O mito dos megapixels na câmera dos smartphones

O mito dos megapixels na câmera dos smartphones

Não sei você, mas eu sou um apreciador de peças publicitárias que tiram sarro da concorrência. Enquanto escrevo este artigo me vem à mente inúmeros comerciais antigos da Coca-Cola e da Pepsi, que protagonizaram uma das batalhas mais interessantes e comentadas na história da disputa por fatia de mercado.

Em um desses comerciais, o tom soou tão ofensivo que a Coca-Cola recorreu na justiça e conseguiu suspender a veiculação da peça. O sarcástico comercial do menino usa duas latas da Coca-Cola como degrau para alcançar o botão da Pepsi na máquina de refrigerante.

Esse tom incisivo perdeu tração nos últimos anos, virou algo pontual, e que, às vezes, o ar da graça em publicações nas redes sociais. Como foi o caso da Samsung, que, recentemente, resolveu tirar um sarro da Apple.

 

Pelo Twitter, a gigante sul-coreana resolveu lançar uma provocação sobre a seção de câmeras do iPhone 14, apresentado na semana passada. Uma das novidades que a Apple está oferecendo para essa nova linha é o salto em relação à contagem de megapixels do sensor. A companhia finalmente deu adeus aos 12 Megapixels e está apostando em 48 MP, para os modelos iPhone 14 Pro e Pro Max.

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A Samsung tirou um sarro dessa característica, já que está bem a frente neste quesito. A linha Galaxy S22, na versão Ultra, lança mão de um sensor com 108 MP. Números que chamam atenção, e funcionam como um boa cartada de marketing.

No entanto, vamos esquecer rapidamente esse ponto dos números frios.108 MP x 48 MP. Vamos voltar nosso olhar para o lado prático. Faz sentido essa alfinetada da Samsung na Apple? Bom, em partes, sim, mas o uso prático também mostra que certos números acabam impressionando somente na teoria. Fique comigo neste artigo para entender melhor essa corrida pelos Megapixels na fotografia mobile.

Hardware + Software = o equilíbrio perfeito

Nunca é demais pontuar que a combinação de inovações em termos de hardware unido aos aprimoramentos por software produzem resultados amplamente mais satisfatórios quando comparado a algum produto que fracasse em um dos pontos.

Os smartphones, falando principalmente no quesito audiovisual, não fogem a essa regra. Falar em câmeras para o mundo mobile hoje, não é só comentar sobre números frios da dimensão do sensor, por exemplo, é também se inserir na fotografia computacional, com todos os avanços em IA que essa carga do lado do software contribui, e que preenche lacunas que são deficiências inerentes às dimensões físicas que os sensores dos módulos de câmera dos smartphones podem atender.

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E também tem o próprio lado de aguçar a vontade do consumidor com números que impressionam o grande público. Posso traçar aqui um paralelo com as placas de vídeo. Para muitas pessoas, a quantidade de memória oferecida pela VGA segue como referencial para chegar a conclusão que placa A é superior à placa B. E isso permanecerá por muito tempo, talvez nunca mude.

É o mesmo quando falamos das câmeras dos smartphones. Olhando de maneira ampla, e não apenas tentando capturar os mais iniciados em tecnologia, um aparelho com uma câmera que tenha mais megapixels parece superior ao outro que tem menos.

Ainda mais agora em que os números estão cada vez mais grandiosos. Estamos na era dos smartphones com 50, 64, 108, e, recentemente, chegamos ao patamar de 200 MP. Parece mesmo um motivo de chacota que a Apple, em pleno 2022, lance um aparelho com “apenas” 48 MP.

Esqueça sua devoção ou desgosto pela Apple. As fotos ou vídeos do Galaxy S22 Ultra parecem muito superiores ao do iPhone 14 Pro Max? Em determinados cenários, é provável, que você ache o oposto.

Esse salto na quantidade de megapixels, que a própria Apple abraçou, tem um pé no marketing e um pé no lado real, com base em tecnologia. Já passamos pelo senso de levar o consumidor a ficar embasbacado pelos números, agora vamos para o lado da tecnologia.

Pixels Binning

O que está tornando possível a Samsung, Apple, Xiaomi, Huawei, Motorola, e tantos outros players do mercado, a entregar câmeras com uma maior contagem de Megapixels tem o nome de Pixel Binning.

O pixel binning promove um arranjo, um agrupamento de uma certa quantidade de pixels, que, na prática, entregam um pixel maior, geralmente medidos em micrômetros, ou mícrons ( µm), o que representa ainda mais capacidade para armazenar as informações de luz que passam pela lente.

Você já deve ter ouvido aquele chavão “fotografia é luz”. Certo? Essa maior receptividade fornece uma retenção superior nas informações quando a imagem é registrada, o que representa um melhor resultado em situações de baixa luminosidade, mais detalhes, entre outras coisas.

O pixel binning funciona como uma “gambiarra” para contornar limitações físicas que impedem que os smarphones agreguem um sensor muito maior, similar ao que vemos em câmeras profissionais, por exemplo. Mas, as inovações feitas em hardware e também em software estão tornando os smartphones cada vez mais atrativos para fotos e também para a gravação em vídeo.

A Galaxy S22, na versão Ultra, topo da pirâmide que a Samsung oferece atualmente na linha Galax S, recorre à técnica pixel binning no modo nona-billing. 9 pixels são agregados numa composição, formando um só. O iPhone 14 também usa o pixel binning, no arranjo quad-pixel, combinando 4 pixels para formar um.
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Portanto, ao dividirmos a quantidade total de MP oferecida pelo sensor, 1080 MP, que representa 108 milhões de pixels, por 9, do agrupamento feito pelo pixel billing, em seu modo nona-billing, chegamos aos 12 MP. Essa é a quantidade em megapixels que as imagens são capturadas.

Dessa forma, a Samsung, e outras companhias que utilizam da mesma técnica, conseguem contornar, em certo sentido, limitações do sensor, entregando um resultado mais interessante, e também não consumindo o espaço de armazenamento rapidamente, já que as imagens não estão sendo entregues em 1080 MP e sim em 12 MP.

A Samsung também aposta numa outra tecnologia bem legal que é o Adaptive Pixel. Imagine uma situação de baixa luz, cenário que as câmeras se saem pior, o aparelho consegue capturar uma imagem em 108 MP e uma em 12 MP, depois entra em ação o processamento por software, que mescla as imagens, garantindo mais detalhes. É o uso do 108 MP, e, obviamente, uma contagem maior de pixels no registro, em favor do resultado numa situação necessária.

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Com um disparo bruto, sem nenhum tipo de bypass via software, teríamos uma necessidade ainda maior pelo armazenamento. No iPhone 14 Pro e Pro Max, as fotos capturadas no modo ProRaw, geram arquivos que podem chegar a 80 MB, considerando que o sensor do aparelho tem 48 MP.

Imagine que cada uma das suas fotos, independente do modo capturado, fosse ocupar tudo isso. É completamente inviável, ainda mais considerando o modo de uso da grande maioria das pessoas. E esse é o terceiro ponto dessa discussão.

Você conhece muitas pessoas que imprimem as fotos tiradas com o smartphone? Bom, eu não consigo me lembrar de nenhuma que faça isso com frequência. As redes sociais ocupam hoje o papel do álbum de fotos do passado. É o repositório de momentos. E, quando falamos de redes sociais, um elemento necessário (e irritante) se faz sempre presente. A compressão.

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Por mais que a Samsung, ou qualquer outro fabricante, zoe a Apple, puxando a conversa para números frios, a verdade nua e crua é que, de maneira geral, o iPhone entrega resultados bem mais interessantes para as redes sociais.

Eu uso celular da Samsung, curto os resultados para as publicações nas redes sociais, mas é incontestável que o iPhone sofre menos com a compressão em vídeos. Não é por acaso que boa parcela dos criadores de conteúdo para mídias sociais, e que olham para a qualidade final como um elemento fundamental, utilizam iPhone.

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Por muito tempo criou-se o mito de que a Apple paga ao Instagram para que o iPhone funcione melhor lá. Balela. Temos que voltar novamente para o lado da tecnologia.

O iOS, sistema que equipa o iPhone, tem APIs liberadas para que os desenvolvedores possam trabalhar e otimizar, isso significa que, ao fazer um registro em vídeo, por exemplo, no stories, o app está conseguindo “olhar” tudo o que aquela câmera oferece, e, consequentemente, garante um resultado melhor. 

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No Android o cenário é outro. Cada fabricante tem um modo distinto de lidar com modificações e fatores exclusivos para a sua versão, fator que pode levar o consumidor a escolher um determinado modelo porque se identifica mais com uma interface x e um conjunto de recursos exclusivos.

Esse modo descentralizado, em termos de recursos, que não são padronizados e que não fazem parte da base do Android, resulta em uma qualidade inferior ao modo de câmera do Instagram quando você abre o app e usa alguns dos modos de publicação.

Por isso, uma das recomendações básicas para Android, para quem busca mais qualidade nos stories, é gravar o conteúdo na câmera nativa do aparelho e depois subir para o Instagram. O resultado é sempre superior.

Até mesmo no famoso ranking DXOMark um modelo da geração passada do iPhone consegue se sair melhor do que o carro-chefe da Samsung atual. O iPhone 13 Pro Max, com seus 12 MP,  de 2021, aparece na sexta posição entre os aparelhos com a melhor câmera, enquanto o Galaxy S22 Ultra, com seus 108 MP, lançado em 2022, está na 15ª posição. Uma diferença de 6 pontos entre eles.

Concorde você ou não com este, ou qualquer outro ranking, essa seleção é interessante por mostrar o quão pequena pode ser uma diferença entre aparelhos que, em números absolutos de câmera, parecem tão distantes.

A otimização é o ás desta disputa.

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Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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