Nas últimas semanas, após o bloqueio — e eventual desbloqueio — do Telegram pelo STF, o aplicativo de mensagens instantâneas rival do WhatsApp se tornou um dos principais assuntos do país, por isso resolvemos listar nove curiosidades sobre o Telegram.
Primeiramente, caso você não esteja por dentro, no dia 18 deste mês, sexta-feira, o ministro do STF Alexandre de Moraes ordenou o bloqueio do Telegram em território nacional.
Na decisão, o magistrado apontava que a plataforma não cumpriu ordens anteriores da justiça brasileira, operando, portanto, de maneira inadequada conforme a visão do judiciário.
Contudo, no último domingo (20), o ministro indeferiu a sua própria decisão informando que o Telegram havia acatado atender às decisões anteriores, sendo assim possível operar no Brasil.
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Apesar da duração curta, a suspensão do Telegram no Brasil continua gerando polêmicas. O presidente Bolsonaro, por exemplo, é um dos principais críticos da decisão de Moraes.
Deixando de lado as polêmicas — ou seja, apenas a da última semana no Brasil —, vamos às curiosidades sobre o Telegram.
Curiosidades sobre o Telegram
Fundador do Telegram criou a principal rede social russa
Atualmente, durante a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, várias empresas de tecnologia suspenderam seus serviços na Rússia ou foram banidas pelo próprio governo de Vladimir Putin.
As plataformas de mídias sociais, sobretudo as do Meta (Facebook), tiveram todos os seus serviços banidos.
No entanto, isso não é um problema gigantesco para o povo russo, pois a rede social mais popular do país é o VK.
VK, inicialmente VKontakte, foi criado pelo fundador do Telegram, Pavel Durov, e seu irmão Nikolai, em 2006.
O VK foi desenvolvido similarmente ao Facebook, ou seja, um serviço online e uma mídia social com praticamente as mesmas funcionalidades da rede criada por Mark Zuckerberg.
Aliás, o VK, de acordo com a Alexa (sim, também da Amazon), plataforma que organiza rankings de sites por acesso, o VK é o terceiro maior site da Rússia em número de acessos no país.
Além disso, na data da publicação deste artigo, o VK é 37º site com mais acessos globalmente.
Enfim, como o texto são curiosidades sobre o Telegram, chega de falar sobre o VK e vamos para as próximas.
Em 2015, o Telegram ganhou 5,7 milhões de usuários com ban do WhatsApp no Brasil
O ano de 2015 aparentemente é um multiverso de 2022. Naquela época, em vez do Telegram, a justiça brasileira baniu o principal rival, o WhatsApp, por 48 horas, após o app não aceitar fornecer informações sobre determinados chats às forças de segurança.
Com isso, o WhatsApp saiu do ar e muitos brasileiros migraram para o Telegram. Muitos corresponde a 1,5 milhões apenas no primeiro dia do bloqueio. Ao todo, o Telegram obteve 5,7 milhões de usuários brasileiros durante as 48 horas do bloqueio do WhatsApp.
Em 2022, 60% dos brasileiros possuem o Telegram instalado em seus smartphones ou tablets e 23% desse percentual utilizam o Telegram diariamente.
Mais de um milhão de pessoas criam contas no Telegram diariamente.
Em 2014, um ano antes do bloqueio do WhatsApp no Brasil, o Telegram tinha 35 milhões de usuários ativos. Quatro anos depois, muita coisa aconteceu e o aplicativo já possuía 200 milhões.
Com a pandemia, esse número dobrou. Desde abril de 2020, ou seja, durante o auge da pandemia global, o Telegram ganhava 1,5 milhão de usuários diariamente.
Em 2021, de acordo com o Telegram, o aplicativo ultrapassou a marca de 500 milhões de usuários ativos.
Além disso, em 2021, o Telegram foi o aplicativo mobile com maior crescimento de usuários, superando o Instagram e o TikTok.
A razão pelo crescimento do Telegram no ano passado é simples: uma alternativa mais segura ao WhatsApp, que anunciou alterações em suas diretrizes de privacidade do usuário.
Portanto, em 2021, houve uma migração em massa de usuários do WhatsApp para o Telegram, que registrou mais de 160 milhões de downloads no primeiro semestre.
85% dos usuários do Telegram usam Android
Seguindo o gancho do tópico anterior sobre o número e o crescimento de usuários do Telegram em dispositivos móveis, vamos a uma das curiosidades mais interessantes sobre o Telegram.
Em todo o mundo, o Telegram possui números de downloads surpreendentemente maiores em dispositivos Android do que em aparelhos com iOS.
Dos 540 milhões de downloads do Telegram em 2020, 500 milhões foram da versão Android do aplicativo.
Em janeiro deste ano, segundo a firma de análise de mercado Statista, o Telegram ficou em segundo lugar entre os aplicativos de mensagens mais baixados, com 36 milhões de downloads.
Um bilhão de usuários até o final de 2022
Além do crescimento de 2021 resultante das mudanças das regras de privacidade do WhatsApp, em outubro do mesmo ano o Telegram ganhou 70 milhões de usuários.
Novamente, o motivo envolvia a empresa rival: no dia 6 de outubro de 2021, houve uma queda de seis horas em todas as plataformas do Facebook, o que inclui, portanto, o WhatsApp.
Com esse aumento na taxa diária de crescimento de usuários do Telegram, a plataforma expandiu sua presença nas Américas, continente onde há o domínio do WhatsApp, sobretudo no Brasil.
No entanto, seguindo as estatísticas da própria empresas e de analistas, é possível que o Telegram alcance um bilhão de usuários até o final deste ano.
Além da nova taxa de crescimento, há uma preocupação maior por parte dos usuários em aplicativos de mensagens que garantam um nível de privacidade e segurança maior.
Para conseguir oferecer os seus serviços para um bilhão de pessoas, o Telegram precisa de um investimento maior em sua infraestrutura, e é nesse assunto que iremos chegar na sétima das nove curiosidades sobre o Telegram.
Steve Jobs e a blockchain do Telegram
Eu sei que as curiosidades são sobre o Telegram, mas você ficará surpreso ao descobri que o modelo de negócios da empresa envolve até o nome de Steve Jobs.
Inicialmente, o Telegram foi financiado pelo próprio bolso de Pavel Durov, que havia feito fortuna com o VK.
Durov sempre afirmou que nunca iria monetizar os dados privados dos seus usuários para lucrar com anúncios pagos.
Em 2018, no entanto, o crescimento do aplicativo obrigou Durov a encontrar uma forma de gerar lucros para manter a plataforma funcionando.
Desse modo, o fundador pensou em formas inovadoras de monetizar o Telegram, surgindo, assim, o TON (Telegram Open Network), blockchain para financiar o aplicativo através da criptomoeda Gram.
Entre os primeiros investidores da plataforma, que conseguiu obter US$ 1,7 bilhão, está Laurene Powell Jobs, viúva do fundador da Apple, Steve Jobs.
No processo inicial de oferta da criptomoeda do Telegram, Laurene comprou US$ 5 milhões da moeda Gram.
Contudo, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) obrigou a TON a encerrar as vendas da Gram sob o argumento de que a criptomoeda infrigia as leis financeiras dos EUA.
Modelo financeiro atual do Telegram
Para encontrar uma nova saída, o fundador do Telegram pensa em desenvolver uma plataforma de monetização que também possa dar lucro aos criadores.
Em setembro de 2021, o Telegram lançou o recurso de mensagens patrocinadas que permite promover canais e bots do aplicativo.
Além disso, em março do mesmo ano, a empresa conseguiu obter mais de US$ 1 bilhão em vendas de títulos financeiros para grandes investidores.
Facebook espionava o Telegram???
Em janeiro de 2021, antes mesmo do crescimento avassalador de 70 milhões, o Telegram já incomodava o Facebook, segundo o fundador Pavel Durov.
Durov escreveu em seu canal no Telegram que o Meta, à época chamado Facebook, possuia (ou possui) um departamento inteiramente dedicado a descobrir o motivo por trás da popularidade do Telegram.
Na publicação, Durov alfineta o gasto da empresa de Zuckerberg, afirmando que estaria “poupando milhões de dólares das contas do Facebook” ao revelar os motivos.
De acordo com Durov — e também refletido em todo este artigo —, a popularidade do Telegram e o crescimento do aplicativo se dá pela mudança nos termos de privacidade do WhatsApp.
Leia mais: Quais são as principais diferenças entre o WhatsApp e o Telegram?
A publicação aponta que o Telegram havia se tornado um grande problema para o Facebook, pois a gigante não conseguia competir com o Telegram em termos de privacidade.
Leia também: Documento do FBI revela que WhatsApp é o app que mais compartilha dados
Além disso, Durov afirma que o Facebook utilizou vários bots pagos para adicionar informações parciais ao artigo do WhatsApp na Wikipédia em inglês.
Em dezembro de 2020, a página do artigo do WhatsApp na Wikipédia continha a seguinte informação: “este artigo pode ter sido criado ou editado em troca de pagamentos não revelados, violando os termos de uso da Wikipédia”.
Além da Wikipédia, bots espalhavam informações falsas sobre o Telegram nas redes sociais
Na mesma publicação, Pavel Durov afirma que a sua equipe detectou a ação de bots que espalhavam informações falsas ou imprecisas sobre o Telegram nas redes sociais.
De acordo com Durov, os bots impulsionam os seguintes “mitos”:
- “O código-fonte do Telegram não é aberto”, o que Durov refuta com a documentação da API, revista por especialistas em cibersegurança “diversas vezes”.
- “O Telegram não possui criptografia”. Sobre esse ponto, Durov atesta que todos os chats do Telegram são criptografados desde o lançamento da plataforma. Ele também mencionou os Chats Secretos e em nuvem.
- “O Telegram é da Rússia”! Aí o assunto ficou polêmico. Durov, embora seja russo, afirmou que o Telegram não possui servidores ou escritórios na Rússia e relembrou que o aplicativo estava bloqueado no país entre 2018 e 2020.
Enfim, por falar na Rússia, é mais que pertinente encerrar as nove curiosidades sobre o Telegram com um tópico que foque na situação atual do país, ainda mais por ser o berço do fundador do Telegram.
Telegram e o conflito entre a Rússia e a Ucrânia
Primeiramente, para resumir o assunto: se não houvesse o conflito entre Rússia e Ucrânia, o Telegram não existiria.
Agora é a hora da parte complexa, então senta que lá vem história.
A primeira das nove curiosidades sobre o Telegram neste artigo informa que o criador do app de mensagens, Pavel Durov, também criou a principal rede social russa, o VK.
Entretanto, os motivos por trás de sua saída do VK não foram informados, portanto, este é o momento.
O foco de tensão entre Rússia e Ucrânia tem início em 2013, com os protestos da Praça Maidan, quando os cidadãos ucranianos demandavam a entrada na União Europeia.
Como não seria – e não é – interessante para o governo russo a entrada da Ucrânia na União Europeia, o FSD (Serviço de Segurança Federal da Federação Russa) exigiu que o VK fornecesse os dados pessoais dos organizadores dos protestos da Praça Maidan.
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Entretanto, como explicou Durov em sua publicação no VK anunciando sua saída, “a jurisdição russa não se aplica aos usuários ucrânianos do VK”. Sendo assim, fornecer os dados de ucranianos seria uma violação da lei por parte das autoridades russas. Durov, além disso, também alegou ser “uma traição aos milhares de ucranianos” que usam o VK.
Ademais, é possível compreender a decisão de Durov ainda mais pela sua linhagem familiar, pois sua família materna é ucraniana. Os avós de Durov, cujo sobrenome era Ivanenko, foram deportados de Kiev para a Sibéria durante a Revolução de outubro.
Por isso, Durov se recusou a fornecer os dados e foi forçado a vender suas ações do VK e sair da Rússia.
Com aproximadamente US$ 300 milhões em dinheiro vivo, Pavel Durov e seu irmão, Nikolai, tiveram que começar tudo do zero. Ambos compraram cidadania da pequena ilha caribenha São Cristóvão e Neves apos doar US$ 250 mil para a Fundação de Diversificação da Indústria de Açúcar, ganhando um passaporte de livre acesso à Europa.
Assim, ambos começaram a desenvolver o que se tornaria o Telegram. É sobretudo devido à postura autoritária da Rússia, que os irmãos Durov focaram em desenvolver uma plataforma de comunicação cujo cerne seria a criptografia.
Em agosto de 2013, sem muito barulho, o Telegram apareceu nas lojas de aplicativo.
Após quase 10 anos, ironicamente, a Rússia precisa de Pavel Durov
No início deste mês, a Rússia oficialmente bloqueou os serviços do Meta, incluindo o Facebook, o WhatsApp e o Instagram. Anteriormente, o WhatsApp era o maior aplicativo de mensagens do país, mas o bastão foi passado ao Telegram (de maneira compulsoria).
De acordo com a maior operadora de telecomunicações da Rússia, a Megafon, na última segunda-feira (21), o Telegram se tornou o aplicativo mais popular no país.
É compreensível essa mudança e também não há tanta ironia, mas o fato de o governo russo precisar do Telegram mais do que nunca.
Após exilar Durov, o governo Putin enxerga o Telegram como uma alternativa extremamente necessária para divulgar. Isso porque os sites da mídia estatal russa sofrem ataques hackers frequentemente.
Assim, com uma dose de ironia, encerramos as nove curiosidades sobre o Telegram. Até a próxima.
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