Não é de surpreender que os 5 computadores mais vendidos da história tenham sido lançados na mesma década. Os anos 80 pavimentou o mercado da computação pessoal, com empresas, outrora muito fortes, e que hoje em dia estão relegadas ao livros e artigos, como a Commodore e Sinclair, e outras que continuaram sendo figurinhas tarimbadas, IBM, Apple e Microsoft.
Embarque conosco nesse artigo que relembra esta década essencial para o mercado dos computadores, com 5 grandes campeões de venda. Os grandes astros de uma época em que o público, mídia e até os proprios participantes dessa indústria descobriam todo um novo universo. O universo em que o computador em cada lar se tornou uma ideia tangível.
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Commodore 64
Ano de lançamento: 1982
Cerca de 17 milhões de unidades vendidas
Muitos nem sequer lembram dela, mas a Commodore foi um verdadeiro colosso nos anos 80, no auge da corrida por pavimentar o mercado de computadores pessoais, e, mesmo após 26 anos desde sua falência, continua com o mérito de ter o computador mais vendido da história, o Commodore 64, apresentado durante a CES de 1982.
Estima-se que entre 12,5 a 17 milhões de cópias do Commodore 64 foram vendidas até o fim da sua produção em abril de 1994.
Diferente da Apple de Steve Jobs e o Apple II, um dos concorrentes diretos do Commodore 64 na época, Jack Tramiel (guarde este nome), fundador da Commodore, não tinha muito apreço por uma estrutura pensada nos mínimos detalhes e um acabamento vistoso para seus computadores, a meta era entregar um produto altamente competitivo que se traduzisse em vendas.
Com o Commodore 64 a estratégia foi essa. Com o prazo apertado, a companhia usou a mesma estrutura do Commodore VIC-20 (primeiro computador pessoal a atingir a marca de 1 milhão de unidades vendidas) , lançado em 1981, naquele que seria o Commodore VIC-40, mas que ficou como Commodore 64, em referência aos seus 64K de memória.
Enquanto o Apple II na versão com 4K de RAM era vendido por US$ 1298, o Commodore 64, com 64K de RAM e um processador superior, o MOS 6510 (o Apple II, assim como o VIC-20 rodava com o MOS 6502) tinha o preço sugerido de U$ 595.
Ainda tinha o fato da máquina contar com um chip de áudio revolucionário para a época e a compatibilidade com os periféricos do VIC-20. Realmente o Commodore 64 foi um marco, uma tacada certeira de uma empresa lendária.
Commodore Amiga 500
Ano de lançamento: 1987
Cerca de 6 milhões de unidades vendidas
Na segunda posição entre os computadores mais vendidos de todos os tempos há também o envolvimento da Commodore. A máquina em questão é o Commodore Amiga 500, mais conhecido como Amiga 500. Ele foi apresentado em janeiro de 1987 durante a CES daquele ano, juntamente com o Commodore Amiga 2000, modelo voltado para o mercado profissional.
Assim como o Commodore 64, o Amiga 500 é um capítulo essencial na história dos computadores pessoais. O Amiga 500, na sua época, foi o verdadeiro imperador no mundo dos gráficos e games. Uma máquina utilizada por estúdios de televisão para fazer videografias e animações 3D. O Amiga 500 era equipado com o processador Motorola 6800, 512 KB de RAM e 256 KB de memória interna.
Inicialmente, a Amiga era uma empresa independente, a Amiga Inc, batizada a princípio de Hi-Toro. O grande nome, e fundador, era Jay Mainer, que, insatisfeito, deixou a Atari em no início dos anos 80 e fundou a Hi-Toro/Amiga.
O projeto acabou não caminhando muito bem e em 1984 a Amiga estava falida, mas com diversos interessados em salva-la, incluindo Jack Tramiel. Lembra dele? O fundador da Commodore que citamos anteriormente.
Bom, em 1984 Tramiel não estava mais na Commodore, ele acabou renunciando da empresa que fundou. Após um breve intervalo ele fundou a Tramel Technology, estabelecendo o objetivo de desenvolver uma nova geração de computadores com melhor som e gráficos. Era Tramiel mostrando que seu lado combativo continuava intacto.
Em meio a essa nova empreitada, Tramiel descobriu que a Warner Communicatiom estava interessada em se livrar da divisão de computadores da Atari. Ele, então, adquire a Atari Inc, e renomeia para Atari Corporation.
Com a aquisição, aquele que foi maior nome da Commodore, descobre que uma das empresas interessadas na Amiga era justamente a Atari. A Amiga recebeu US$ 500.000 dólares e em troca receberia o acesso ao novo hardware que estava sendo desenvolvido.
Foi prometido que a Atari, já sob a batuta de Tramiel, pagaria US$ 3 por ação da Amiga. Tramiel resolveu encurralar a Amiga, cortando o preço da oferta por ação para 98 centavos. Naquele momento a Amiga não parecia ter muita escolha.
No entanto, a Amiga procurou a Commodore, e numa ação para barrar Tramiel e a Atari, três dias antes do fim do prazo do acordo com a Atari, a Commodore comprou a Amiga por U$ 4,25 por ação, e a Commodore ainda se comprometeu a pagar US$ 500 mil para a Atari, devolvendo o investimento que foi feito na Amiga.
O primeiro projeto com a Commodore administrando Amiga foi o Amiga 1000, lançado em 1985.Ele é creditado como o “primeiro computador multimídia, e marcou época.
Mas o grande Amiga continua sendo o Amiga 500, destinado ao mercado mais popular e que até hoje ostenta a segunda posição entre os computadores mais vendidos de todos os tempos, com mais de 6 milhões de unidades comercializadas.
MSX
Ano de lançamento: 1983
Cerca de 5 milhões de unidades vendidas
Entre todos os computadores citados nesse Top 5, o MSX é o que realmente cativou uma legião de brasileiros, público que usou essa máquina lendária nos anos 80 e 90 e que a enaltece até hoje, em diversos encontros de apaixonados por esse produto tão importante para a inicialização de gerações no mundo da informática. Cerca de 5 milhões do MSX foram vendidas em todo o mundo.
Na verdade, o MSX não era apenas um computador, seu criador, Kazuhiko Nishi, tinha a ideia de uma padronização do sistema.
Como entrega o nome de seu criador, o MSX não é de origem brazuca. Ele foi concebido no Japão, e apresentado em junho de 1983, como um microcomputador doméstico de 8-bits.
Nishi, que na época era vice-presidente da ASCII, acabou se aliando à Bill Gates, cofundador da Microsoft, empresa que era uma grande parceira da empresa que o japonês trabalhava.
Se a IBM PC e sua legião de Clones PCs tinham uma padronização acerca de micros com processadores de 16-bits, o MSX foi um conceito similar, mas com chips de 8-bits. Por isso que não dá pra chamar o MSX apenas de um computador ele era, na verdade, uma ideia, um conceito.
O MSX, como uma plataforma aberta, abriu caminho para que fabricantes de diversas partes do globo lançassem suas versões, mantendo a compatibilidade com a arquitetura, sistema, o BASIC que a Microsoft havia desenvolvido.
A gigante japonesa Sony, primeira a lançar uma versão do MSX, puxou uma fila que foi seguida por outros titãs, como Toshiba, Canon, Yamaha, Fujitsu, Hitachi, entre outras.
No Brasil, às duas marcas que brilharam com o MSX foram a Gradiente, com o Expert e a Sharp com o Hotbit. Pra você ter uma ideia de como o MSX foi valorizado no Brasil, em 1998, quando o mercado regular de MSX já estava finalizado há alguns anos (a produção foi encerrada em 1993), lojas de micros usados ainda tinham uma boa procura por MSX, vendidos na época entre R$ 50 a R$ 100.
O MSX durante seu ciclo de mercado também teve versões mais poderosas em termos de hardware, como o MSX2 e o MSX turboR, com o processador R800 rodando a 7.16 Mhz. O processador do MSX original é o Zilog Z80 (rodando a 3.58 Mhz)
Em termos de RAM, começou com 8KB, mas chegou a 128 KB, embora a versão com 64 KB tenha sido a mais comum.
Não dá pra deixar passar também o fato do MSX ter sido a “casa” para games icônicos. A Franquia Metal Gear, do midiático Hideo Kojima, prosperou no MSX. O primeiro jogo comercial brasileiro, Amazônia, de 1983, foi lançado para o MSX.
Sinclair ZX Spectrum
Ano de lançamento: 1982
Cerca de 5 milhões de unidades vendidas
O ZX Spectrum é outro marco na história dos computadores, e também é um marco de uma mente brilhante, a do criador desse e de muitos outros apetrechos, o britânico Sir Clive Sinclair.
Além da sua honrosa participação no mercado de computadores, Clive Sinclair também foi responsável nos anos 70 por uma calculadora de bolso, não a primeira, é verdade, mas a que efetivamente cabia no bolso. O inventor também se aventurou por um protótipo de televisão portátil, e também deu seus pulos na área do transporte pessoal, com moto elétrica, bicicleta e até um carro elétrico, o Sinclair C5, que acabou sendo um fiasco.
O ZX Spectrum foi o terceiro computador da Sinclair. Lançado em abril de 1982, o computador já se diferenciava dos anteriores no nome, ao invés de seguir a ordem numérica, assim como as opções anteriores da Sinclair – ZX80 e ZX81, a nova máquina recebeu o sufixo Spectrum (espectro) .
Uma forma que Clive Sinclair pensou para referenciar o fato desse computador produzir imagens a cores, ao invés do preto e branco. A reprodução de um espectro de cores.
O ZX Spectrum podia utilizar oito cores diferentes na tela, codificados de 0 a.7. Cada cor tinha dois níveis de brilho. A resolução do computador era 256 x 192 pixels.
Assim como a leva de MMXs, lançados há partir de 1983, que vimos acima, o ZX Spectrum também era um computador de 8-bits, carregando o mesmo mítico processador Zilog Z80. Também como os MMXs, a base de unidades vendidas do Spectrum gira em torno de 5 milhões.
O ZX Spectrum rodava com 16 KB de RAM, e, assim como outros computadores já mencionados nessa lista, se tornou um querido por seus jogos. Em seu país Natal, Reino Unidos, o computador da Sinclair chegou a fazer parte de aulas de informática nas escolas.
No Brasil, o ZX Spectrum chegou a ter umas versões pirateadas, como o TK-90X e o TK 95, produzidos pela Microdigital.
Em 1996, a patente do ZX Spectrum foi adquirida pela Amstard. Sob a nova direção, foram lançados o Spectrum +2, com leitor de fitas cassetes incorporado, e o Spectrum +3 com um drive de disquetes de três polegadas. A repercussão não foi a mesma, e a produção do Spectrum terminou em 1992.
IBM PC (5150)
Ele não é mais vendido da história, mas pode ser considerado o grande vencedor, analisando a forma como o mercado se desenrolou. Em uma briga por padrões, a IBM com sua arquitetura universal, materializada no IBM PC (5150) conquistou o patamar de um sinônimo de computador, traduzido em duas letras, PC (Personal Computer, computador pessoal).
Diferentemente da Apple, com seu ecossistema fechado, o plano da IBM era arquitetura de computador pessoal aberta, licenciadas para diferentes fabricantes.
Num primeiro momento a IBM nem tinha pretensão de entrar para o mercado de computadores pessoais. É bom lembrar que quando o IBM PC chegou ao mercado, em 1981, a “big blue”, como é conhecida a IBM já tinha 70 anos de mercado, um legado completamente estabelecido em torno do mercado profissional.
O direcionamento de seus “canhões” para o mercado doméstico e de pequenas empresas não era um movimento esperado pela IBM, mas, tudo pode mudar, certo? Ainda mais quando falamos de mercado.
Em 1975, a IBM já mostrava uma movimentação que culminou no que aconteceu na década seguinte. Neste ano, a empresa lançou o IBM 5100, um computador compacto, para os padrões que a empresa se consolidou, e direcionado para pequenas empresas ou institutos científicos.
Para uma opção realmente para o público doméstico, a IBM cogitou na época comprar uma empresa de computadores de 8-bits ou desenvolver seu próprio computador. A escolha foi a segunda, o PC foi desenvolvido, tendo com base um processador Intel 8088 – uma versão mais barata do 8086. A versão mais básica do IBM PC tinha apenas 16 KB de RAM, via expansão era possível chegar a 640 KB.
A essência de uma mentalidade centrada nos seus talentos internos não foi deixada de lado, o monitor utilizado era da própria IBM, um padrão desenvolvido anteriormente no Japão, e esse computador tinha um elemento, que temos contado até hoje, que era o grande trunfo da IBM, e que foi devidamente protegido por direitos autorais, a BIOS.
O que a IBM jamais esperava era que já em 1982, via engenharia reversa, a falsificação da BIOS aconteceria, permitindo uma legião de computadores clones. Para saber mais sobre essa parte específica não deixe de assistir o documentário Silicon Cowbows e a série Halt and Catch Fire.
O sistema operacional do computador da IBM ficou nas mãos de um cara já citado nesta matéria, Bill Gates. A Microsoft fez um dos melhores acordos da história com a IBM, elemento fundamental para que a gigante de Redmond seja tão dominante até hoje no mercado de software. Relembrei este acordo num artigo especial, clique aqui para ler.
A campanha publicitária com o personagem Carlito de Chaplin, interpretado por Billy Scudder nos comerciais da IBM, foi um tremendo sucesso, assim como se vendas. A IBM que prévia vender apenas 250.000 unidades do IBM PC em cinco anos, vendeu em um ano e meio 750.000 unidades. Ao todo, foram cerca de 3 milhões de unidades vendidas.
O baque dos “clones” foi grande para a IBM, mas nenhum deles jamais irá abalar esse que ditou o que encontramos até hoje como base do que é aplicado nos computadores.
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