Em abril de 2022, a Intel, que é um dos membros fundadores da Alliance for Open Media, liberou a versão 1.0 do AV1, o seu codec de vídeo que promete revolucionar o mercado de streamings. Inclusive, a Netflix já está testando o codec desde 2020 no Android. Outra Big Tech que começou a testar o AV1 há tempos foi a Microsoft, implementando-o no Windows 10 também em 2020.
Mas, afinal de contas, o que é esse tal codec AV1? Por que ele promete ser tão importante para o streaming? Neste artigo, nós iremos explicar tudo o que você precisa saber sobre o codec AV1. Além disso, iremos explicar as principais dúvidas, tais como o que é codec, quais os concorrentes do AV1, quais as vantagens dele e muitas outras informações.
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Antes de mais nada, o que é codec?
O termo Codec deriva de duas palavras: Codificação e Decodificação. Isso significa que os arquivos de áudio e vídeo precisam ser codificados e depois decodificados por um software compatível. Como assim? Ainda não ficou claro para mim.
Pois bem, vamos exemplificar. Imagine que você gravou um vídeo em seu celular. Se não existissem codecs, um simples vídeo caseiro iria ocupar uma boa parcela da memória do dispositivo. No entanto, o codec chega para comprimir esse vídeo, tornando-o menor e mais fácil de compartilhar. Cada codec disponível no mercado levou anos para ser desenvolvido. Ele contém complexos algoritmos de compressão de dados.
O processo de compressão do arquivo de áudio e/ou vídeo é chamado de codificação. O codec pega vários elementos do arquivo e os codifica, fazendo com que apenas softwares compatíveis sejam capazes de decodificar (ou entender) o conteúdo do arquivo. Alguns exemplos são: VLC, Windows Media Player, iTunes e outros. Os métodos de codificação variam de codec para codec.
Alguns comprimem tanto o conteúdo que ele chega a perder qualidade. Outros codecs já codificam apenas o necessário, mantendo a qualidade mas não diminuindo tanto o tamanho. Já outros fazem isso de modo mais inteligente, entregando um arquivo com boa qualidade e tamanho razoável.
O que são codecs Lossy e Lossless
Ao estudarmos os codecs um pouco mais a fundo, descobrimos que existem, basicamente, 2 tipos: lossy e lossless.
Os codecs lossy são aqueles que reduzem o tamanho final do arquivo. Obviamente que para isso eles reduzem a qualidade do áudio e vídeo. É claro que os codecs lossy mais usados ainda mantêm um bom nível de qualidade visual e sonora. Mas existem outros que diminuem a qualidade drasticamente, tais como o famigerado RMVB. Lembro de ter assistido muitos episódios de Naruto pixelados por que baixava em RMVB…
Os codecs lossless, por sua vez, preservam a qualidade original do arquivo. O efeito negativo, no entanto, é que os arquivos ficam gigantes! Para você ter uma ideia, um disco Blu-Ray possui cerca de 50 GB de dados. E o primeiro vídeo em 4K do mundo (linkado abaixo) possui apenas 2 minutos de duração e pesa incríveis 160 GB!
E se você pegar um filme em Full HD de mais ou menos 2 horas que utiliza um codec lossless, seu tamanho ficaria entre 410 GB e 420 GB. Haja disco rígido para salvar filmes desse tamanho. E nem preciso dizer o óbvio: codecs lossless são inviáveis para plataformas de streaming, como Netflix e YouTube.
O que é o codec AV1?
Pois bem, feita essa introdução inicial, vamos explicar agora o que é esse tal de codec AV1. O AOMedia Vídeo 1 foi criado por um consórcio de empresas que formam a Alliance for Open Media. Este consórcio é formado por empresas como a já citada Intel, mas também Amazon, Apple, Google, Microsoft, NVIDIA e Samsung.
A Alliance for Open Media foi criada para suprir a necessidade de se ter padrões livres de royalties e que possam ser usados gratuitamente por qualquer empresa. Sendo assim, o codec AV1 é royalty-free (falarei mais sobre isso à frente). Dessa forma, o compartilhamento de conteúdo audiovisual na internet será mais barato e eficiente.
Os codecs atualmente usados para distribuição de vídeos na internet não são royalty-free. Portanto, as empresas que produzem os materiais precisam pagar uma taxa para poder usar os codecs. Alguns exemplos são o AVC/H.264 e o HEVC/H.265. Então, uma empresa como a Netflix repassa para o consumidor, no preço da assinatura, o valor que ela paga para usar tais codecs proprietários.
Além disso, a criação de um novo codec exige muito tempo e dinheiro para pesquisa e desenvolvimento. Portanto, formar uma aliança de empresas ajuda a diminuir o tempo de desenvolvimento, bem como amortizar os custos com P&D.
AVC e HEVC atualmente dominam o mercado
Não há dúvidas de que o codec AV1 é promissor. Mas, atualmente, quem “manda” no mercado são os codecs AVC/H.264 e HEVC/H.265. E o principal motivo para isso é a versatilidade desses codecs.
Ambos podem ser usados para vídeos em HD, Full HD e até mesmo 4K. Eles podem atuar tanto como codecs lossy quanto como codecs lossless. Tudo depende da configuração que você definir na hora de converter os arquivos. E aqui mora outro grande trunfo dos codecs AVC e HEVC.
O usuário consegue alterar diversos parâmetros, tais como taxa de bitrate, qualidade de imagem, qualidade do áudio e assim por diante. Portanto, na hora de converter eu posso configurar os parâmetros do vídeo do jeito que eu quiser.
Quais as vantagens do AV1 frente aos demais codecs?
A principal vantagem do AV1 frente ao AVC/H.264 e ao HEVC/H.265 é sua eficiência de compressão. Estudos indicam que o codec AV1 é até 30% mais eficiente na compressão de dados. Ou seja, ele consegue alocar mais conteúdo em menos espaço e ainda mantendo a qualidade atual.
Além disso, o AV1 foi criado para poder fazer streaming de vídeos em ultra-alta definição. Estou falando de conteúdos em 8K (7680 x 4320 pixels), transmitidos a 120 FPS (frames por segundo) e com taxas de bitrate de até 800 mbps. E nem falei da profundidade de cor. O padrão suporta variações de cores em 8-bit, 10-bit e 12-bit. É, literalmente, qualidade de cinema! Ou seja, no futuro, quando o AV1 já estiver bem difundido e tivermos também hardware adequado, iremos assistir uma live na Twitch em 8K e sem travamentos.
Outra vantagem de se adotar o codec AV1 está no fator financeiro. Como já explicado no tópico anterior, o AV1 é royalty-free. Portanto, as empresas não precisam pagar para compactar e decodificar os arquivos audiovisuais. O mesmo não acontece com os codecs AVC/H.264 e o HEVC/H.265.
Por fim, a velocidade de transferência de arquivos codificados em AV1 é maior do que os codificados em AVC ou HEVC. Mesmo que você tenha uma largura de banda restrita, a velocidade de transmissão será boa em AV1. Mas existem pontos negativos.
Problemas atuais com o codec AV1
Mas nem tudo são flores para a Alliance for Open Media. O codec AV1 é 30% mais eficiente que os demais codecs. No entanto, ele leva muito mais tempo para compactar/codificar os arquivos. Nesse pontos, os codecs AVC/H.264 e o HEVC/H.265 ganham de lavada!
É justamente esse o motivo pelo qual os codecs AVC e HEVC são amplamente usados atualmente. Eles são rápidos para compactar e entregar o vídeo pronto para ser compartilhado. Esse é o desafio atual da Alliance for Open Media: encontrar o balanço perfeito entre eficiência e velocidade de compressão de dados.
Além disso, ainda há outros empecilhos que têm a ver com hardware, compatibilidade e oferta de conteúdos. Atualmente, a maioria dos usuários não possuem setups preparados para conteúdo em 4K. Estou falando de monitores, televisores, computadores, smartphones e tablets capazes de exibir conteúdo em 4K. O mercado ainda está em seu começo. Quando falamos em 8K, então, o mercado nem começou!
Além disso, as grandes empresas de mídia ainda estão implementando e fazendo testes com o codec AV1. É o caso do Vimeo, Facebook e Twitch. Então ainda vai demorar algum tempo para que o codec esteja completamente difundido. E isso provavelmente não acontecerá antes de 2025.
Conclusão
Portanto, podemos concluir que o codec AV1 é sim o futuro para o streaming (especialmente streaming de vídeos). O codec possui alta taxa de compressão, mantém uma alta qualidade dos arquivos e é livre de royalties.
Porém, o reinado do AVC e do HEVC ainda vai durar alguns anos. É preciso que as plataformas e empresas tenham compatibilidade com o codec, que os usuários tenham hardware adequado e uma conexão de internet rápida o suficiente para isso.
Mas é apenas uma questão de tempo.
Fonte: AOMedia