Os emuladores de videogames são um tipo de emulador que permitem que um computador simule o software de um console de videogame e execute os jogos.
Geralmente, os emuladores de videogames são popularmente relacionados à pirataria e outras práticas ilegais, mas existem características positivas nesse tipo de prática.
Neste artigo, vamos te explicar o que são e como funcionam os emuladores de jogos, passando pela origem dos emuladores e abordando as polêmicas relacionadas.
A Nintendo, certamente, vai adorar este artigo.
Na computação em geral, um emulador é um hardware ou software que permite um computador (chamado host) a agir como outro sistema computacional (chamado guest).
Tipicamente, um emulador habilita o sistema host a rodar softwares ou dispositivos exclusivos do outro sistema. Portanto, a emulação significa a capacidade de um programa de computador em um dispositivo eletrônico de emular, ou imitar, outro programa e dispositivo.
A maioria das impressoras, por exemplos, são desenvolvidas para emular as impressoras LaserJet da HP por muitos softwares serem criados para as máquinas de impressão dessa empresa.
Há três tipos básicos de emuladores: os de software, os de hardware e os sistemas híbridos.
Os emuladores de videogames são puramente de software, ou conhecidos como emuladores “genuínos”.
Origem dos emuladores de videogames
Emuladores, que fazem a conversão de programas que permitem executar jogos em PCs e em outros sistemas se tornaram fundamentais para os games.
Vários fatores contribuíram com o estabelecimento do forte mercado de emuladores de videogames, como o crescimento da internet e o surgimento da tecnologia P2P.
Além disso, um elemento crucial foi a postura das fabricantes de console ao ignorar a demanda pelo acesso a jogos antigos, resultando nos emuladores de videogames como alternativa.
Em meados dos anos 1990, o avanço da computação pessoal (PC) chegou ao ponto em que houve a possibilidade técnica de replicar o comportamento de alguns dos primeiros consoles de videogames através de softwares.
Assim, começaram a surgir os primeiros emuladores de uso não comercial e sem autorização das fabricantes de videogames.
Contudo, o primeiro emulador de videogames da história foi criado por um engenheiro da Sega chamado Yuji Naka.
Em 1991, Yuji Naka desenvolveu o primeiro software para emulação de jogos de videogames que executava jogos do Nintendinho no Mega Drive, quatro anos depois do lançamento do console da Sega. No entanto, nem Yuji Naka e nem a Sega lançaram o emulador publicamente.
Ao ser perguntado sobre a veracidade da informação, em uma entrevista em 2004, Naka confirmou a criação do emulador.
“Meu Deus! Como vocês sabem disso? Bem, é verdade, eu realmente criei [o emulador]. Eu fiz isso para fins de pesquisa. O emulador rodava jogos como Dr. Mario, embora não funcionasse perfeitamente. Era algo que me divertia naquela época”, afirmou Yuji Naka.
Assim como o emulador criado por Yuji Naka, os primeiros emuladores de videogame não funcionavam perfeitamente, emulando parcialmente determinados sistemas.
Como funcionam os emuladores?
Para criar emuladores de videogames, é necessária a prática de engenharia reversa no sistema operacional do console, ou redefinir os valores da BIOS do console.
Nos primórdios dos emuladores de videogames, havia um impasse: poucas fabricantes publicavam as especificações técnicas de hardware dos seus consoles, obrigando os programadores a deduzir o funcionamento do console através da engenharia reversa.
Para executar jogos em um emulador, é necessária uma cópia do arquivo original do jogo, que é geralmente armazenada no formato ROM (Memória somente de leitura).
Após isso, o código-fonte contido no cartucho ou CD-ROM do jogo deve ser adquirido através de um processo de extração da ROM. Existem Patches que facilitam a modificação do arquivo ROM caso haja problemas de compatibilidade entre o arquivo e o computador.
Para consoles que utilizam mídias de disco, como o PlayStation, os dados dos jogos são baixados como uma imagem ISO utilizando um driver óptico.
Leia também: Steam Deck consegue rodar jogos de vários consoles em emuladores
Existem vários métodos de emulação. Por exemplo, é possível criar um dispositivo com hardware idêntico a algum console especifico, mas também é possível criar um programa que utiliza o hardware do computador para agir como o videogame.
O último método pode ser extremamente difícil, até mesmo em um PC com especificações superiores às do console.
Portanto, demanda muito esforço desenvolver um emulador que rode sem falhas. Por isso, a maioria dos emuladores de videogames extremamente funcionais são de consoles antigos, embora existam alguns das últimas gerações que reproduzam jogos com um bom nível de desempenho.
A forma como os emuladores de videogames são desenvolvidos, através da engenharia reversa, representa um importante papel em determinar a legalidade do software.
No entanto, antes de chegarmos ao debate envolvendo a legalidade dos emuladores, vamos comentar sobre o motivo do surgimento dos emuladores de videogames.
É necessário falar sobre esse assunto, pois envolve a criação do primeiro emulador funcional e a subsequente perseguição por um dos maiores nomes da indústria de games.
Tiro no pé
Embora a indústria de games seja relativamente recente, já é algo conhecido o fato de que cada console é desenvolvido para se tornar obsoleto. Ou seja, durante o último ano do seu ciclo de vida, as empresas lançam uma nova geração de console e os usuários tendem a migrar para o novo videogame.
Antes do advento dos emuladores de videogames, as fabricantes de console controlavam a cadeia de valor da indústria.
Cadeia de valor representa o conjunto de atividades desempenhadas por uma organização desde as relações com os fornecedores e ciclos de produção e de venda até à fase da distribuição final.
Sendo assim, as fabricantes de console determinavam quais jogos eram produzidos para os seus sistemas e, assim, detinham um rígido controle sobre o acesso dos consumidores a esses jogos.
As três grandes fabricantes de consoles: Sony, Nintendo e Microsoft, controlam a cadeia de valor. Com isso, os estúdios e as distribuidoras de jogos não possuem o direito de produzir títulos para o console da fabricante sem o consentimento da mesma.
No entanto, a tendência de evolução dos PCs, em relação aos consoles, criam uma janela de oportunidade para o surgimento dos emuladores de videogames. Portanto, a introdução dos emuladores estraçalhou a cadeia de valor imposta pelas fabricantes de console.
Outro fator importante para a expansão dos emuladores de videogames era o modelo de obsolescência programada por parte das fabricantes de console. A cada cinco anos, as fabricantes lançavam um novo console, tornando o produto da geração anterior, bem como seus jogos, automaticamente obsoleto.
Emuladores representavam uma ameaça aos lucros
Como dito acima, o modelo de obsolescência programada obrigava os consumidores a comprar o console da nova geração para jogar os novos jogos. Contudo, os emuladores de jogos resolveram esse problema ao permitir que os gamers jogassem tantos os jogos antigos quanto os mais novos de seu console, mas também de outras fabricantes.
Além disso, outro modelo de negócios da indústria dos games foi crucial para a popularização dos emuladores. Na verdade, esse é o momento em que os emuladores de videogames começam a ser vistos como ameaça aos lucros das empresas.
Tradicionalmente, as fabricantes de console operavam em um modelo que se baseava em vender o console por um preço mais barato e recuperar o investimento através da venda dos jogos.
Os emuladores de videogames, em contrapartida, permitiam que os usuários baixassem as ROMs dos jogos de maneira gratuita, resultando na perda do lucro em venda de jogos pelas fabricantes.
Com os emuladores, os consumidores não precisariam comprar os consoles, ou os jogos, tendo em vista ser possível baixar tanto os jogos quanto os softwares gratuitamente.
Os primeiros sites para download de ROMs começaram a surgir em 1997, pouco antes do lançamento do primeiro emulador funcional, que abalou as estruturas da Nintendo.
Antes de falar sobre esse emulador, é importante ressaltar que, na segunda metade da década de 1990, o poder de processamento dos PCs chegava a ser 20 vezes maior que o do Nintendo 64.
E é sobre o Nintendo 64 que iremos falar agora.
Ironicamente, a Nintendo foi o primeiro alvo
Nos primórdios da emulação, os consoles mais estudados eram os da Nintendo, como, por exemplo, o NES, o Super Nintendo e o Game Boy.
A criação do primeiro emulador funcional, SNES9X, começa em 1996, seis anos após o lançamento do console no Japão.
O lançamento de emuladores de videogames, geralmente, ocorre durante o quarto ano do ciclo de vida do console. Essa timeline é importante, pois converge exatamente com o crescimento do poder de processamento dos PCs.
Assim, os desenvolvedores de emuladores de jogos possuem níveis de desempenho necessários para refinar os seus softwares.
Um exemplo é o caso do Nintendo 64, que no seu quarto ano de vida tinha cinco vezes menos capacidade de processamento que o PC.
Isso culmina no lançamento do UltraHLE, em 1999, um emulador do Nintendo 64 que representa um marco para a comunidade, sendo o primeiro emulador totalmente funcional de um console com seu ciclo de vida ainda ocorrendo.
Com a facilidade de baixar o UltraHLE, bem como as ROMs dos jogos do Nintendo 64, há o nascimento da perseguição da comunidade dos emuladores de jogos por parte da indústria de games.
A Nintendo, portanto, acusou o lançamento do UltraHLE como responsável por reduzir pela metade o seu lucro em vendas de jogos. No entanto, devido a característica de redução de vendas no final do ciclo de vida de um console, não há evidências que comprovem o quão prejudicial o UltraHLE foi para o mercado da Nintendo.
Mesmo assim, esse momento marca a adoção da postura da Nintendo em relação aos emuladores dos seus videogames.
Emuladores de videogames mais populares
SNES9X (Super Nintendo)
como dito acima, a Nintendo foi o principal alvo dos desenvolvedores de emuladores de videogames, que focaram no Nintendinho e no Super Nintendo.
O SNES9X é o fruto desse trabalho, sendo um dos emuladores mais funcionais da história, capaz de rodar todos os jogos lançados para o SNES. Além disso, o emulador conta com vários recursos e é atualizado até os dias de hoje.
Project 64 (Nintendo 64)
O UltraHLE foi extinto pouco tempo após sua criação, mas, ironicamente, um dos emuladores mais populares de todos os tempos também é do Nintendo 64.
O Project 64 é um emulador bastante compátivel com a biblioteca do Nintendo 64, rodando clássicos como The Legend of Zelda: Ocarina of Time e 007: GoldenEye, além de possuir recursos de otimização na resolução dos jogos. Como o Nintendo 64 era um console a base de cartuchos, o Project 64 funciona utilizando ROMs dos jogos.
PCSX (PlayStation)
Para um console consideravelmente antigo, é um grande feito não haver um emulador que rode perfeitamente os seus jogos, como é o caso do PCSX, para o PlayStation 1.
Embora conte com recursos interessantes e uma vasta compatibilidade com a biblioteca de jogos do primeiro console da Sony, o PCSX é um pouco complicado de usar.
O emulador demanda a instalação de plugins de vídeo e da BIOS do PlayStation para funcionar corretamente. Após isso, é possível obter uma experiência interessante com o emulador.
PCSX2 (PlayStation 2)
A opção mais adequada para emular jogos do console mais vendido da história é o PCSX2. Compatível com a maioria dos jogos do PlayStation 2, o PCSX2 continua sendo atualizado, mas, assim como o PCSX, é necessária a instalação de plugins de vídeo e da imagem da BIOS do PS2 para utilizar o emulador.
CEMU (Wii U)
Quando o espetacular The Legend of Zelda: Breath of The Wild chegou ao mercado, em 2016, muitos gamers que não possuíam um Nintendo Switch ou um Wii U descobriram uma forma de jogar essa obra-prima.
Foi através do CEMU, que emula o sistema do Wii U, que muita gente conseguiu jogar BOTW. Também foi possível jogar pelo PC outros jogos exclusivos da Nintendo, como Mario Kart 8, Splatoon e Mario Galaxy.
No entanto, por ser um emulador de um console relativamente recente, o CEMU não é compatível com todos os jogos do Wii U. Além disso, é necessário configurá-lo corretamente para executar os títulos.
Além dos emuladores citados acima, existem várias opções para outros consoles, como o Mega Drive, o Wii e o Nintendo DS.
O Hardware.com.br não compactua com a pirataria e este artigo tem o objetivo de abordar um assunto relevante do universo da tecnologia.
Debate sobre a legalidade dos emuladores de videogames
Após a expansão dos emuladores de jogos, consequentemente, houve o surgimento do debate em relação à legalidade da prática. De um lado, os fabricantes de console consideram a emulação um crime, enquanto a comunidade da emulação afirma ser algo admirável em termos de programação.
No centro desse debate, há a discussão sobre o uso legal e os direitos de monopólio. Vamos abordar as perspectivas de ambos os lados nesta seção.
A comunidade que utiliza emuladores de videogames afirma que a emulação oferece acesso a títulos antigos aclamados, além de aprimorar a experiência de jogos.
Os fãs de emulação, assim como os desenvolvedores dos softwares, também afirmam que os emuladores não infringem a propriedade intelectual dos fabricantes, uma vez que permite rodar jogos que não estão mais disponíveis no mercado.
Assim, a ‘indústria’ dos emuladores é um setor legítimo desenvolvido como resposta a enorme demanda do consumidor que não foi antedida pelas fabricantes de consoles.
Em contrapartida, as fabricantes de console afirmam que os emuladores de jogos são roubos. A prática da emulação pode ser classificada como pirataria e violação de direitos autorais, pois os emuladores usam os códigos-fonte das empresas sem autorização.
Os desenvolvedores de jogos estão do lado das fabricantes de consoles, afirmando que os emuladores devem ser banidos, pois são um veículo para a pirataria de software.
Para sustentar esse argumento, a indústria de games alega que os consoles possuem chips que previnem a execução de softwares piratas, enquanto os emuladores não possuem nenhum mecanismo de prevenção.
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No início dos anos 2000, ou seja, o auge da discussão sobre a legalidade dos emuladores, especialistas sugerem alternativas para a indústria de games lidar com o fenômeno.
Em um artigo acadêmico de 2003, os pesquisadores atestam o fato de que as redes P2P – que deram lugar ao Torrent na década seguinte – “vieram para ficar”. Portanto, a recomendação era que os fabricantes de console e os estúdios de jogos evitem a postura da indústria fonográfica e do cinema, abraçando a emulação em vez disso.
Três estratégias foram recomendadas para lidar com o problema dos emuladores. Adotar e monetizar a emulação ao desenvolver emuladores para consoles descontinuados, expandir a disponibilidade de jogos ao implementar a retrocompatibilidade e, por fim, proteger a propriedade intelectual ao expandir o portfolio de IPs.
Podemos afirmar, certamente, que a retrocompatibilidade, popularizada pelos últimos consoles Xbox, é um fruto direto da resposta da indústria de jogos à ameaça da emulação.
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Entretanto, uma das empresas que mais combate a emulação, a Nintendo, é a que oferece as piores alternativas, como desastrosa a coleção dos jogos do Nintendo 64 para o Switch.
Fonte: Use of a Game Over: Emulation and the Video Game Industry, A White Paper
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