Tim Berners-Lee, criador do WWW, não está feliz com o que a web se tornou

O criador do WWW, a World Wide Web, Tim Berners-Lee, teceu comentários sobre a forma como a internet atua na vida das pessoas hoje em dia, destacando o desequilíbrio do poder da web, que precisa de maior controle.

Na década de 1980, ao trabalhar como consultor independente na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, Tim Berners-Lee propôs um projeto baseado no conceito de hipertexto, para facilitar a atualização e o compartilhamento de informações entre os computadores.

Naquela época, a internet era para o uso de governos e, em 1989, a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear tinha o maior ponto de conexão à internet na Europa.

Assim, Tim Berners-Lee percebeu a oportunidade de juntar o hipertexto com a internet.

“Eu tinha apenas que usar a ideia do hipertexto e conectá-lo às ideias de TCP (Protocolo de controle de transmissão) e DNS (Sistema de Nomes de Domínio) e assim surge a World Wide Web”, afirmou o criador do WWW em uma conferência em 2008.

Pela criação da Web, Tim Berners-Lee recebeu várias homenagens e condecorações.

Em 2004, Berners-Lee, ou melhor, Sir Timothy John Berners-Lee, foi condecorado com o título de Cavaleiro do Império Britânico — a maior honraria em relação às artes e ciências —,  pelos seus serviços para o desenvolvimento global da Internet.

No entanto, agora, Tim Berners-Lee, se mostra arrependido, ou, pelo menos, preocupado com o que sua criação se tornou.

Tim Berners-Lee diz que a World Wide Web (WWW) desviou-se do seu caminho original

As críticas feitas ao formato atual da Web, por parte do seu próprio criador, ocorreram no evento ActivateNow, da Fujitsu, em que Tim Berners-Lee indicou que a sua criação se afastou de sua missão original.

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“A visão inicial era que a Web fosse uma ferramenta para qualquer coisa e para todos. O fato de a web ser independente de computadores, redes e linguagens de programação era muito importante. No entanto, precisamos ter certeza de que os usuários tenham uma web que seja, de fato, útil e construtiva, mas há muita coisa que precisamos corrigir”, afirmou Tim Berners-Lee.

This is for everyone #london2012 #oneweb #openingceremony @webfoundation @w3c

— Tim Berners-Lee (@timberners_lee) July 27, 2012

Sobre a situação atual da Web, Berners-Lee comenta sobre o uso de dados dos usuários para propósitos inapropriados por parte de grandes companhias, cujo fim é a manipulação.

De acordo com ele, outro problema “é o fato de que os dados privados são armazenados em plataformas online, isolados em silos, para que assim eu não consiga usá-los”.

O que Tim Berners-Lee quer dizer, com a mudança de rumo da sua visão da Web, é que, atualmente, há uma falta de empoderamento do indivíduo.

A solução, de acordo com o criador da Web

Tim Berners-Lee afirma que a solução para esses problemas é a construção do que ele chama “Pods Sólidos” (Pod, em redes, é um módulo que trabalha em conjunto com outras áreas da computação para entregar serviços de rede).

Além disso, outra solução é o armazenamento descentralizado de dados, que oferece ao usuário o controle sobre quem possui acesso aos seus dados privados.

Ambas as soluções são planos de sua empresa, a Inrupt, que faz parceria com empresas e governos para expandir o acesso aos Pods Sólidos, estabelecendo, assim, sistemas com base em confiança mútua.

Para Tim Berners-Lee, um mundo ideal seria aquele em que o indivíduo possuiria o poder de utilizar todo o espectro de dados, desdes os públicos dados às informações privadas, como resultados médicos, tendo o controle de quais dados são compartilhados e, sobretudo, com quem.

“Quando as coisas são feitas com base na confiança, o usuário irá, assim, compartilhar de maneira mais empoderada. Eles irão compartilhar seus dados não apenas com médicos, mas também com pesquisadores pesquisando sobre o câncer, por exemplo. É um sistema, portanto, baseado em economia intencional, gerado pela intenção da pessoa que deseja fazer determinadas coisas”, explicou o criador da Web.

Por fim, além de criticar sua criação, Tim Berners-Lee afirmou que já chegou a hora dos dispositivos móveis, como celulares e tablets, começarem a operar em função dos seus donos, em vez de servirem aos seus fabricantes ou aos desenvolvedores de seus sistemas operacionais. 

Tim Berners-Lee: inventor arrependido ou não?

Após suas declarações, Tim Berners-Lee entra no rol de inventores arrependidos, junto de Albert Einstein, que assumiu seu papel indireto na criação de armas nucleares. Outros nessa lista incluem Mikhail Kalashnikov, que criou o fuzil AK-47; e Anna Jarvis, a criadora do Dia das Mães. Essa última repudiou veementemente o sentido comercial associado a data, que, afinal, foi criada para homenagear o falecimento de sua mãe.

Além disso, essa categoria reúne o criador de uma das coisas mais chatas da Internet: os anúncios pop-up — o que, portanto, está diretamente ligada à criação de Tim Berners-Lee.

Aliás, o criador desse sistema irritante, Ethan Zuckerman, escreveu um artigo debatendo a forma como a publicidade se tornou o modelo de negócios padrão da Internet. Ele se desculpou por sua criação insuportável. Leia o texto aqui (em inglês).

No entanto, diferentemente dos inventores citados acima, Tim Berners-Lee tem uma visão otimista sobre o futuro de sua criação, embora a escala dos problemas, citados por ele no início deste texto, aumentem cada vez mais.

Berners-Lee acredita que, com o amadurecimento da Internet, as coisas se tornarão mais colaborativas e o espaço online será construído tendo em vista os interesses de cada indivíduo.