Deep Web e Dark Web: o que é?

Deep Web e Dark Web: o que é?

E aí, vamos falar sobre internet e temas polêmicos? Sim? Então, simbora. Eu presumo que você já tenha ouvido falar em Deep Web e as teorias da conspiração que aparecem quando esse termo está em assunto. No entanto, a reputação macabra que a Deep Web ostenta, geralmente, está associada ao conteúdo encontrado na Dark Web.

A maioria das pessoas, sobretudo no Brasil devido à confusão entre os dois termos, acredita que a Deep Web é um espaço destinado à atividades criminosas, como o tráfico de drogas, a pedofilia e a encomenda de assassinatos.

Embora todas essas práticas ocorram nesse submundo da internet, a Deep Web, tampouco a Dark Web, existem para esses fins. Na verdade, ambas estão diretamente relacionadas à privacidade online.

Deep Web Dark Web
O Iceberg seria toda a internet e a parte oculta representa a Deep Web e a Dark Web

Uma perspectiva maniqueísta pode definir a Deep Web como algo efetivamente oposto à internet normal, ou Surface Web (Superfície). Mas, efetivamente, é muito mais que isso

Portanto, para compreender o que é Deep Web e Dark Web, é necessário, primeiro, entender a definição de Surface Web.

A maioria de nós, meros mortais entusiastas de tecnologia, nem imagina o quão complexo é o universo da rede mundial de computadores e como ela opera. Infinitas terminologias podem confundir a cabeça de qualquer um, o que torna compreensível o equívoco e a junção dos significado de Deep e Dark Web.

Com o objetivo de ajudar você (e eu também) a compreender melhor o universo online, fizemos esse artigo que explica (ou tenta) o que é e como funciona a Rede Profunda.

Mas, antes, precisamos descobrir o que é web e qual é o motivo de muita gente confunde web com internet. Let’s go!

O que é web?

World Wide Web (WWW) não é a mesma coisa que internet, que é a rede mundial de computadores definidas pelos protocolos de comunicação TCI/IP.

Segundo Ian Jacobs, no primeiro volume do livro Architeture of the World Wide Web, o termo serve para designar “um espaço de informação em que itens de interesse, referidos como recursos, são reconhecidos por identificadores globais chamados URI (Identificador Uniforme de Recurso)”.

Desse modo, a Web é um espaço de informação, isto é, as páginas que o usuário acessa online, enquanto internet é a rede em que funciona a web.

Surface Web 

A Surface Web existe desde a invenção do primeiro navegador à internet nos anos 1990, como parte da World Wide Web.

Surface significa “superfície” em inglês, ou seja, aquilo que pode ser visto, baseando se no conceito de um iceberg, cuja parte oculta é a Deep Web.

No entanto, em uma explicação da Kaspersky, empresa russa de cibersegurança, sobre o que é a Surface Web, a internet é comparada a uma grande cidade, contendo espaços públicos para todas as pessoas, como ruas e praças.

As paginas e aplicativos da internet, bem como outros elementos online, podem ser acessados por todos e podem ser encontrados através de uma ferramenta de busca (Google, Bing) sem a necessidade de instalar um software.

Inclusive, as ferramentas de buscas online são essenciais para entender o conceito de Surface Web, pois a mesma é basicamente aquilo que é indexado pelos buscadores.

Sites de notícias, e-commerce e entretenimento podem ser acessados utilizando buscadores, logo, fazem parte das páginas indexadas, ou Surface Web. Além disso, a Surface Web é a parte da web que está sobre constante vigilância governamental no mundo inteiro, tornando, portanto, um local com miníma privacidade.

De acordo com o worldwidewebsize.com, há 5,27 bilhões de páginas indexadas nas ferramentas de busca. Contudo, esse número contabiliza apenas 4% de toda a internet.

Deep Web Dark Web
Créditos: WorldWideWebSize

Onde estão os 96% restantes de conteúdo online? Você já deve suspeitar qual é a resposta, né?

Deep Web – Definição

Em poucas palavras, a Deep web é a seção da web que não está indexada e não pode ser encontrada pelas ferramentas de buscas convencionais. Entretanto, a complexidade da Deep Web é bem maior que sua definição.

Geralmente, na deepweb web estão páginas que são geradas de maneira dinâmica, sem contar com links para outros sites. Assim, sem links de sites anteriormente indexados, os buscadores não conseguem encontrar as páginas da Deep Web.

Grandes nomes da internet estão na deepweb, por exemplo, a Netflix. Isto mesmo, a Netflix está, majoritariamente na Deep Web, pois, embora sua página possa ser encontrada no Google, a maioria do seu conteúdo não está visível no buscador.

Deep Web Dark Web

Banco de dados privado, como serviços de armazenamento de arquivos em nuvem e fintechs, também são partes da Deep Web, onde os usuários podem preservar suas informações confidenciais.

Desse modo, podemos constatar que o impacto da Deep Web é, de fato, positivo e não há maiores riscos em comparação à Surface Web. Além disso, a Deep Web fornece uma extensa gama de informações que não são tão relevantes para estarem listadas na web normal.

Por fim, a privacidade é outro fator muito importante, pois a criptografia na Deep Web permite que os serviços pagos possam esconder o seu conteúdo de usuários não registrados.

A criptografia é bastante necessária para todos os bancos digitais, uma vez que as operações financeiras precisam de um nível alto de segurança e privacidade.

Mas por qual motivo a Deep Web possui uma má reputação? A resposta não é tão simples, mas é um mix de desinformação, teoria da conspiração e atividades criminosas em torno da parte ainda mais oculta da web: a Dark Web.

O que é a Dark Web?

Deep Web Dark Web

Voltando às comparações com o oceano, a Dark Web seria a parte mais profunda, mas, pelo fato de o oceano ser uma coisa só, muitos confundem a Dark Web com a Deep Web.

Diferentemente da Deep Web, além de suas páginas não serem indexadas em sites de busca, a Dark Web só pode ser acessada através de softwares específicos. Dentre os principais softwares, está o navegador Tor, a ferramenta mais conhecida para obter acesso ao submundo da internet. No Tor, esses domínios ultra ocultos levam o nome de onion (cebola), pois são a junção de várias camadas que aprimoram o nível de criptografia das páginas.

Esses elementos únicos da Dark Web a tornaram um espaço propício para atividades criminosas, que só podem ser encontrados através de endereços específicos, o que torna muito mais difícil a busca de qualquer material disponível na Dark Web.

Neste artigo, iremos ensinar como acessar à Dark Web, mas, lembre-se, não estamos incentivando ninguém a pesquisar conteúdos que possam ser considerado criminosos. É por sua conta em risco.

Leia também: Dados de mais de 100 milhões de brasileiros estão sendo vendidos na Dark Web

Acessando a Dark Web

Como dito acima, o Hardware.com.br não se responsabiliza por qualquer ação sua ao acessar a Dark Web. Salientamos que o acesso não se categoriza como crime, mas, sim, as atividades que o indivíduo possa participar nas páginas ocultas da Dark Web.

Desse modo, se você tem curiosidade de conhecer essa parte oculta do ambiente online, leia esse guia com atenção.

Primeiramente, é necessário fazer download do navegador Tor, disponível para Windows, Linux, MacOS e Android. Clique aqui para baixar. Antes de acessar a Dark Web, lembre-se que é de suma importância ter um serviço VPN, que pode ser encontrado de maneira gratuita ou paga.

Leia mais aqui: As 10 melhores VPNs grátis

Após isso, instale o Tor no seu computador e clique no aplicativo Start Tor Browser que deve aparecer na sua área de trabalho.

Screenshot da homepage do Tor

Ao iniciar o Tor, será necessário aguardar um tempinho para que o navegador estabeleça uma conexão segura. Por falar em navegador, o Tor é baseado no mesmo código do Firefox, o que o torna mais familiar àqueles que utilizam o browser da Mozilla.

Como qualquer navegador atual, o Tor permite que o usuário faça buscas online, instale extensões e altere as configurações. No entanto, o foco aqui é acessar os sites da Dark Web, ou seja, que não estão indexados nos buscadores da Surface Web.

No Tor, essas páginas são chamadas de onion e é possível encontrar seus endereços em fóruns online e sites especializados. Eu, por exemplo, irei acessar o onion da página metaGer, que funciona como uma ferramenta de buscas para páginas da Dark Web. O onion do metaGer está disponível neste link.

Cole o endereço do onion na barra de endereços do Tor e aparecerá o site com uma interface bem minimalista, contando apenas com a barra de busca.

Eu fiz uma busca por um dos sites mais populares, a Hidden Wiki, a Wikipédia da Dark Web, que apareceu no primeiro resultado.

A interface da Hidden Wiki é bem similar à Wikipédia tradiconal

A Hidden Wiki reúne vários endereços de páginas úteis, priorizando sempre a privacidade, mas também, marketplaces que vendem substâncias ilegais.

Essa parte de atividades criminais não será coberta aqui por motivos óbvios. A propósito, a aura criminosa da Dark Web existe por um acontecimento muito importante na indústria tecnológica americana, envolvendo interesses financeiros pelas criptomoedas.

Confira abaixo a história.

A Rota da Seda

É importante conhecer a história do Silk Road, um “mercado clandestino” online que vendia drogas ilegais, que se tornou o sinônimo da Deep Web no início da década passada

O Silk Road, cujo nome é uma homenagem à Rota da Seda, termo que designa as várias rotas de comércio internacional entre a Europa, China e Índia no anos, que formavam a maior rede comercial da idade antiga, surgiu em 2011.

O criador e os operadores do site utilizavam o pseudônimo “Dread Pirate Roberts”, divulgando ideais libertários e criticando a regulamentação dos produtos por parte do Estado.

Com os níveis de criptografia da Dark Web, usuários conseguiam comprar substâncias ilegais de maneira completamente anônima e segura. Os traficantes pagavam uma taxa ao Silk Road para iniciar suas operações, cujas contas eram obtidas via um leilão realizado pela página.

A página do Silk Road oferecia inúmeras substâncias consideradas ilegais em vários países.

Todas as transações do Silk Road eram realizadas com criptomoedas, principalmente, a Bitcoin, que aumentava, ainda mais, o nível de anonimato dos compradores e dos vendedores. Além disso, tendo em vista a volatilidade do Bitcoin, o Silk Road cobria qualquer alteração no valor do Bitcoin durante uma transação financeira do site.

A moeda digital dos compradores ficavam em um mecanismo do Silk Road que servia como fundo de garantia para não alterar o valor da transação em dólar, evitando os efeitos de alteração contínua no valor do Bitcoin.

A casa caiu!

Poucos meses após o lançamento da página, a imprensa americana fez vários artigos sobre o site, trazendo a atenção do governo americano, mas, também, de outros usuários, que aumentaram consideravelmente o número de acessos ao site.

Em maio de 2013, após um ano de operações e mais de 15 milhões de dólares em operações financeiras, o IP do Silk Road foi identificado pelo FBI e foi localizado em um servidor em Reykjavík, capital da Islândia.

Em outubro do mesmo ano, o FBI efetuou a prisão de Ross Ulbricht, identificado como a pessoa por trás do “Dread Pirate Roberts” e principal operador do Silk Road.

Ele foi acusado por atuar nas práticas ilegais de lavagem de dinheiro, hacking, associação ao tráfico de drogas, além de ordenar o homicídio de seis pessoas.

Os promotores do caso afirmar que Ulbricht pagou US$ 370 mil para pistoleiros cometerem o assassinato. Posteriormente, descobriu-se que os assassinatos nunca existiram e Ulbricht não foi julgado por esses casos.

No entanto, a casa dele caiu, e muito. O FBI encontrou 26 mil bitcoins em contas do Silk Road, que, naquele período, valiam US$ 3,6 milhões. Após o julgamento de Ulbricht, o governo americano liquidou os bitcoins, o que o deixou completamente falido, leiloando-os em 2014 e garantindo US$ 18 milhões para os cofres do Estado.

Além disso, no computador de Ulbricht foram encontrados mais de 140 mil bitcoins, o que correspondia por US$ 87 milhões.

Em janeiro de 2015, o julgamento de Ulbricht teve início e o criminoso confessou ser o fundador do Silk Road, mas informou ter transferido o controle da página para outros usuários pouco tempo após sua criação.

Contudo, a justiça americana não aceitou as alegações de Ulbricht e ele obteve uma condenação de prisão perpétua sem permissão de se candidatar à liberdade condicional.

Após Silk Road, a Deep Web se torna uma lenda urbana

A história do Silk Road é necessária para compreender os motivos dos temores em volta do termo Deep Web. Após a divulgação da existência da página nos principais veículos da mídia americana, a população geral começou a entender o termo Deep Web com um local perigoso, fonte das piores ações do ser humano.

No entanto, embora isso não seja mentira e haja mercados ilegais na Dark Web, a partir da popularização do termo, lendas urbanas e mitos começaram a surgir.

A representação do que seria um Red Room

Não é dificil encontrar por aí alegações que existem Red Rooms (páginas em que o usuário pode interagir na tortura física de outros indíviduos), filmes snuff que apresentam homicídios reais, e pornografia infantil  na Deep Web.

Um artigo de Joseph Cox ilustra bem as lendas urbanas ao redor da Deep e Dark Web.

O jornalista comenta o desejo das pessoas em acessar essas páginas e como esses sites nos fazem pensar que chegamos a uma parte realmente oculta da internet, mas que, na verdade, são um apanhando de fraudes de “internautas entediados”.

Cox afirma que a Dark Web é uma coleção relativamente pequena de sites difíceis de acessar, onde criminosos vendem drogas, armas, dados roubados e pornografia infantil. Contudo, ele aponta que a internet normal, ou a superfície, já hospeda inúmeras páginas desses conteúdos, além de ressaltar que este é o local onde o tráfico humano realmente opera.

Portanto, segundo ele, enquanto as pessoas continuarem obcecadas por encontrar o pior conteúdo possível na Deep Web, os sites de trolls e conteúdos falsos continuarão a operar.

Chegamos ao fim do nosso artigo sobre Surface Web, Deep Web e Dark Web. Espero que você goste e continue a acompanhar todo o conteúdo aqui do site, que dá um trabalhão para fazer! Até mais.

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