Documento do FBI revela que WhatsApp é o app que mais compartilha dados

Documento do FBI revela que WhatsApp é o app que mais compartilha dados

Embora empresas como Facebook e Apple afirmem que seus aplicativos de mensagem, como o WhatsApp e o iMessage, focam em privacidade, um documento do FBI revela o contrário.

Anteriormente, Mark Zuckerberg, CEO do Meta (antigo Facebook), empresa-mãe do WhatsApp, articulou uma “visão focada em privacidade” para o mensageiro. Tim Cook, CEO da Apple, por sua vez, afirmou que a privacidade é um “direito humano básico”. Segundo ele, sua empresa dá ao usuário controle e transparência sobre os seus dados.

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Entretanto, em um documento do FBI de janeiro deste ano, obtido pela revista Rolling Stone, o órgão do governo americano afirma ser “particularmente fácil” coletar dados do WhatsApp e do iMessage, contanto que haja um mandado ou intimação.

Mallory Knodel, CTO do Center for Democracy and Technology, afirma que, pelo documento do FBI, “o iMessage e o WhatsApp, os serviços de mensagens mais populares, também são os mais permissivos”.

Sobre o documento do FBI

Intitulado “Lawful Access” (Acesso Lícito), o documento foi elaborado pelo setor de Ciência e Tecnologia e pela Divisão de Tecnologia Operacional do FBI. O documento atesta a capacidade de a agência em obter legalmente uma vasta quantidade de dados desses apps.

A proposito, a maioria desses aplicativos são conhecidos por promover excessivamente a segurança e a criptografia de seus serviços.

O documento foi enviado à Rolling Stone pelo grupo Property of the People, com sede em Washington, cujo propósito é lutar pela transparência de empresas e governos.

O grupo recebeu o documento após requisitá-lo através da Lei de Liberdade de Informação. Ryan Shapiro, diretor do Property of the People, ressaltou que “a privacidade é essencial para a democracia”.

FBI WhatsApp
Documento do FBI analisa os nove maiores aplicativos de mensagens do mundo

Feito em janeiro deste ano, o documento do FBI, serve como um guia interno da agência sobre quais tipos de dados os órgãos de segurança pública podem solicitar aos nove maiores aplicativos de mensagens do mundo.

Embora não questione as capacidades dos aplicativos de combater hackers, o documento do FBI, descreve como as forças de segurança pública possuem múltiplos atalhos legais para extrair dados sensíveis de usuários dos aplicativos de mensagens mais populares do mundo.

Documento do FBI ameaça a democracia, dizem especialistas

Especialistas em direito e tecnólogos, que analisaram o documento do FBI, afirmaram ser incomum obter informações tão detalhadas sobre o acesso aos serviços de mensagens.

Além disso, os especialistas ressaltaram que esse guia do FBI não representa toda a extensão dos poderes de “bisbilhotagem” das forças de segurança. Por exemplo, o documento não aborda o que ocorre quando a polícia ou agentes federais obtém acesso a um dispositivo de outra pessoa.

Nathan Freed Weessler, vice-diretor de Liberdade de Expressão e Privacidade da União Americana pelas Liberdades Civis alerta sobre o controle exagerado das forças de segurança.

“Provavelmente, em todas essas plataformas, caso as forças de segurança ponham as mãos no dispositivo de alguma pessoa, independentemente da quantidade de criptografia de ponta a ponta, não será possível proteger as informações contidas no dispositivo”.

Segundo o FBI, o WhatsApp é o aplicativo mais fácil de obter dados

Não é de hoje que o WhatsApp, assim como todas as empresas do Facebook, enfrenta polêmicas envolvendo a privacidade de seus usuários. Ainda assim, o aplicativo de mensagens é o mais popular do mundo, com mais de dois bilhões de usuários.

Mark Zuckerberg não poupa elogios à criptografia do WhatsApp e de seus outros serviços. Aliás, após a polêmica do Cambridge Analytica, Zuckerberg redefiniu o propósito da empresa focando em privacidade. 

“Eu acredito que o futuro da comunicação será uma mudança gradativa para serviços privados e criptografados onde as pessoas possam se sentir seguras”, afirmou Zuckerberg em 2019.

No entanto, na visão do FBI, como atestado no documento, o WhatsApp é “um manancial” de dados privados de usuários. De acordo com o FBI, se comparado aos outros aplicativos de mensagens, o WhatsApp é o que mais fornece informações. Aliás, praticamente em tempo real, sobre determinado usuário e suas atividades.

De acordo com o FBI, uma intimação judicial consegue obter apenas as informações básicas dos assinantes. No entanto, com um mandado de busca, o WhatsApp fornece os contatos do usuário, bem como informações de outros usuários que possuam o contato do alvo de buscas em suas agendas.

Pen Register: O dispositivo utilizado pelo WhatsApp para o FBI

Além disso, para piorar o caso, o WhatsApp é incomparável aos outros aplicativos na forma rápida como pode apresentar dados às forças de segurança através de um dispositivo chamado pen register. Pen registers são equipamentos ou processos que revelam números de telefone discados, endereços na Internet, informações de roteamento, enfim, elementos de identificação daquele que origina a transmissão.

Com o uso do pen register pelo FBI, o WhatsApp fornece os metadados de determinado usuário — embora sem o conteúdo real da mensagem — a cada 15 minutos.

FBI WhatsApp
Um dispositvo pen register da marca StingRay

O guia do FBI explica que a maioria dos serviços de mensagens não fazem ou não conseguem fornecer os dados em cada 15 minutos. Em vez disso, fornecem os dados com atrasos.

“Dados de retorno fornecidos pelas companhias listadas acima, com exceção do WhatsApp, são, na verdade, registros de dados encobertos que chegam às forças de segurança de maneira não imediata, impactando, portanto, as investigações devido a esses atrasos”.

Resposta do WhatsApp

Uma porta-voz do WhatsApp confirmou à Rolling Stone que a empresa fornece dados às forças de segurança de maneira quase imediata através do pen register.

Contudo, a porta-voz ressaltou que o documento do FBI omite contextos importantes. Como, por exemplo, o fato de que os pen registers usados para o WhatsApp não fornecem o conteúdo das mensagens. Ela informa que o pen register só é empregado de maneira esclarecedora e não retroativa.

Ademais, a porta-voz afirmou que o uso de criptografia de ponta a ponta significa que as forças de segurança não podem obter acesso direto ao conteúdo da mensagem.

Leia mais: O que é criptografia de ponta a ponta usada no WhatsApp?

Mesmo sem a capacidade de requisitar o conteúdo de maneira legal ao WhatsApp, os metadados fornecidos pela empresa permitem que o FBI descubra com quem e quando os usuários trocam mensagens.

Telegram e Signal são os aplicativos mais seguros

FBI WhatsApp

Diferentemente do iMessage, e sobretudo do WhatsApp, os aplicativos com mais limitações, conforme o documento do FBI, são o Signal e o Telegram.

Aliás, no ano passado, o Signal surgiu como uma alternativa ao WhatsApp quando a empresa decidiu alterar suas diretrizes de privacidade.

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De acordo com o FBI, o Telegram não fornece nenhum tipo de conteúdo das mensagens e nem informações sobre contatos. No entanto, o documento afirma que o Telegram “pode” revelar o endereço IP e o número de telefone às autoridades para investigações de terroristas “confirmados”.

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O Signal também não fornece o conteúdo das mensagens, mas informa a data e o horário de um determinado usuário, bem como a sua última conexão à plataforma.

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