O dia em que a Renault lançou um carro em parceria com a Apple

O dia em que a Renault lançou um carro em parceria com a Apple

O escritor alemão Erich Maria Remarque dizia que no desespero e no perigo, as pessoas aprendem a acreditar no milagre, já que, de outra forma, não sobreviveriam.

Na década de 90, a Apple estava na corda bamba, flertando com um possível milagre, mas muito mais convicta do desespero. A beira da falência, a companhia buscou expandir sua marca para outros mercados, na tentativa de capitalizar de outras maneiras. Uma das tentativas foi uma parceria com a montadora Renault, que resultou numa versão do carro Clio que tinha um toque discreto da Apple.

Apple

A parceria entre as companhias aconteceu durante a passagem de Michael Spindler como CEO da Apple. Assim como o autor da frase que abriu este artigo, Spindler era alemão, e estava na Apple desde 1980.

Spindler teve uma excelente passagem como responsável pelo marketing na Europa da Apple, e chegou a comandar o marketing global da companhia. No início dos anos 90 deu o salto definitivo na empresa. Assumiu o posto de CEO em 1993.

Apenas por este recorte histórico, Spindler figuraria na lista dos nomes momentos marcantes que passaram pela Apple, já que ele foi o executivo que assumiu o posto de CEO no lugar de John Sculley, marcado por ser um dos personagens centrais na saída de Steve Jobs da empresa em 1985.

Além dessa sucessão emblemática, Spindler chegou ao posto de diretor-executivo num momento em que ventos desfavoráveis à Apple pareciam não ter fim. Assumiu o posto com um prejuízo de US$ 188 milhões deixado pela administração passada.

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Michael Spindler

Assim que assumiu como CEO, começou uma reestruturação dura e inevitável. Seu primeiro grande movimento foi o corte de 2.500 postos de trabalho. Também deixou de lado projetos que não engrenaram, cortou custos de P&D, e ainda extinguiu benefícios dos colaboradores, como creches e academia gratuita. Apertar os cintos não era uma escolha, era obrigação.

Sob sua administração, a Apple também se viu obrigada – pelas forças das circunstâncias – a ir contra uma de suas características. A empresa resolveu licenciar seu sistema para algumas empresas, gerando alguns clones do Mac. Power Computing, Motorola, Radius e APS Technologis foram algumas que licenciaram o sistema da Apple nesta época.

Conforme relembrado na biografia de Steve Jobs, Spindler tentou até mesmo vender a Apple para a Sun Microsystems, IBM e  HP. As negociações não foram pra frente. Era o desespero em seu maior grau, e o reinado de Spindler ia se esvaindo.

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No último trimestre de 1995, a Apple registrou prejuízo de US$ 69 milhões e demitiu mais 1.300 funcionários. O fim de Spindler na Apple veio pouco tempo depois. Em janeiro de 1996, o executivo foi afastado, e Gil Amelio assumiu.

Foi em meio a esse caos generalizado que chegou ao mercado – somente na Espanha -, essa edição especial do Renault Clio em parceria com a Apple, lançado em 1996.  O veículo não era exatamente o primeiro “carro da Apple” no sentido mais pleno do termo, já que não foi um veículo com uma série de modificações ou decisões de projeto em que a gigante de Cupertino participou de modo representativo. Era mais uma colab singela, que tentava dar um empurrãozinho nas vendas do seu notebook PowerBook 190, lançado em agosto de 1995.

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No entanto, o carro não deixa de ter umas particularidades bem interessantes, tantos em termos práticos, quanto de comunicação. Em termos visuais, o Clio Apple, tinha apenas o logo da Apple na lateral como referência a gigante dos dispositivos.

Aliás, logo este que ainda era na versão mais clássica, a maça colorida, utilizado pela Apple entre 1976 e 1998. Neste link você pode ver mais fotos e detalhes do veículo. 

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Essa estratégia da Renault não era novidade. A empresa utilizou o Clio em diversos outros momentos para promover alguma edição limitada, como o caso do Clio NRJ, de 1990.

Em termos técnicos, o Clio Apple era mais interessante. O automóvel acompanhava um PowerBook 190 e até um celular. Quando os estoques do PowerBook vinculados à campanha acabaram, o carro começou a ser vendid com o notebook Performa 5260.

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Incluir um notebook e um celular fazia parte da estratégia de tentar chamar atenção de um público mais jovem, impulsionado pela campanha de 1995 da Renault, imortalizado pelo acrônimo JASP, Jovenes aunque sobradamente preparados – jovens, mas bem preparados. A campanha vendia a ideia de uma nova geração de jovens capaz de sacudir o mercado de trabalho. E o Clio era a aposta da Renault para esse público.

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O termo JASP continua muito forte para o público espanhol, e ainda representa a ideia de jovens preparados academicamente que ainda procuram reconhecimento profissional.

No banner publicitário, a Renault destacava que o Clio Apple RSi era o primeiro carro com um computador portátil. Poucas unidades foram fabricadas, e após o retorno de Steve Jobs para a Apple o carro, assim como outros projetos mirabolantes da empresa, foram deixados de lado. Além do modelo RSi, com 3 portas, 1.8L e 110cv, a Renault também lançou o Clio Apple na versão S (3 ou 5 portas, 1.4L e 75 cv).

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O banner brincava com o fato do automóvel ter 110 cavalos de potência e o HD do PowerBook ter 500 MB de capacidade.

Entre 2006 e 2007, a Renault apostou novamente em uma parceria com a Apple, com o lançamento do Clio i-Music, que incluía um iPod 5g de 30 GB que ficava próximo ao porta-luvas.

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A tentativa desesperada de 1996 retornará de modo mais estruturado e seguro em algum momento. Segundo a previsão atual da Apple, seu legítimo “Apple Car, deve chegar ao mercado em 2026. Exatamente 30 anos após a primeira parceira com a Renault.

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