A internet 5G já está disponível em todas as capitais brasileiras. Com o tempo, o padrão vai se popularizar e ser usado pela maior parte da população. No entanto, a expansão das redes 5G traz consigo uma preocupação relevante: será que a internet 5G interfere em aviões?
Toda essa preocupação não existe sem motivo. Como a internet 5G e a aviação trabalham com frequências bem próximas, uma pode sim interferir na outra. Mas em qual nível? É sobre isso que iremos conversar neste artigo.
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Tecnologias novas interferindo em tecnologias antigas
Em diversas ocasiões, as tecnologias emergentes causaram interferências em tecnologias já existentes e consolidadas. Um belo exemplo foi quando a tecnologia de telefonia móvel digital introduzida nos Estados Unidos começou a afetar cadeiras de rodas elétricas.
Elas passaram a ter comportamentos anormais devido ao sinal pulsante que interferia em seus controles. A solução foi a blindagem simples para interromper a interferência. Dessa forma, as cadeiras elétricas voltaram a funcionar corretamente e sem problemas.
Outro exemplo envolve um problema direto entre vida e morte. Estou falando dos marca-passos. Novamente, no início da era do telefone digital, esses aparelhos passaram a funcionar mal quando expostos a sinais de telefones celulares.
Para resolver o problema, os médicos recomendaram que os pacientes com marca-passo não carregassem o telefone no bolso da camisa. Como essa era uma solução temporária, posteriormente a blindagem de sinal foi a solução encontrada para resolver o problema. Ou seja, sempre que surge uma nova tecnologia, há o risco dela interferir em outras tecnologias já em uso.
Internet 5G e aviação civil
Um dos instrumentos mais importantes na aviação civil é o altímetro. Trata-se de um instrumento de medição de altitudes. Ele determina a altitude do avião em relação ao nível do mar, usando a pressão atmosférica como referência. Isso é importante para permitir que o piloto controle a altitude e o nível de voo da aeronave, o que é fundamental para a segurança do voo. Já deu para perceber a importância do altímetro, não é mesmo?
Mas onde entra o 5G nessa história? O radioaltímetro, em específico, funciona por meio de ondas de rádio na frequência da banda C, a mesma frequência em que a rede 5G irá trabalhar. Essa situação é motivo suficiente para desencadear um alerta.
A discussão foi retomada quando a Federal Aviation Administration (FAA) foi contra à autorização da Federal Communications Commission (FCC) para usar ondas de rádio recém-abertas para as redes 5G.
A preocupação da FAA é que os sinais das redes 5G possam interferir com os altímetros de rádio usados em pousos manuais e automatizados. Isso representa um risco real de segurança a pilotos e passageiros, podendo culminar em uma tragédia com centenas de vidas perdidas.
É preciso se adaptar
Enquanto as tecnologias evoluem, as diretrizes e padrões que organizam o ambiente baseado em espectro também precisam evoluir. Quando as cadeiras de rodas, marca-passos e aparelhos auditivos foram criados, por exemplo, eles funcionavam perfeitamente bem para a realidade da época. O mesmo acontece com o altímetro.
Os fabricantes se adaptam às realidades existentes ao projetar seus produtos. As empresas e órgãos responsáveis por desenvolver novas tecnologias não têm qualquer intenção de causar problemas, prejuízos materiais ou até mesmo perdas de vidas humanas.
Portanto, só é necessário que haja uma readequação, um redesenho dos produtos afetados para que eles passem a trabalhar em paralelo com as novas tecnologias.
Possibilidade de interferência é maior nos EUA
Os sistemas de navegação aeronáuticos usam as faixas de frequência que ficam entre 4,2 e 4,4 gigahertz (GHz). Esse espectro, chamado de banda C sem fio, é alocado internacionalmente. No caso da aviação, o principal uso desse espectro é justamente para enviar informações para altímetros de aeronaves.
Esse envio de informações é especialmente útil quando o avião está a uma altitude abaixo de 2.500 pés. O altímetro é um instrumento que facilita muito o pouso assistido por computador. Logo ao lado da frequência onde operam os altímetros, está a frequência de banda C utilizada para as redes 5G. Nos Estados Unidos, o uso da banda C é autorizado entre as faixas de 3,7 e 3,98 GHz.
Portanto, a possibilidade de interferência das redes 5G nas aeronaves é mais plausível nos Estados Unidos. No Brasil, essa frequência era utilizada para transmissões de sinal analógico e digital para TVs.
Ainda não há nenhuma comprovação real de que a internet 5G possa interferir no funcionamento adequado dos altímetros. Mas a possibilidade está sendo estudada com atenção. Trata-se de um assunto bastante complexo, mas que afeta apenas aeronaves trafegando nos Estados Unidos.
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