Facebook e Instagram podem sair da Europa

Continuam a crescer as batalhas políticas do Meta, nome atual da companhia de Mark Zuckerberg, com o risco de o Facebook e o Instagram saírem da Europa.

Na verdade, inicialmente, essa nova treta surgiu por parte do próprio Meta. Na semana passada, a empresa, em seu inesquecível relatório financeiro de 2021, afirmou que pode remover o Facebook e o Instagram da Europa.

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O Meta acredita haver muita coisa atrasando a negociação. De acordo com a empresa, não será mais possível depender de suas cláusulas de contrato.

Facebook Instagram Europa

Em tom de ameaça, o relatório informava que, se os órgãos reguladores da Europa não resolvessem a questão da “ambiguidade” acerca da legislação sobre a transferência transatlântica de dados.

Desse modo, segundo o Meta, “Se a União Europeia e os EUA não firmarem um novo acordo em breve, o Facebook e o Instagram terão que sair da Europa”.

Motivo pelo qual o Facebook e o Instagram podem sair da Europa

Primeiramente, para entender o que o Facebook quis dizer com a “ambiguidade” na lei de dados na Europa, precisamos voltar um pouco no tempo.

Em 2013, Edward Snowden, ex-funcionário da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA) expôs ao mundo o nível de espionagem praticada pelos EUA em outros países — incluindo o Brasil.

Esse fato, portanto, forçou, indiretamente, diversos governos europeus e o governo americano a criar um novo pacto de transferência transatlântica de dados, de modo a garantir a proteção da privacidade digital dos cidadãos europeus.

Facebook Instagram Europa
O Privacy Shield foi anulado em 2020.

O Privacy Shield (Escudo de Privacidade), acordo judicial, entre a União Europeia e o Estados Unidos entrou em vigor em 2016 para garantir que empresas americanas recebessem dados da União Europeia de acordo com as leis de privacidade digital que visam proteger o cidadão Europeu.

No entanto, em 2020, a Suprema Corte da Europa invalidou o pacto sob o argumento de que os dados de cidadãos europeus ainda não estavam seguros no território americano, comprometendo, portanto, os negócios do Facebook e de outras companhias que trasportam informações digitais entre fronteiras internacionais.

“A Europa não precisa do Facebook”

Após a ameaça da Meta em remover o Facebook, bem como o Instagram, da Europa, as autoridades do velho continente não se sentiram ameaçadas.

“Após sofrer um ataque hacker, há quatro anos eu já não uso mais o Facebook e o Twitter e a vida está sendo fantástica”, disse o Ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, na última segunda-feira (7). 

Bruno Le Maire, Ministro das Finanças da França concordou com o colega alemão. “Eu posso confirmar que a vida é bem melhor sem o Facebook”, afirmou Le Maire.

ministros franca alemanha
O Ministro de Finanças e Economia da França (à esquerda) ao lado do Ministro da Economia alemão. Ambos afirmaram que a Europa estaria melhor sem o Facebook. Créditos: AFP

O francês ressaltou que as “gigantes digitais” precisam entender que a Europa irá resistir e garantirá sua soberania.

Enquanto isso, os Estados Unidos e a Europa tentam, por meses, negociar um novo acordo para a transmissão de dados através do Oceano Atlântico.

Arregou?

Na última terça-feira (8), após a enorme repercussão da remoção do Facebook e do Instagram na Europa, o Meta lançou um comunicado afirmando o contrário.

Mark ZuckerbergFacebook Instagram Europa
Após repercussão negativa, o Meta volta atrás.

“Meta Não Está Ameaçando Sair da Europa” é o título do texto que a companhia publicou em seu blog oficial. O comunicado argumenta que a “ameça” foi apenas uma maneira que a companhia encontrou para reiterar as informações necessárias exigidas pelos investidores sobre a “incerteza” dos negócios da empresa na Europa.

“Não temos vontade alguma de sair da Europa, obviamente. No entanto, a realidade é que o Meta (Facebook/Instagram), assim como outros negócios, organizações e serviços, dependem da transferência de dados entre a União Europeia e os Estados Unidos para operar nossos serviços globais. Não estamos sozinhos nessa. Há, pelo menos, 70 outras empresas de variadas indústrias. Dentre essas 70, 10 são europeias, que também fizeram considerações, em seus relatórios financeiros, sobre a transferência de dados”.

O problema não é apenas o Facebook

Como dito pelo próprio Meta, cerca de 70 empresas se preocupam com a questão de transferência transatlântica de dados.

O cidadão europeu não poder usar o Instagram ou o Facebook não é o único problema em jogo.

Aaron Cooper, vice-presidente de políticas globais da BSA (Business Software Alliance) — famosa associação comercial criada pela Microsoft em 1988 para representar as maiores empresas de software do mundo —, apresenta outros fatores.

De acordo com Cooper, a possibilidade de transferir dados entre nações é de suma importância para todos os tipos de empresas, pelos mais diversos motivos.

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Uma demonstração genérica da transferência de dados transatlântica de uma empresa com sede na Europa.

“Se você for dono de uma companhia área, ou de um banco, ou de uma empresa de planos de saúde, você está transferindo dados (recebendo e enviando) entre diferentes países”, disse Aaron Cooper.

Cooper ressaltou, ainda, que tudo que envolve computação em nuvem também envolve a transferência de dados.

Sem o Meta, a questão seria mais fácil de resolver

A BSA representa a Microsoft, a Oracle, a Amazon Web Services, a IBM, a Intel, mas, surpreendentemente, não tem o Meta em seu catálogo de clientes.

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Alguns dos membros da BSA.

O trabalho da BSA, sobretudo a função de Aaron Cooper é advogar por uma resolução judicial para transferência transatlântica de dados. Isso seria muito mais fácil de ocorre sem o envolvimento do Facebook.

Pois, tendo em vista o noticiário atual, o Facebook (Meta) não possui uma afeição por parte dos governos. Tal habilidade política é extremamente necessária para negociar o seu principal problema.

Além disso, após a “ameaça”, o Facebook se tornou o rosto da causa sobre a importância da transferência de dados. Sendo assim, quanto mais o Facebook adota essa postura, haverá maiores problemas políticos.

Por fim, certamente, a Europa encontrará uma forma de manter suas fronteiras digitais abertas, mas não pela possível saída do Facebook.

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