IBM PC: 40 anos do rei dos computadores domésticos

IBM PC: 40 anos do rei dos computadores domésticos

“Não há nenhuma razão para alguém querer um computador em casa“. Essa frase lendária foi dita por Ken Olson, presidente e fundador da Digital Equipmento Corp, em 1977.

Muitos executivos de outras grandes corporações ligadas à computação empresarial naquela época não assimilavam a ideia do computador saltando do mundo corporativo/científico para as residências.

A lendária IBM também adotava esse mesmo pensamento. Porém, numa correção de rota emblemática, a gigante dos mainframes fincou seu nome no lar de milhões de pessoas. O responsável por essa revolução completou 40 anos. Neste artigo vamos relembrar o rei dos computadores domésticos, o IBM PC.

IBM PC, o responsável por uma revolução

Há 40 anos chegava ao mercado o IBM PC. No dia 12 de agosto de 1981 a IBM lançava o IBM PC 5150 por US$ 1510 (para efeito de comparação, na época o computador mais barato da IBM custava US$ 10 mil).

Este computador foi um legítimo parâmetro de mercado para tantas outras companhias (algumas até de maneira escusa), adentrarem no mercado tentando fisgar uma faita de um bolo que crescia cada vez mais: o mercado de computadores domésticos.

No fim dos anos 70 era praticamente inimaginável que uma empresa tradicional como a IBM apostasse suas fichas em levar computadores com um preço competitivo para a casa da pessoas. Este ideal combinava mais com jovens de corporações que tinham como mantra a contracultura. Exemplo da Apple de Steve Jobs e Steve Wozniack, fundada em 1976.

Em 1976 a IBM já tinha mais de 60 anos de história. Nesta década a Big Blue já era um nome respeitado por diversos feitos. Entre eles podemos citar o lançamento do IBM System/360, em 1964.

IBM System/360
IBM System/360

Simplesmente o primeiro computador corporativo (mainframe) moderno e bem-sucedido comercialmente que tinha um baita diferencial para a época: o upgrade de componentes, como o processador.

A empresa também ostenta o título de ter lançado o primeiro computador produzido em massa, o IBM 650, a invenção da DRAM e até mesmo uma contribuição com o desenvolvimento do código de barras, isso sem contar o fato que a empresa permanece até hoje como a líder no número de patentes registradas.

Nos anos 60 a IBM causou uma revolução com o lançamento do IBM System/360. Em proporções ainda maiores, a empresa repetiu o efeito nos anos 80 com o IBM PC. Porém a história poderia ter sido diferente.

Com seu olhar altivo, a IBM também subestimou o que poderia ser o mercado da computação pessoal. Porém contra fatos não há argumentos

No fim da década de 70 este mercado já movimentava US$ 15 bilhões, crescimento de 40% ao ano. Não tinha como fechar os olhos para isso. A IBM tinha que entrar nessa.

O primeiro portátil da IBM

IBM 5100
IBM 5100

Vale recordar que em 1975 a IBM começara sua movimentação em torno de computadores mais compactos. Neste ano a empresa apresentou o IBM 5100, um trambolhão de 22 Kg que custava US$ 20 mil e foi o primeiro computador portátil da companhia.

A inigulável década de 80

Nenhuma década foi tão interessante, em termos de causos e histórias marcantes, para a computação quanto a década de 80. Foi nesta década que diversos conceitos foram testados, alguns emplacaram outros só serviram de chacota, rivalidades firmadas que são contadas até hoje e contratos fechados que transforaram outsiders em titãs. A IBM, com o IBM PC, orbita em todos esses aspectos.

Sob a batuta do engenheiro veterano William C. Lowe, a IBM colocou em ação o que internamente era tratado como Projeto Chess.

A aposta da IBM no mercado de computadores pessoais e com preço mais competitivo. Mais de 150 funcionários da IBM estiveram envolvidos no desenvolvimento do PC. O IBM PC também reforça uma estratégia que a empresa já empregara no System / 23 Datamaster: o uso de componentes de outras empresas. O Datamaster usava o processador Intel 8085

Placa-mãe do IBM PC
Placa-mãe do IBM PC

Lowe até cogitou que a IBM comprasse alguma empresa que já estava no ramo dos computadores pessoais e o projeto fosse desenvolvido a partir de uma base que já estava estabelecida. Porém a ideia não foi pra frente. O comitê administrativo da IBM rechaçou a possibilidade da Atari (isso mesmo) produzir o computador para a IBM. A direção da IBM considerou essa possibilidade a coisa mais idiota que ouviram.

No fim das contas, Lowe ficou responsável por formar uma equipe para desenvolver esse projeto da IBM. O projeto tinha relação determinante com duas empresas. Intel e Microsoft.

A Intel forneceu o processador, o lendário 8088 que funcionava a 4,77 MHz, e a Microsoft a cereja do bolo, o sistema operacional.

O “melhor contrato da história”

Nada poderia ser melhor para esses parceiros. Estariam nada mais, nada menos equipando o primeiro computador pessoal da IBM. Sem dúvidas, a Microsoft foi a mais beneficiada com o acordo. Alías, em termos de mercado, o IBM PC foi um produto que ajudou mais a Microsoft do que a própria IBM.

Foi com o IBM PC que a Microsoft fez o que ficou marcado como o “melhor contrato da história da indústria do software. Conto mais sobre este acordo neste artigo. O resumo é: a Microsoft não fornecia o sistema de maneira exclusiva.

Na prática significava que a Microsoft poderia licenciar o sistema para outros fabricantes. Com esse modelo, a Microsoft pôde dar o passo fundamental para iniciar sua trajetória em relação ao domínio do seu sistema no mercado da computação pessoal, equipando inclusive máquinas que eram os famoso IBM PC “clones”.  A Microsoft é o que é hoje por causa deste acordo!

IBM PC, um sucesso imediato

O IBM PC foi um tremendo sucesso. Mais de 13.000 unidades do IBM PC foram vendidas em poucos meses. No fim do ano seguinte a IBM já falava em mais de 136.000 unidades comercializadas. Este é um computador para absolutamente qualquer pessoa que já desejou um sistema pessoal no escritório, no campus ou em casa, afirmara CB Rogers, Jr, vice-presidente da IBM na época.

A IBM chegou a ser responsável por 80% do mercado de computadores.

Parte desse sucesso estava ligada à sua arquitetura aberta. Isso significava que outros fabricantes poderiam produzir e vender componentes compatíveis com o IBM PC. Obviamente nem tudo era livre. Uma empresa tradicionalista como a IBM tinha que reservar um elemento para manter sobre seus domínios. Esse elemento era a BIOS, que podia ser licenciada com o pagamento de royalties.

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A engenharia reversa determinante

Porém, nada que a engenharia reversa não resolva, né? Ainda na década de 80 a Compaq, fundada por três ex-empregados da Texas Instruments (Rod Canion, Jim Harris e Bill Murto), lançou um dos primeiros computadores IBM-compatível.

A BIOS da IBM não foi patentada, porém estava protegida por direito autoral. Uma forma da IBM impedir que outras empresas copiassem este elemento táo importante para o funcionamento da máquina. Empresa, como a Corona Data Systems, foram processadas por copiar a BIOS da IBM.

No caso da Compaq foi aplicado o que é chamado do método “cleanroom”. Engenheiros da companhia que nunca tiveram acesso ao código da IBM verificaram e testaram todas as funções da BIOS do IBM PC e a partir disso escreveram uma versão funcional do firmware.

A Columbia Data Products também seguiu basicamente esta linha para reverter a BIOS. A propósito, a Columbia Data Products fez isso antes mesmo da Compaq.

A Compaq conseguiu realmente incomodar a IBM nesta corrida pela computação pessoal, os representantes da empresa em certo momento tinham até uma pose meio de rockstars. Você pode entender melhor essa rivalidade e seus desdobramentos no documentário Silicon Cowbows.

Até o Charles Chaplin deu o ar da graça

A divulgação do IBM PC também foi icônica. A empresa apostou na agência de publicidade Lord, Geller, Federico, Einstein, Inc. para desenvolver a campanha de promoção do novo computador. Esta campanha teria um personagem muito importante. Charles Chaplin.

Não original, o ator falecera em 1977. A IBM conseguiu os direitos do personagem com a família de Chaplin e o personagem foi encarnado nas peças publicitárias por Bill Scudder.

O comercial que ficou mais famoso é o primeiro da companha, intitulado “The House”. O comercial deixa bem claro a ideia do antes e depois. Como uma vida atarefada e desorganizada pode ganhar sentido e ser mais produtivo com um IBM PC.

Com os diversos clones, com valor mais em conta, o IBM PC foi saindo de cena e perdendo espaço. O IBM PC se tornou um parâmetro indiscutível para o mercado dos computadores pessoais em sua fase de ouro.

A massificação do mercado fez com que a IMB voltasse seus esforços para o que tornou uma das grandes corporações da história – o mercado corporativo. Em 2004 a IBM vendeu sua divisão de computadores pessoais para a Lenovo.

Porém uma coisa é indiscutível: nada foi tão representativo para a computação pessoal dos anos 80 pra cá quanto o IBM PC.

Principais características do IBM PC

  • Processador ntel 8088 4,77 MHz;
  • RAM: 16 KB a 256 KB;
  • Até duas unidades de disquete de 5,25 (disco rígido opcional);
  • Teclado IBM Modelo F;
  • Monitor monocromático IBM 5151 (modelo a cores opcional)
  • 5 slots de expansão de 62 pinos com a placa de vídeo IBM Color Graphics Adapter (CGA);
  • Teclado mecânico  IBM Modelo F;

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Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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