa não está afim disso, e não quer ou nem pode gastar o que é necessário para embarcar nesse hobby.

Falando dos serviços de streaming, que facilitaram grandemente o consumo de música, há um chamariz enorme de marketing que visa pegar despercebido aspirantes a audiófilos. A grande jogada da transmissão sem perdas.

Qual serviço tem o melhor som: Spotify ou Tidal? Tidal ou Qobuz? Perguntas como essa são feitas a todo momento em fóruns dedicados a esses assuntos, e em matérias em diversos sites. E muitos usuários escolhem realmente pagar mais caro por um serviço que oferte faixas em altíssima resolução, como o Qobuz, que tem um catálogo recheado de faixas em 24-bits.

Bom, já tive a oportunidade de ouvir os principais serviços de streaming de música do mercado, e sigo a mesma linha de raciocínio do Leonardo do canal Mind the Headphone. Para 99% das pessoas será praticamente impossível distinguir um arquivo mp3 de 320 Kbps, bem mixado e masterizado, de uma faixa lossless (sem perdas). 

De todos os serviços de streaming de música que já usei, o Qoboz me chamou a atenção, me pareceu realmente um destaque entre os demais, no quesito som . Mas acho que essa minha opinião tem relação com um certo efeito placebo, uma reafirmação do que estou lendo. “Músicas na mais alta qualidade”, “sem perdas”, “Hi-Res”, “Master” etc. Isso parece influenciar na capacidade de julgamento.

Certas palavras e atribuições nesse mundo do áudio podem seduzir clientes não pela qualidade do que você está ouvindo, mas sim por essa sopa de termos.

No ano passado, o caso Mobile Fidelity (MoFi), empresa referência na produção de vinis ultra premium, ganhou enorme repercussão no mundo audiófilo. A MoFi lançou uma edição comemorativa de 40 anos do álbum Thriller, clássico absoluto da música pop.

Essa edição, com tiragem de 40 mil cópias, faz parte do que a empresa chama de série “One Step”. O One Step, no universo dos vinis, representa que a prensagem do produto final aconteceu em uma etapa, sem interveção digital. Extraído direto da fita master da gravação. O objetivo é alcançar o som mais fidedigno em relação a gravação original.

No entanto, foi revelado que a MoFi recorreu de um processo de masterização digital. Além de outras questões, essa escolha da MoFi tem relação com a dificuldade que seria convencer a Sony Music, dona dos direitos da fita master, em autorizar que o material fosse executado o número de vezes necessário para a prensagem que a MoFi queria. A execução da fita representa uma deterioração no material, que já tem 40 anos, e que, convenhamos, é um item histórico.

A confirmação de que a MoFi recorreu a um meio digital para obter essa masterização soou como um insulto tremendo para a comunidade dos audiófilos. Primeiro pela ausência de transparência da empresa,  segundo porque o elemento digital é algo que irrita completamente esse público. Por mais que muitos sequer observem a diferença, isso é um insulto.

Fora dessa bolha, dos ouvintes com grande percepção musical, e acesso a equipamentos caríssimos, diferenciar arquivos de audio bem mixados e masterizados é uma missão quase que impossível para a gigantesca parcela da humanidade. Num teste cego, ouvindo as faixas sem saber a origem, fica mais difícil apontar qual é qual.

Mas, novamente, isso aqui é uma discussão altamente de nicho. Posso garantir pra você que para muitas pessoas acaba sendo mais importante a eficiência do algoritmo de recomendação de faixas dos serviços de streaming do que a qualidade final de reprodução.

Para gerações mais jovens que sequer tiveram contato com CD, ou arquivos digitais de alta resolução, até mesmo um mp3 de 256 Kbps é aceitável.

No passado eu já fui um colecionador de CDs, adorava ouvir música por essa mídia. Principalmente por causa do ritual: pegar o CD, colocar no player, e ouvir as músicas olhando o encarte, as letras, as fotos. Isso era legal. Era uma experiência. Esse elemento se perdeu com os serviços de streaming.

No entanto, já faz alguns anos que meu consumo de música é 100% digital. Seja por arquivos que eu tenho no computador, ou pelos serviços de streaming. Eu ainda tenho alguns CDs guardados, mas a vontade de pegá-los para ouvir é nula. Entretanto, confesso que gostei da ideia que viralizou recentemente na internet de algumas pessoas resgatando e modificando o PS1 para usá-lo como um CD Player. Achei interessante. Se eu tivesse um PlayStation 1 parado por aqui ouviria uns CDs por ele. 

Mas seria uma experiência passageira. Em alguns dias estaria de volta a comodidade e qualidade super aceitável dos arquivos digitais.

Na mesma entrevista, Ed diz que o vinil tem uma qualidade que nunca será superada. Ser uma peça de arte. “O digital não é físico, está voando. Não é algo que você bota na parede, como um quadro. Você pode ter uma obra de Kandinsky digital com uma resolução perfeita, mas ainda será uma cópia. Nada tira a importância do drama da obra como ela é. Nesse aspecto, o vinil é soberano”, diz Motta.

Nesse aspecto citado por Ed, todas as mídias físicas são soberanas. É um modo completamente particular de experienciar a música. Muitos ainda cultivam esse ritual. Até mesmo uma parcela dos que não vivenciaram esses momentos em que usar a mídia física era a única saída, curtem viver uma espécie de nostalgia de uma época não vivida.

Mas agora quero saber a sua opinião. Conta aí pra gente nos comentários. Você ainda escuta música em mídia física? Só digital? Ambos? 

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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