Do Betamax ao PS Vita: 4 produtos lançados pela Sony que fracassaram

Do Betamax ao PS Vita: 4 produtos lançados pela Sony que fracassaram

Fundada em Tóquio, Japão, no ano de 1946, a Sony tem um legado riquíssimo em produtos campeões de venda, e um pioneirismo incontestável, atuando diretamente no desenvolvimento de tecnologias que são marcos históricos, principalmente no segmento de áudio e vídeo.

Ser pioneiro também é se colocar numa posição de alto risco, em que algumas decisões podem atrapalhar que os objetivos sejam alcançados. Em seus quase 80 anos de trajetória, a Sony também deu algumas bolas fora, apostando em produtos que acabaram relegados a prateleira do insucesso, ou que ficaram aquém do que a companhia esperava. Neste artigo vou relembrar 4 produtos da gigante japonesa que fracassaram.

Betamax

Se você foi um frequentador de locadoras entre meados dos anos 80 e 90, o nome VHS é algo que você está familiarizado. Essa tecnologia, criada pela JVC, acabou se consagrando como o vencedor na disputa da guerra dos formatos para gravação e reprodução de vídeo doméstico nos anos 80, derrotando o Betamax, alternativa da Sony.

A história da tecnologia mostra em inúmeros casos que nem sempre uma ideia mais sólida em termos de recursos e inovação se transforma no padrão que se sobressai e domina o mercado. Isso aconteceu no embate entre Betamax e VHS.

O formato Betamax, lançado em 1975, proporcionava mais qualidade de gravação e até mesmo menos ruído de vídeo, e era algo pioneiro, mas o VHS, lançado em 1976, venceu a disputa devido a alguns elementos cruciais: maior tempo de gravação, uma estratégia mais aberta de licenciamento, e a solução em termos dos videocassetes também era mais simples, o que facilitou a produção. O preço final desses aparelhos compatíveis com VHS também era muito mais baixo comparado às opções para Betamax.

Garrett Ziegler / Flicker

A ideia da Sony era se unir com empresas, como a própria JVC, para licenciar o seu padrão, no caso, o Betamax. No entanto, a JVC resolveu tomar seu próprio caminho e lançou o VHS, que acabou sendo um concorrente. A disputa em relação a tentar fisgar o consumidor pelo maior tempo de gravação fez com que a Sony apostasse no Beta II, que oferecia até 2 horas de gravação, empatando com o VHS. Lembrando que no modo LP (Long Play) do VHS era possível alcançar até 4 horas de gravação.

Mas não deu, o Betamax perdeu a disputa, e o VHS virou o padrão. Em 1981, o VHS era responsável por 75% das vendas nos EUA. Em seu melhor momento, em 1984, o Betamax chegou a ser responsável por 40% do mercado nos EUA. Dois anos depois, só tinha 7,5%. Enquanto isso, o VHS detinha 95% do mercado em 1987.

A grande aceitação do VHS, aliado aos inúmeros acordos bem sucedidos de licenciamento da JVC fizeram com que estúdios e produtoras apoiassem fortemente o formato, tornando VHS o grande bastião do home-video, que ganhou força ao longo das décadas de 80 e 90. Pare pra pensar: quantos filmes que marcaram sua vida você assistiu através das lendárias fitas de vídeo VHS?

Mesmo com o fracasso em termos de abrangência de mercado, a Sony seguiu apoiando o formato Betamax por muitos anos. A produção de vídeo cassetes compatíveis com essas fitas foi encerrada pela empresa apenas em 2002, e a produção das fitas perdurou até 2016.

O VHS também saiu de cena em 2016. Naquele ano, a japonesa Funai Electric, a única no mundo que ainda fabricava leitores e gravadores de VHS, resolveu encerrar a produção.

MiniDisc

Na década de 90, a Sony tentou emplacar uma alternativa ao CD, o MiniDisc, o famoso MD, apresentado em 1991 e lançado em 1992.

Na teoria, alguns pontos importantes jogavam a favor do MiniDisc: ele era mais compacto que o CD, a capacidade de regravação estava presente desde o lançamento (algo que demorou a chegar aos CDs) e ele era até mais resistente que o CD, já que o disco ficava numa caixa plástica, que abria somente quando a mídia estava dentro do player.

Na prática a conversa era outra. Com exceção do Japão, o MiniDisc passou longe de ser um formato realmente bem aceito. Algumas barreiras jogavam contra o disco compacto da Sony, como a questão do alto custo para a produção dos álbuns nesse formato, e as s próprias mudanças em relação ao consumo de música também “cortaram as asas do MiniDisc”. A ascensão de distribuição digital, com a consolidação do MP3, e de players como o iPod foram um duro golpe no CD, imagine no MD. 

Em 2004, a Sony renovou o formato, com o lançamento do Hi-MD, com mais capacidade de armazenamento que o MD convencional (1 GB  x 340 MB).

Uma das principais características técnicas do MD era o uso do algoritmo proprietário, ATRAC (Adaptive Transform Acoustic Coding),  essencial para reduzir o tamanho dos arquivos para que eles coubessem no MiniDisc. Essa redução partia do princípio do corte de frequências inaudíveis para os humanos, o que fazia com que informações pudessem ser descartadas de maneira imperceptível, reduzindo a quantidade de dados que precisavam ser armazenados. 

Edição especial de para PS3 de Beyond: Two Souls, lançado em 2013, que acompanhava a trilha sonora em MD

No Brasil o MiniDisc foi uma alternativa para poucos endinheirados. O alto custo dificultou e muito a adoção da mídia por aqui. Muitos sequer chegaram a ver de perto um MD – me incluo nessa lista. 

Já no segmento radiofônico brasileiro, o MD foi um produto estratégico. Várias rádios utilizavam este disco para gravar vinhetas e playlists. Devido a praticidade, o MD foi o sucessor direto do DAT em muitas rádios.

Mylo

Combinando um design moderno, teclado físico deslizante, e a tentativa de chamar a atenção daqueles que desejavam manter a comunicação via internet através de um dispositivo compacto, a Sony colocou no mercado em 2006 o Mylo, o My Life online, gadget que foi lançado um ano antes do primeiro iPhone, dispositivo que realmente mudaria para sempre a comunicação móvel.

Com preço sugerido de US$ 350, o Mylo tinha tela de 2,4 polegadas, 1 GB de armazenamento, expansível via cartão de memória Micro Stick Pro, e suporte para conexão Wi-Fi.

Ao mesmo tempo que era um atrativo, o suporte ao Wi-Fi, e somente a ele, para estabelecer a conexão se provou o grande calcanhar de aquiles do produto. A ideia era entregar um aparelho que permitisse ao usuário acessar a internet, enviar e receber e-mails, reproduzir músicas e vídeos, além de permitir a interação com seus contatos via serviços como Google Talk, MSN, Yahoo Messenger e até mesmo o Skype. No entanto, a ausência de suporte a rede móvel limitava a liberdade de uso. Caso nenhuma rede Wi-Fi estivesse disponível, o Mylo perdia completamente o sentido.

A Sony até tentou posicionar o dispositivo como recomendado para universitários, que poderiam recorrer aos pontos de acesso Wi-Fi no campus para a conexão, mas essa tentativa afunilava completamente a faixa do público que poderia se interessar pelo Mylo.

O preço do dispositivo também não o ajudou a ser realmente atrativo. Em 2008 a Sony fez uma segunda tentativa, com o lançamento da segunda versão do comunicador portátil, incluindo algumas novidades, como uma câmera e visual renovado e o preço era inferior à primeira versão, mas, novamente, a Sony insistiu em somente Wi-Fi para o produto. Fracassou.

PS Vita

Em quase 30 anos de mercado, a linha PlayStation recebeu algumas versões portáteis. A Sony tentou em algumas situações apostar numa jogabilidade que rompia com as amarras de um console de mesa. Entre essas versões, o PS Vita é um dos mais lembrados, mas nem sempre pelos melhores motivos.

Lançado em dezembro de 2011, o PS Vita saiu de cena com o mesmo sentimento que muitos nutriram ao longo de sua jornada no mercado: um console com um hardware de respeito que não foi bem aproveitado e que, consequentemente, afastou o público.

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Traçando um paralelo com o futebol, o PS Vita é uma espécie de craque que tinha muito potencial, mas decisões equivocadas fizeram com que sua carreira ficasse aquém do que era possível.

Entre as decisões que atrapalharam a “carreira” do PS Vita estava o fato do uso de um cartão de memória proprietário. Essa característica de ter um padrão só seu faz parte da história da Sony, como no caso do Betamax e do MiniDic, que vimos anteriormente, e isso foi aplicado também no PS Vita.

Segundo um ex-funcionário da Sony que trabalhou na época do PS Vita, uso desse cartão proprietário era tratado como uma forma de tentar coibir a proliferação de hacks. Uma forma de ter algo mais controlado e seguro.

Do ponto de vista do usuário, a decisão não caiu bem. O custo era mais alto que outros tipos de cartões, encarecendo um produto que já não era barato. O PS Vita até chegou a receber títulos de peso, como uma coletânea de Metal Gear Solid, Assassin’s Creed e Uncharted, e até mesmo propostas divertidíssimas como o Sound Shapes.

Mas a aura de fracassado nunca abandonou o Vita, e parece que até mesmo a Sony tomou pra si esse título, já que em muitas situações parecia adotar uma postura meio que de descaso com o portátil, uma ausência de ímpeto em tentar fazê-lo emplacar.

O PS Vita chegou oficialmente ao Brasil em 2012, custando R$ 1.599. Preço altíssimo para a época. O portátil vendeu aproximadamente 16 milhões de cópias, bem abaixo dos mais de 80 milhões do PSP, e chegou até ganhar uma segunda versão, mais leve, mais fina, e com tela LCD, ao invés do OLED do primeiro modelo.

O console foi descontinuado em março de 2019, mas ainda sobrevive na memória de muitos, e com a possibilidade do desbloqueio, alguns transformaram o poderoso portátil numa plataforma de luxo para rodar games clássicos via emuladores.

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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