Como o Twitter morreu em 2023 (e como o X parece seguir o mesmo caminho)

Como o Twitter morreu em 2023 (e como o X parece seguir o mesmo caminho)

O ano de 2023 foi marcado por diversos acontecimentos importantes no mundo das redes sociais e aplicativos, e um deles foi, sem dúvidas, a morte do Twitter e do velho e bom passarinho azul.

Essa morte também significou um nascimento, nesse caso do X, a nova plataforma de Elon Musk que chegou para substituir a antiga, mas que parece apenas se manter em um caminho ladeira abaixo. Vamos relembrar e entender melhor como isso aconteceu durante os últimos meses.

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Elon Musk e uma visão nada positiva

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No momento em que Elon Musk assumiu o controle do Twitter, muitos usuários entenderam e previram que a plataforma passaria por mudanças drásticas. E a maioria não estava nem um pouco otimista quanto a isso, antecipando a morte da rede social de 17 anos.

Não era apenas uma “picuinha” com o empresário, era uma projeção de que ele tomaria decisões e traria medidas para reduzir os custos e que isso teria como consequência alguns danos à plataforma e principalmente instabilidade para os seus usuários.

Isso realmente acabou acontecendo, mas não de forma drástica e rápida como muitos esperavam. Musk sempre surpreende de alguma forma, e nesse caso ele conseguiu surpreender ao matar o Twitter de forma lenta. E até tediosa, de certa forma.

Entre os seus principais erros, ele conseguiu aos poucos tornar o Twitter cada vez mais inútil para o público que dependia da plataforma para ter informações em tempo real. Além disso, usuários que não estavam dispostos a pagar foram aos poucos podados de suas conversas, dando destaque àqueles com seus checks azuis e por fim renomeando a empresa e matando o seu símbolo.

É preciso ainda citar a abertura de portas para pessoas do tipo extremistas, nazistas reais, e até mesmo antissemitas. E isso foi feito tão abertamente e de forma tão escancarada que resultou no abandono em massa de diversos anunciantes importantes (que ainda restavam), além de muitos usuários também.

Hoje em dia, visitar o site do Twitter serve apenas para lembrar o que ele um dia foi e notar o quanto o presente é apenas uma memória distante do que ele foi um dia.

Uma mudança sutil, mas que marcou o começo do fim

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É difícil definir um momento exato de quando as coisas começaram a dar errado. Muitos diriam que isso aconteceu quando Elon Musk entrou na sede do Twitter carregando uma pia há 14 meses. Porém, o peso das decisões só começou a ser sentido mesmo cerca de 3 meses depois.

Um momento de destaque foi quando Musk decidiu de repente proibir aplicativos de terceiros na plataforma e trancar a sua API em uma jaula onde apenas uma grande quantidade de dinheiro poderia abrir suas portas.

O fato do Twitter ser uma plataforma praticamente aberta sempre tinha sido uma vantagem em relação a outros concorrentes. Com isso, pesquisadores tinham ferramentas para entender melhor e acessar a história das conversas públicas na plataforma. Além disso, também permitia que desenvolvedores pudessem criar aplicativos sobre ela e para ela. Pode parecer pouco, mas acabou gerando um ecossistema bem robusto dentro do Twitter.

Muitos desses aplicativos eram populares e usados por diversos usuários, como é o caso do Tweetbot e do Twitterific. Eles acabaram tendo ainda um papel bem importante na definição da cultura do Twitter.

Foram esses aplicativos de terceiros que popularizaram o termo “tweet”, e até mesmo o logotipo do pássaro do Twitter. Logo no começo, quando a plataforma ainda não tinha uma versão para dispositivos móveis, foram aplicativos de terceiros que deram o primeiro passo nesse caminho e definiram o padrão de como o aplicativo do Twitter seria.

Na verdade, esses aplicativos de terceiros foram pioneiros em diversos recursos que se tornaram importantes na plataforma, como a postagem de fotos e vídeos embutidos e o gesto de puxar a página para atualizar.

Com o passar do tempo a própria plataforma foi trazendo muitos desses recursos nativos e esses aplicativos se tornaram menos proeminentes, mas ainda assim foram importantes para moldar a plataforma e poderiam continuar fazendo isso.

O mesmo acontece com sua API aberta e disponível para todos. Isso fazia com que o Twitter pudesse ter um papel essencial na formação da cultura online, já que fornecia um fluxo alto e constante de dados para pesquisadores. As conversas que aconteciam na plataforma poderiam alimentar diversos tipos de estudos, até mesmo de saúde pública.

Porém, quando Musk fechou a API e começou a comercializá-la, ele já deixou claro que sua intenção não era nenhuma além de lucrar.

Embora não tenha sido a mudança mais significativa do Twitter nem de longe, ainda assim mostrou desde o começo o perigo da alienação de comunidades influentes como um sinal do que estava prestes a acontecer.

A chegada do check azul e mais um fiasco

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Mas, se por um lado tivemos a comercialização da API do Twitter como uma decisão mais sutil (principalmente para os usuários comuns), por outro tivemos a chegada do que seria uma explosão um tanto mais barulhenta: a destruição do sistema de “verificação” na plataforma.

Não que esse sistema fosse perfeito, claro, mas antes ele funcionava diante de uma premissa que pelo menos fazia sentido. Essa premissa era de que uma conta só recebia o selo de verificada quando a empresa tinha certeza de que pertenciam a uma pessoa ou organização real e que elas tinham algum tipo de importância ou relevância.

Dessa forma, Musk decidiu mudar tudo, apresentando um novo esquema de verificação paga no ano passado que pecava justamente nessa premissa, principalmente na mais importante que era a verificação da identidade.

Inicialmente isso acabou passando despercebido, mas esse ano as consequência se mostraram mais palpáveis, provando o quanto esse novo tipo de verificação era falho e sem sentido. Isso porque, como já era de se esperar, surgiu uma onda de contas spammers, golpistas se fazendo passar por instituições ou outras pessoas importantes, e até mesmo os súditos extremistas de Musk, todos com o selo azul, tendo destaque na plataforma e ganhando vantagens e regalias.

Isso porque essas contas pagas tinham prioridades nas respostas e nos resultados das pesquisas no Twitter, independente da sua real relevância, apenas por ter pago pelo selo azul. Isso já foi prova viva do quanto a plataforma estava se tornando cada vez menos relevante e cada vez mais inútil.

Além do impulso algorítmico, o selo azul pago ainda garantia a promessa de uma possível parcela da receita publicitária, o que acabou incentivando o pior tipo de isca de engajamento.

O resultado? Uma onda de spam inútil até mesmo nas linhas do tempo mais curadas. E pior: golpes dessas contas falsas principalmente com vítimas que tentavam entrar em canais de atendimento ao cliente verdadeiros.

O X marca a morte do Twitter

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Mas, se formos levar de fato ao pé da letra, o momento em que o Twitter morreu de verdade aconteceu em julho, quando Elon Musk anunciou que a empresa mudaria de nome e passaria a se chamar X. Além do nome, ele também mudou o logotipo, matando o passarinho azul, e tudo o que estava associado a ele antes.

(Ou ao menos tentou, porque até hoje é fácil encontrar textos e artigos se referindo ao X como “antigo Twitter”).

A escolha da letra X aconteceu simplesmente porque Musk gosta dela e já tinha outros produtos ligados a ela. De acordo com a CEO Linda Yaccarino “a reformulação representou realmente uma libertação do Twitter”.

Embora ele afirme que é um passo para criar um “aplicativo para tudo”, no final é apenas uma forma de se livrar das expectativas e normas estabelecidas anteriormente para o Twitter.

Quebrar a verificação, cobrar dos usuários privilégios de postagens, tornar histórias de notícias ilegíveis, tornar links para sites concorrentes mais vagarosos, destacar contas propagadoras de ódio e teorias da conspiração. Isso tudo não tem nada a ver com o Twitter, mas no X é apenas mais uma terça-feira normal.

Ainda não se sabe se Musk de fato vai conseguir transformar o X em um “aplicativo para tudo”, até porque muitas das novidades e recursos implementados para isso nos últimos meses como compras ao vivo e agregar listagens de empregos não pareceram interessar muitos usuários.

Mas uma coisa é certa, ele conseguiu moldar a plataforma à sua imagem.

Musk conseguiu, praticamente sozinho, acabar com as chances da plataforma e agora acabou ainda com o que restava do negócio publicitário do Twitter. Isso aconteceu recentemente quando a plataforma impulsionou uma teoria da conspiração antissemita e mostrou anúncios próximos a conteúdos pró-nazistas, o que fez com que seus maiores anunciantes encerrassem a parceria e largassem a plataforma.

Em resposta aos anunciantes, ele naturalmente respondeu com um “vão se foder”.

E a perda não vem apenas da parte de anunciantes. A verdade é que muitos usuários estão abandonando a plataforma por entender que ela está cada vez mais tóxica. Com isso, a infraestrutura do X vem caindo constantemente, e nem mesmo os novos recursos aleatórios estão conseguindo mudar esse cenário.

Enquanto isso acontece, os concorrentes acabam se fortalecendo. Um exemplo é o Threads, da Meta. Lançado esse ano e liberado para a Europa há poucos dias, ele se mantém em ascensão, ficando em quarto lugar na lista de aplicativos mais baixados da Apple esse ano mesmo tendo sido lançado já na metade dele.

Já o X não entrou na lista.

Fonte: engadget

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