Bill Gates diz que Steve Jobs “enfeitiçava as pessoas”

Bill Gates diz que Steve Jobs “enfeitiçava as pessoas”

Nas últimas semanas, Bill Gates concedeu duas entrevistas bem interessantes. Na primeira, para a empresa de investimento Village Global, o magnata declarou que a derrota da Microsoft para o Android, o fracasso em construir um ecossistema móvel realmente competitivo, foi seu maior erro. Já no segundo bate-papo, dessa vez para o programa “Fareed Zakaria GPS”, realizado ontem (7), na CNN, Gates relembrou o seu rival/amigo, Steve Jobs, o definindo como um “feiticeiro de pessoas”.

Além do tremendo legado de ambos para a história da tecnologia, Bill Gates e Steve Jobs são excelentes personagens, uma trajetória construída entre confrontos, parceria e risadas. Dentre as principais características de Jobs, Bill menciona na entrevista a capacidade que ele tinha de “enfeitiçar pessoas”, que também pode ser definido como o “campo da distorção da realidade”, um tremendo poder de convencimento, digno de um às do marketing.

Gates também mencionou que não encontrou ninguém que pudesse rivalizar com Jobs em termos de escolher talentos, motivar essas pessoas, além de ter um tremenda capacidade de determinar o que é bom ou ruim no quesito design. Essa declaração está alinhada com outra reflexão que Bill fez anos antes, em 2013, durante uma entrevista ao apresentador Charlie Rose, da CBS. “Nós fizemos muitos tablets na Microsoft, muitos tablets … e bem antes da Apple! Mas foi ele (Steve Jobs) quem conseguiu colocar corretamente cada peça do quebra-cabeça “. Graças a essa compreensão inata de design e ergonomia.

Bill Gates também reconhece que Steve Jobs era uma das poucas pessoas que podia transformar uma empresa à beira da falência na corporação mais valiosa do mundo, citando o caso da Apple que estava quebrada no início dos anos 90, e retomou o caminho do crescimento e da inovação quado Jobs voltou, assumindo o comando em 1997, permanecendo até 2011, ano de sua morte.

Essa capacidade de transformar o ambiente, passa por essa sua característica de enfeitiçar as pessoas à sua volta, que Gates se refere. Não apenas um feitiço para convencer potenciais clientes a adquirir um produto, um feitiço da porta pra dentro, uma tremenda motivação para que pessoas-chave no desenvolvimento lutassem pela perfeição.

Evidentemente que Steve Jobs também tinha uma série de defeitos, como qualquer um, Gates relembra que em diversas ocasiões ele era tremendamente arrogante, um verdadeiro babaca, nas palavras do criador do Windows.  Porém mesmo com seus erros, ele acabou acertando. Gates cita como erro o computador NeXT Cube, lançado em 1988, período que Jobs estava fora da Apple, buscando se reinventar, após se sentir traído pela empresa que ajudou a fundar.

Há 20 anos, Microsoft investia US$ 150 milhões na Apple e salvava a companhia de Steve Jobs da falência

 

Mesmo sendo considerado um revés, Gates diz que o lançamento do NeXT, mesmo sendo um “fracasso miserável e ridículo”, conseguiu hipnotizar as pessoas. Mais que isso: foi com a aquisição da NeXT pela Apple em 1985, por US$ 429 milhões, que Jobs retornou para gigante de Cupertino, primeiro como consultor e depois como um CEO que se tornaria emblemático.

O tal “feitiço” de Jobs poderia ser bom, mas não o suficiente para atingir Gates. O filantropo diz que ele também se via como um feiticeiro, menos efetivo que Steve, mas suficiente para ter uma imunidade.

Jonh Sculley, CEO da Apple entre 1983-1993, o maior desafeto da carreira de Steve Jobs, declarou certa vez que a versão 1.0 de Jobs, a qual ele conviveu diretamente, era excelente para ver o futuro do mundo e a convencer todo mundo que sempre estava certo, mas o outro Steve, aquele que assumiu a liderança da Apple em meados dos anos 90, tinha uma nova abordagem, bem mais produtivo e com refinamento na capacidade de gerir e entender pessoas. Esse amadurecimento essencial para a Apple voltasse a crescer.

Gates também compartilhou de um lado tirânico, uma forma menos amistosa em gerir pessoas. Na entrevista ele reconhece que nos primórdios da Microsoft o ambiente era realmente muito severo. “Éramos um grupo de pessoas auto-selecionadas, que em sua maioria era homens, admito, e, sim, éramos muito duros uns com os outros, e acho que às vezes isso tenha ido longe demais”, disse Bill Gates na entrevista.

Paul Allen, cofundador da Microsoft, que faleceu no ano passado, chegou a declarar em 2011 que a empresa era um ambiente “estressante”, em grande parte pelo estilo de Gates.

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Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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