Em um novo livro lançado hoje (11) sobre a Amazon, com foco em seu fundador Jeff Bezos, há revelações de que Bezos, que é também é dono da companhia aeroespacial Blue Origin, tinha inveja do sucesso da SpaceX, do seu principal rival Elon Musk.
O livro Amazon Unboud, disponível na Amazon americana, do autor Brad Stone, foca na ascensão meteórica de Bezos e da Amazon na última década. Muito da narrativa do livro gira em torno da Amazon, mas um capítulo focado na Blue Origin revela que a empreitada de Bezos é mais complicada do que aparenta.
No final de 2016, Jeff Bezos já apresentava preocupações sobre a falta de progresso nas operações da Blue Origin. Embora a companhia tivesse iniciado o lançamento do foguete New Shepard, Jeff Bezos, na mesma época, assitia ao lançamento foguete Falcon 9, bem maior que o New Shepard, da SpaceX.
Além disso. Recentemente, Bezos viu a SpaceX derrotar a Blue Origin em um programa de licitação da NASA para desenvolvimento de um aterrissador lunar, a ser lançado em 2023.
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O livro afirma que o todo-poderoso da Amazon convidou alguns executivos da Blue Origin para almoçar, que, durante esses encontros, reclamaram sobre a fraca comunicação interna da empresa, reuniões longas, e decisões questionáveis relativas aos gastos financeiros.
Um engenheiro presente nessas reuniões descreveu a Blue Origin como uma Aldeia Potemkin (termo para designar qualquer construção, literal ou figurativa, cuja única função é representar uma fachada para um país que está se dando mal), com uma cultura totalmente disfuncional sob uma fachada industrial.
Após essas reuniões, Bezos informou à Rob Meyerson, então presidente da Blue Origin, que iria contratar um CEO para a empresa.
De acordo com o livro, o processo para encontrar um executivo incluiu uma entrevista com a COO (Diretora de operações) da SpaceX, Gwynne Shotwell. Shotwell, que está na SpaceX desde 2002, recusou a oferta.
No ano seguinte, em 2017, Bob Smith, que já possuía experiência na indústria aeroespacial, foi o escolhido por Bezos. Smith seria a pessoa que iria liderar a transição da Blue Origin de sua fase Startup para se tornar um grande nome da indústria.
A intenção principal de Bezos era começar a ganhar processos de licitação do governo americano.
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O livro esmiúça a polêmica envolvendo a Blue Origin e outra empresa aeroespacial, a United Launch Alliance (ULA), que, em 2014, decidiu comprar os motores de foguete BE-4 da Blue Origin para o seu foguete Vulcan.
Nos anos posteriores, a Blue Origin anunciou que iria construir o gigante foguete New Glenn, que iria competir com o Vulcan.
Desse modo, as relações entre as duas empresas foram encerradas e tensões começaram a surgir, sobretudo em convenções sobre tecnologias aerospaciais, de acordo com o autor do livro, Brad Stone.
O autor comenta que os executivos da United Launch Alliance souberam, através de funcionários da Blue Origin, que Jeff Bezos “estava frustrado” pelo fato de o governo americano financiar “os sonhos espaciais” de Elon Musk.
À época, Bezos afirmava aos colegas que também queria “ser pago para praticar” com o lançamento e aterrissagem do foguete New Gleen.
O livro esclarece que, objetivando a competição com a SpaceX, Bezos cometeu um erro ao contratar Bob Smith como CEO da empresa. Smith, ao formar seu time executivo, inseriu pessoas de companhias com práticas mais tradicionais, em vez de revolucionárias.
A maioria dos executivos de alto escalão da Blue Origin advinham de empresas como a Boeing, a Northrop Grumman e a divisão aeroespacial da Rolls-Royce, além de outras empresas mais tradicionais.
Nesse sentido, criou-se uma cultura mais cautelosa na Blue Origin, ao contrário da SpaceX, que trabalha de maneira mais disruptiva.
Isso acaba resultando em um ritmo de desenvolvimento mais lento, fazendo com a Blue Origin se torne ainda menos competitiva se comparada à época em que Jeff Bezos decidiu inserir um CEO na empresa.
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