Elon Musk x Alexandre de Moraes: entenda em detalhes esse embate

Elon Musk x Alexandre de Moraes: entenda em detalhes esse embate

Desde a última quinta-feira (04/04) há uma tensão crescente entre a a plataforma X/Twitter — na figura do seu dono, Elon Musk — e o Supremo Tribunal Federal (STF). A origem desta tensão foi a divulgação dos assim chamados Twitter Files Brazil, uma série de documentos e exposições que lançam sérias acusações contra as instituições do judiciário brasileiro, incluindo tanto o Supremo Tribunal Federal (STF) como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Esses arquivos supostamente revelam práticas questionáveis e até mesmo atos que os críticos têm categorizado como abuso de autoridade por parte das entidades judiciais mencionadas, colocando em cheque a integridade e a autonomia das mesmas. As reações a essas alegações não tardaram a se espalhar por todo o espectro político e social do Brasil, onde cada lado procura defender seus interesses e perspectivas.

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Até o momento, Elon Musk tem utilizado sua plataforma para expressar abertamente seu descontentamento com o que ele percebe como interferências injustas na liberdade de expressão e na condução transparente de processos democráticos no país. Do outro lado temos o judiciário brasileiro, especialmente na figura de Alexandre de Moraes, que ameaça banir o Twitter do país.

Nos próximos parágrafos você entenderá, na ordem cronológica, como começou esse atual embate entre o magnata Elon Musk e o ministro Alexandre de Moraes.

Twitter Files Brazil

Editorial: “Twitter Files Brazil” reafirmam excessos do TSE e outras cortes | Gazeta do Povo

No dia 3 de abril de 2024, o jornalista e ativista americano Michael Shellenberger chamou a atenção ao postar uma série de tuítes com informações da versão brasileira dos Twitter Files. Para quem não sabe, o Twitter Files, iniciado em dezembro de 2021, expôs práticas internas do Twitter através de documentos acessados pelos jornalistas Bari Weiss e Matt Taibbi, fornecidos por Elon Musk. As revelações destacaram a moderação de conteúdo e a interação entre executivos do Twitter e autoridades governamentais, suscitando debates sobre liberdade de expressão e o impacto das redes sociais na política.

Os novos documentos trazidos à tona por Shellenberger, no entanto, escancaram várias conversas envolvendo Rafael Batista, que ocupava a posição de diretor jurídico do Twitter Brasil. As trocas de mensagens abrangem vários anos, iniciando-se em 2020 (ou seja, antes mesmo de a liderança da rede social passar para as mãos de Musk).

Nestes e-mails, emergem discussões acaloradas que giram em torno de solicitações feitas por juízes, políticos e representantes do Ministério Público, todos buscando obter acesso a dados pessoais de usuários do Twitter. Curiosamente, os alvos dessas investigações incluíam figuras políticas alinhadas ao bolsonarismo, além das implicações potenciais para o Twitter caso houvesse resistência em cumprir com as ordens judiciais.

Dentro dos arquivos do Twitter Files Brazil, nota-se que muitos dos perfis do Twitter mencionados nas conversas estavam ativamente engajados em campanhas que questionavam a integridade do sistema eleitoral brasileiro. Não se pode ignorar o impacto dessas campanhas na realidade social e política do Brasil, uma vez que elas culminaram em eventos de grande gravidade.

Dentre eles, podemos destacar a tentativa de invasão ao aeroporto de Brasília, as manifestações organizadas por grupos de extrema-direita em locais estratégicos como às portas de quartéis e interdições em rodovias, e não menos importante, os violentos ataques ocorridos no fatídico dia 8 de janeiro de 2023. Naquele dia, uma multidão enfurecida causou danos consideráveis a edifícios simbólicos localizados na Praça dos Três Poderes, dentre eles o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto.

Contudo, diante dessa nova remessa dos Twitter Files, questões começam a surgir sobre a legitimidade das ações do judiciário e do Congresso, levantando debates intensos sobre a possibilidade de que certos pedidos feitos por estas entidades possam ter sido desproporcionais ou mesmo carentes de substância jurídica.

Elon Musk entra em campo

Desde a série de tweets do jornalista Michael Shellenberger até a tarde de sábado (06), só bolsonaristas e a extrema-direita, ainda chateados com a derrota de Jair Bolsonaro em 2022, falavam dos chamados Twitter Files Brazil. Eles acusavam o STF e o TSE, principalmente o ministro Alexandre de Moraes, de censura.

Porém, no sábado, Elon Musk agitou as coisas. Ele compartilhou os Twitter Files postados por Shellenberger e disse que tiraria as restrições de todos os perfis bloqueados por ordem judicial. Isso foi um desafio direto a Alexandre de Moraes, conhecido por ser firme em suas decisões.

A decisão pode ajudar vários influenciadores e figuras importantes do bolsonarismo com contas suspensas. Entre eles estão Luciano Hang, dono da Havan; o blogueiro Allan dos Santos; o ex-deputado Daniel Silveira; o youtuber Monark; e o blogueiro Oswaldo Eustáquio. Musk diz que as “multas altas” impostas pelo ministro fazem a rede social perder dinheiro no Brasil. Por isso, o chefe da Tesla pensa em fechar o escritório do X/Twiter no país.

Musk então, no mesmo dia 06 de abril de 2024, respondeu em um post de Moraes publicado em 11 de janeiro de 2024 e sem nenhuma relação com qualquer caso (é o post mais recente do magistrado) perguntando por que o ministro “exige tanta censura no Brasil“.

Musk então repostou um tweet da conta oficial de relações governamentais do Twitter repercutindo o caso, e pôs uma tag no perfil oficial de Moraes (@alexandre) perguntando “por que ele está fazendo isso”.

Shellenberger proferiu então declarações a respeito das recentes ações de Elon Musk no comando do Twitter. Segundo ele, a decisão tomada por Musk de encerrar os bloqueios impostos a determinados perfis por meio de ordem judicial poderia resultar em desdobramentos significativos para a plataforma, chegando ao ponto de sugerir que o X/Twitter poderia ser suspenso ou mesmo sair do ar “a qualquer momento”.

Musk, por sua vez, não demorou em responder ao comentário feito pelo jornalista/ativista. O bilionário disse que Shellenberger foi “preciso” nos comentários que fez.

No último domingo (7), Musk também declarou que a companhia divulgará em breve todos os documentos solicitados pelo ministro, demonstrando como as solicitações violam as leis brasileiras.

Este juiz traiu descaradamente e repetidamente a constituição e o povo do Brasil. Ele deveria renunciar ou sofrer impeachment”, escreveu.

Alexandre de Moraes entra na briga

No domingo à noite (07), Alexandre de Moraes incluiu Elon Musk no inquérito sobre milícias digitais. Ele disse que o bilionário começou uma campanha de desinformação contra o STF e o TSE. Moraes afirmou que Musk estava incentivando as pessoas a não obedecerem e a atrapalharem a Justiça, inclusive em relação a grupos criminosos.

Em sua decisão, Moraes destaca que as ações de Elon Musk configuram “flagrante conduta de obstrução à Justiça brasileira, incitação ao crime, ameaça pública de desobediência as ordens judiciais e de futura ausência de cooperação da plataforma”. Segundo o ministro, estas posturas do bilionário “desrespeitam a soberania do Brasil e reforçam à conexão da DOLOSA INSTRUMENTALIZAÇÃO CRIMINOSA das atividades do ex-TWITTER atual X, com as práticas ilícitas investigadas pelos diversos inquéritos”.

Na mesma manhã de domingo, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (SECOM), Paulo Pimenta, falou no X/Twitter. Ele declarou que o Brasil “não será tutelado pelo poder das plataformas de internet e do modelo de negócio das big techs“.

O advogado-geral da União, Jorge Messias, por sua vez argumentou sobre regulação de redes sociais.

Segundo a jornalista Andreza Matais, do UOL, pessoas próximas a Moraes pediram à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informações sobre quais os procedimentos para tirar do ar o X.

Até o ex-presidente Jair Bolsonaro, que enfrenta uma série de processos no STF e foi considerado inelegível pelo TSE, entrou na discussão. Ele convocou um ato para o dia 21 de abril de 2024 e também postou um vídeo ao lado de Elon Musk.

É possível tirar o X/Twitter do ar no Brasil?

Sim, é plenamente possível. Inclusive, essa é uma ação que levaria apenas algumas horas para ser efetivada em todo o território nacional. Se o bilionário Elon Musk não acatar determinações provenientes do sistema judiciário brasileiro, as operadoras de telecomunicações podem ser obrigadas a impedir o acesso à plataforma de microblogs no Brasil.

Para bloquear uma plataforma digital, é necessário ter uma ordem judicial. Geralmente, a Agência Nacional de Telecomunicações é mencionada nesse processo. Depois de receber a ordem, a Anatel compartilha as instruções com diversas empresas de telefonia do país.

De acordo com uma reportagem do UOL, algumas dessas empresas estariam preparadas para seguir uma possível decisão judicial. O bloqueio seria feito de forma gradual, à medida que cada empresa ajusta seus sistemas para cortar o acesso ao Twitter (ou X, se preferir).

Em breve você não poderá mais bloquear perfis no Twitter - Hardware.com.br

É relevante observar que a Justiça pode exigir a remoção de postagens específicas em redes sociais. Musk indicou que não pretende mais obedecer a esse tipo de ordem vinda do Supremo Tribunal Federal. Em um cenário conturbado como esse, o próximo passo poderia ser a Justiça determinar a exclusão da própria rede social, o que também envolveria as empresas de telecomunicações.

Em uma publicação na sua própria plataforma, Elon Musk ele sugeriu que as pessoas recorram a VPNs para garantir o acesso ao X/Twitter caso este venha a ser bloqueado por decisões judiciais. Uma VPN (Virtual Private Network – Rede Virtual Privada) é uma ferramenta que possibilita a navegação em websites de maneira anônima.

Ela oculta sua localização real ao mascarar seu endereço IP, evitando assim que o seu provedor de internet saiba efetivamente de qual local você está conectando-se à rede.

Dessa forma, se porventura o “antigo” Twitter vier a enfrentar restrições impostas no território brasileiro e as operadoras locais forem instruídas a restringir o acesso dos usuários, a VPN emerge como uma solução alternativa. Ao utilizá-la, será possível transpor os bloqueios e conseguir acessar o X sem maiores complicações, mantendo-se conectado e ativo na plataforma.

Sobre o Autor

Cearense. 34 anos. Apaixonado por tecnologia e cultura. Trabalho como redator tech desde 2011. Já passei pelos maiores sites do país, como TechTudo e TudoCelular. E hoje cubro este fantástico mundo da tecnologia aqui para o HARDWARE.
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