Diferente de muitos dos primeiros roteadores e pontos de acesso wireless (como o lendário Linksys WRT54G) que eram baseados em Linux, a grande maioria dos APs e roteadores atuais são baseados em sistemas proprietários como o VxWorks, desenvolvidos com o objetivo de cortar custos, permitindo que os fabricantes reduzam o volume de memória RAM e Flash e possam utilizar SoCs mais baratos.
Um bom exemplo dessa tendência é o que aconteceu com o próprio Linksys WRT54G. A primeira versão do roteador era baseada em um SoC Broadcom BCM4702 de 125 MHz, que foi atualizado para o BCM4712 operando a 200 MHz na versão 2.0. A sequência de upgrades continuou até o WRT54G v4.0, que manteve os 16 MB de memória RAM e 4 MB de memória Flash e rodava Linux, mas a partir do WRT54G v5.0 a Linksys estragou a linha, reduzindo para 8 MB de RAM e meros 2 MB de Flash e passando a usar o VxWorks. Não apenas estes modelos recentes eram mais fracos em relação ao hardware, mas também rodavam um sistema operacional menos robusto e ofereciam um desempenho inferior ao lidar com grandes volumes de tráfego. A versão com Linux foi posteriormente relançada na forma do WRT54GL, mas ele era consideravelmente mais caro devido ao pequeno volume de produção.
O lendário WRT54G
Ao mesmo tempo, surgiu uma grande segmentação dentro das linhas de produtos, com os aparelhos oferecendo apenas as funções relacionadas às funções às quais são destinados, muito embora o hardware suporte muito mais. Com isso, muitas vezes produtos dentro da mesma linha são diferenciados apenas pelo software, com o fabricante ativando ou desativando funções específicas dentro do firmware de acordo com o modelo.
É possível extrair bem mais funções do seu roteador usando um firmware alternativo, como o DD-WRT (www.dd-wrt.com), OpenWRT (http://www.openwrt.org/) ou o Tomato (www.polarcloud.com/tomato), que liberam este potencial oculto, fazendo com que mesmo modelos baratos e/ou antigos possam oferecer muitas funções encontradas apenas em modelos enterprise, como QoS e VPNs. Um bom exemplo é este velho Netgear WG602-v3:
Originalmente ele é um ponto de acesso bastante limitado, que se limita a oferecer as opções básicas e um suporte bem limitado à funções de bridge e repetidor baseadas no WDS, que funcionam apenas em conjunto com alguns modelos específicos da própria Netgear. Se você quiser usá-lo como um repetidor de um ponto de acesso de outra marca, ativar o QoS, firewall ou mesmo usar um mero servidor DHCP, vai ficar apenas na vontade. Como se não bastasse, o firmware possui um limite de 20 conexões simultâneas, uma pesada limitação até mesmo para algumas redes domésticas.
Instalando o DD-WRT, por outro lado, ele passa a oferecer funções muito mais completas, oferecendo desde um servidor DHCP com possibilidade de definir endereços estáticos para os clientes, até funções avançadas de controle de banda. Ele passa também a poder ser configurado como um repetidor, bridge ou cliente wireless universal, capaz de conversar com produtos de diferentes fabricantes.
Tanto o DD-WRT quanto o OpenWRT são sistemas Linux descendentes do firmware open-source do Netgear WRT54G, que foi liberado em 2003 sob a GPL (o OpenWRT surgiu quase que imediatamente depois que o código foi liberado, enquanto o DD-WRT surgiu como um fork do Sveasoft, um firmware comercial). Em ambos os casos, o objetivo inicial era oferecer suporte apenas aos derivados do WRT54G, mas com o tempo eles passaram a oferecer suporte a um número cada vez maior de modelos e a incluírem nova funções.
O Tomato por sua vez é um firmware mais simples, com foco na facilidade de uso. Ele também oferece suporte a QoS, controle de acesso e WDS, além de oferecer gráficos de uso de banda, permitir aumentar o número de conexões simultâneas (útil ao baixar torrents) e assim por diante. A grande limitação é que ele é compatível apenas com um pequeno número de modelos baseados em chipsets Broadcom, como o as variantes do WRT54G (G, GL, GS, TM, com exceção dos G e GS de fabricação recente, que possuem apenas 2 MB de Flash), Buffalo WHR-G54 e o Asus WL500GE, o que faz com que o uso seja muito mais restrito.
Apesar das origens em comum, o DD-WRT e o OpenWRT se diferenciam em diversos aspectos. De uma forma geral, o DD-WRT é mais amigável, com uma interface web mais consistente, uma base de dispositivos suportados fácil de pesquisar e um bom suporte através dos fóruns. O OpenWRT é desenvolvido sob uma filosofia mais “power-user”, com uma ênfase maior na configuração através da linha de comando e melhor acesso aos arquivos de configuração e às entranhas do sistema, complementando as funções disponíveis na interface web. Ambos suportam a instalação de pacotes adicionais, mas o OpenWRT leva vantagem em relação à variedade de pacotes disponíveis. Por outro lado, o DD-WRT (na versão “micro”) oferece compatibilidade com muitos APs low-end, com apenas 2 MB de memória Flash que são incompatíveis com o OpenWRT.
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