Além de mentes brilhantes, o Vale do Silício produz incansavelmente quebras de paradigmas, novas formas de enxergar a tecnologia e o mundo, seja através de apps que irão bombar em algum momento ou novas startups com serviços que ainda não tinham sido pensados. Dentre os personagens mais emblemáticos desse universo, com uma contribuição inegável ao mundo nos últimos 40 anos, temos Bill Gates. O magnata e filantropo, cofundador da Microsoft, já se aventurou por diversos caminhos, inclusive o de escritor.
Leitor voraz, Gates que costuma recomendar livros que você não pode deixar de conferir, escreveu em 1999, ano que a Microsoft atingiu seu maior valor de mercado registrado até hoje, 618,9 bilhões e que 40 milhões de contas do Hotmail estavam ativas, um livro bem interessante chamado A Empresa na Velocidade do Pensamento (Business @ the Speed of Thought ). O título adaptado em sua versão para o Português é quase uma autoafirmação ao panorama da Microsoft na época, uma empresa que pensava e executava em alta velocidade.
O tema do livro é interessantíssimo, Gates faz uma análise da economia global e, é claro, do que veríamos se tornar tendência em tecnologia. Como diz o jornalista Ricardo Boechat, tal ousadia, a de prever um acontecimento, é “colocar a língua na guilhotina”, já que alguém tão influente como Gates se propor a olhar para o futuro e compartilhar tais ideias pode ser um risco, a da chacota, por exemplo, caso não se concretize. Inclusive esse tipo de situação já aconteceu com o empresário, Gates já afirmou que ninguém jamais precisaria de mais de 640 KB de memória. No entanto, é preciso compreender que essa frase está dentro do contexto da época, que no caso era 1981, durante o fuzuê da apresentação do IBM PC, uma parceria com a IBM que culminaria na ascensão da Microsoft, entenda essa história aqui.
Voltando ao livro, Bill Gates faz algumas previsões interessantíssimas, e que em determinados pontos acabaram não sendo levados ao pé da letra pela própria abordagem da Microsoft, como no caso da ascensão dos smarthones. Mesmo com a aquisição da Nokia e tendo a linha Lumia e o Windows Phone como atributos ao seu favor, a gigante de Redmond passou um grande vexame.
Uma das declarações no livro é em relação aos dispositivos móveis, que permitiriam que as pessoas mantivessem contato à distância e que, além do entretenimento, pudessem fazer negócio. Esse conceito hoje é comum, vivemos isso diariamente com nossos smartphones. O mercado reforça cada vez mais a relação do Mobile First, dos dispositivos e possibilidades oferecidas pelo avanço da web que nos colocaram numa posição pós-PC, um descolamento do conceito mais tradicional da relação com um computador, já que os smartphones como se costumava dizer a um tempo atrás “é um computador de bolso”.
Verdade seja dita, Bill Gates nunca foi adepto desse termo que ficou tão popular, o Pós-PC, esse jargão foi entoado por seu rival mais emblemático, Steve Jobs. Gates dizia que essa era revolucionária é a PC-Plus, usado pela primeira vez em 1999, no ano da publicação de seu livro. Em essência os dois estão certos, essa era em que o mobile toma conta, e que o acesso a dados está nos serviços de nuvem, disponíveis a um clique, já está mais do habitual.
Essa visão de Bill Gates de encontrar o sucessor para o PC tradicional, uma necessidade que viria ser importante para que sua empresa continuasse relevante ao longo dos anos, era enfatizada bem antes da publicação do livro. Em 1995, em entrevista à Folha de S. Paulo, o executivo afirmou que acreditava que nos próximos cinco anos haveria um computador em cada carro, em cada bolso, e que a grande discussão era a capacidade do compartilhamento de informações.
A Microsoft navegou em águas tranquilas muito tempo, aproveitando uma ascensão meteórica do PC, em grande parte pela disseminação do seu principal software, o Windows. No ano que escreveu A Empresa na Velocidade do Pensamento, mais de 100 milhões de PCs foram vendidos em todo o mundo. O ápice foi em 2012, com 352 milhões de unidades. De lá pra cá, acompanhamos o declínio expressivo das vendas.
Em uma carta aberta, divulgada também em 1999 aos seus funcionários, Gates é ainda mais assertivo em um ponto: a da tecnologia invisível, aquela em que o seu uso é tão natural que parece estar incorporada em nós. Ele declarou que a era PC-Plus seria uma época em que o ponto de atenção seria o povo, em que a tecnologia é uma extensão natural dos consumidores!. Mais correto que isso impossível.
Nesta mesma carta Gates destacava que o PC continuaria sendo o centro da informática em casa, no trabalho e nos centros educativos, porém que estaria rodeado por um grande número de novos aparatos tecnológicos e dispositivos inteligentes, como os PCs de bolsos. Analisando essa perspectiva hoje, após quase 20 anos anos, caberia uma ligeira alteração.. Embora permaneça como o timão para diversas tarefas, hoje os holofotes estão totalmente voltados para os smartphones e outros gadgets smart, eles são o centro, o PC os rodeia.
Parte dessa revolução tem a internet como fio condutor. Gates, mais do que ninguém, já que estava presente enquanto as coisas se desenrolavam, também comentou sobre isso. Ele declarou que mais softwares seriam entregues via internet, numa visão de estar disponível ao usuário em qualquer lugar, a qualquer hora, com qualquer dispositivo. Como sabemos hoje o mercado foi se virando para esse lado. Atualmente esse é um dos grandes trunfos da Microsoft, oferecendo, por exemplo, o Office 365. Alguns rumores, que começaram a pipocar no mês passado, apontam que a Microsoft incluirá até o Windows nesse modelo de assinatura, o que já acontece para o usuário corporativo, mas dessa vez olhando o consumidor final.
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