A Apple superou as expectativas de Wall Street no último trimestre, com alta expressiva na venda de iPhones e receita histórica em serviços. Mas nem isso acalmou o mercado — que segue preocupado com tarifas, geopolítica e a lenta resposta da Apple na corrida da inteligência artificial.
Receita bilionária não basta para aliviar a pressão
A Apple encerrou seu terceiro trimestre fiscal de 2025 com resultados impressionantes: foram US$ 94 bilhões em receita e um lucro líquido de US$ 23,4 bilhões — crescimento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. O desempenho superou as previsões dos analistas, com um lucro por ação de US$ 1,57, frente aos US$ 1,43 estimados.
Segundo Tim Cook, CEO da empresa, a Apple registrou recordes em todas as regiões onde atua, com crescimento de dois dígitos nas áreas de iPhone, Mac e Serviços. “Tivemos um trimestre de junho histórico”, afirmou. A margem bruta ficou em 46,5% e o dividendo por ação foi mantido em US$ 0,26.
Mesmo com esse desempenho robusto, a recepção do mercado foi fria: as ações da Apple subiram apenas 2% após o anúncio. E, no acumulado do ano, os papéis ainda estão 17% abaixo do patamar de janeiro.
O peso dos impostos de Trump e das incertezas globais
Uma das maiores dores de cabeça da Apple atualmente atende pelo nome de tarifas. As medidas protecionistas reativadas pelo presidente Donald Trump continuam elevando os custos da empresa. O impacto neste trimestre ficou em torno de US$ 800 milhões — menos que os US$ 900 milhões previstos —, mas deve piorar.
Para o trimestre atual (encerrado em setembro), a empresa estima um impacto adicional de US$ 1,1 bilhão, caso nada mude na política tarifária dos EUA contra China e Índia.
“A Apple continua extremamente exposta ao tabuleiro geopolítico global”, afirmou Kate Leaman, analista-chefe da AvaTrade à Fortune. “Tarifas, regulamentações e cadeias de suprimento são desafios concretos para o modelo de negócios da empresa.”
Mesmo com o esforço de transferir parte da produção para a Índia, o histórico vínculo com a China, alvo direto das medidas de Trump, ainda pesa. Analistas como Dan Ives, da Wedbush, classificam a questão tarifária como um problema persistente e potencialmente explosivo.
Inteligência artificial: a ferida aberta no império da maçã
Bastidores revelados: Como o ChatGPT mergulhou a Apple em caos e insegurança
Enquanto rivais como Google, Microsoft e Meta aceleram em direção a um futuro moldado por IA, a Apple parece ainda estar se aquecendo no pit stop. Apesar de ter anunciado recursos de “Apple Intelligence” na WWDC 2025, a percepção no mercado é de que a empresa está atrasada, e perdendo talentos.
A Meta, por exemplo, conseguiu recrutar ninguém menos que Ruoming Pang, ex-líder da divisão de IA da Apple, com um pacote avaliado em mais de US$ 200 milhões. Outros quatro pesquisadores também migraram para a rival, alimentando a narrativa de que o império da empresa comandada por Tim Cook está enfraquecido no setor mais quente da década.
Apesar de Cook ter reiterado que os investimentos em IA estão aumentando, analistas como Dipanjan Chatterjee, da Forrester, avaliam que a Apple já admite, nos bastidores, que precisará recorrer a aquisições para recuperar o tempo perdido.
Entre os rumores, o nome mais citado é o da startup Perplexity — considerada uma possível peça-chave para reinventar a Siri e tentar diminuir a distância frente aos concorrentes.