Metaverso para forças armadas já é realidade

Metaverso para forças armadas já é realidade

O metaverso continua sendo o principal assunto da indústria tecnológica atualmente, mas não é apenas esse setor que investe no universo virtual, pois até mesmo as forças armadas dos Estados Unidos já se preparam para entrar no metaverso.

As tecnologias principais para o metaverso são a realidade virtual e aumentada, headsets com displays, simulações em 3D e ambientes virtuais. Tudo isso já está em desenvolvimento pelo complexo industrial militar dos Estados Unidos.

Os resultados são menos polidos que o metaverso comercial, como o proposto por Mark Zuckerberg, mas há uma boa chance de funcionar melhor para as forças armadas.

No último dia 10 deste mês, dois pilotos de caça realizaram uma experiência de extrema altitude no metaverso. A mais de mil metros acima do solo, os pilotos, cada um em um jato Berkut 540, trajavam headsets AR personalizados para conexão com um sistema que transmitia de maneira sobreposta uma imagem de outra aeronave voando ao lado deles.

O capacete da Red6

A aeronave era de combustível e um dos pilotos executou uma manobra de reabastecimento com o tanque virtual enquanto o outro piloto observava. Assim se concretizou o metaverso das forças armadas dos Estados Unidos.

Misturando realidade aumentada, inteligência artificial e gráfico de videogames, os pilotos puderam praticar combates aéreos contra oponentes virtuais, incluindo aeronaves russas e chinesas, além de várias manobras.

A empresa responsável pela tecnologia é a Red6, que afirma ser uma forma mais realista de testes das habilidades dos pilotos em vez dos simuladores convencionais de voo.

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O desenvolvimento da aeronave virtual.

“Conseguimos voar contra qualquer ameaça que quisermos. E essa ameaça pode ser controlada por remotamente por um ser humano ou através de inteligência artificial”, afirmou Daniel Robinson, CEO da Red6.

Aliás, a tecnologia de realidade virtual da Red6 foi desenvolvida para funcionar em condições mais extremas, com menor latência e alto índice de resposta se comparada aos headsets AR ou VR comerciais.

Daniel Robinson ainda afirma que a Red6 trabalha atualmente em uma plataforma que permitirá a representação de vários cenários diferentes em realidade aumentada ou virtual.

“O que estamos desenvolvendo é de fato um metaverso das forças armadas. É como se fosse um videogame multiplayer nos céus”, afirma Robinson.  Confira o vídeo abaixo.

Parceria entre governo dos EUA e startups ocorrem desde 2018

Embora o metaverso ainda não tenha uma definição concreta, várias startups, governos e fundos de investimento militares já começam entrar no negócio, sobretudo nos Estados Unidos.

O metaverso, aliás, já está presente em alguns dos mais recentes sistemas militares das forças armadas dos Estados Unidos. O capacete para o novo jato F-35, por exemplo, inclui um display de realidade aumentada que apresenta dados telemétricos e informações de alvos na parte superior do display de vídeo da aeronave.

Em 2018, o exército dos Estados Unidos anunciou que iria pagar a Microsoft US$ 22 bilhões para desenvolver uma versão do headset HoloLens para aeronaves, chamado IVAS (Integrated Visual Augmentation System – Sistema Integrado de Aumento Visual).

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Soldado do exército americano usando protótipo do IVAS.

Palmer Luckey, fundador da Oculus — empresa de VR comprada pelo Facebook que fabrica os headsets de mesmo nome —, afirma que a decisão de Mark Zuckerberg em entrar de cabeça no metaverso criou uma grande expectativa no mundo comercial.

Luckey, em 2017, após a venda da Oculus, fundou a empresa de defesa Anduril e afirma que, apesar do hype recente pelo metaverso, há um grande potencial para o mundo virtual no setor de defesa.

Isso porque, segundo Luckey, o treinamento militar é bastante importante e muito caro.

Atualmente, os treinamentos militares dos EUA com tecnologias AR e VR já são rotinas. O Centro de Pesquisa Naval e o Instituto de Tecnologias Criativas da Universidade do Sul da Califórnia desenvolveram o projeto BlueShark, um sistema que permite aos marinheiros pilotarem os navios em um ambiente virtual.

Projeto BlueShark da marinha americana.

Recentemente, as forças armadas dos Estados Unidos começaram a explorar de maneira mais complexas os mundos virtuais. Há também um crescente interesse em combinar e conectar mundos virtuais similarmente a forma pensada pelo metaverso.

Forças Armadas dos Estados Unidos perde para inteligência artificial no metaverso 

Caitlin Dohrman, gerente geral a divisão de defesa da empresa Improbable, companhia que desenvolve tecnologias de mundos virtuais, afirma trabalhar com Departamento de Defesa do governo dos EUA para desenvolver simulações militares.

Enfim, assim como a proposta do metaverso, para ter eficiência, os sistemas militares mais recentes dependem bastante de inteligência artificial. No final de 2020, a tecnologia de realidade virtual da Red6 foi utilizada para simular um combate real entre um piloto e uma aeronave controlada por um algoritmo de inteligência artificial.

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Avião real ao lado de avião virtual da Red6

Esse algoritmo de IA é parte de um projeto de combate aéreo da DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency – Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa).

O sistema de artilharia — criado por outra startup chamada EpiSci — da aeronave controlada por IA aprendeu como superar um oponente em termos de manobra aérea e combate através de um processo de tentativa e erro.

A inteligência artificial, eventualmente, desenvolveu habilidades sobre-humanas e conseguiu vencer seu oponente humano em todas as vezes.

Outro projeto da DARPA, batizado de Instrução de Tarefa Habilitada por Percepção, visa criar um assistente virtual que observa o que o soldado está fazendo e fornece orientações através de voz, som ou imagens.

Combate virtual não substitui o real 

Bruce Draper, o chefe de projetos da DARPA, afirma que o real valor das tecnologias exploradas pelas forças armadas dos EUA reside na combinação entre o real e o virtual.

Segundo Draper, o metaverso é “majoritariamente virtual, e mundos virtuais são úteis para treinamentos, mas nós vivemos no mundo físico”. “A atividade militar é inerentemente física, não sendo sobre um metaverso abstrato”, afirma Draper.

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Ademais, os esforços para combinar o mundo real com o virtual já encontraram problemas.

Em março deste ano, um memorando da Microsoft foi vazado, expondo resultados ruins nos testes do IVAS, a versão do HoloLens para a forças armadas dos Estados Unidos.

Um mês depois, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos publicou uma auditoria afirmando que o investimento nesse headset poderia ser um prejuízo.

Em contrapartida, a Microsoft publicou várias declarações de membros do alto escalão do exército americano afirmando o potencial do IVAS. Além disso, a empresa também apontou para um relatório de 2021 do Departamento de Defesa que apontava a importância de desenvolver o dispositivo rapidamente, permitindo que os problemas fossem corrigidos ao longo do tempo.

Essas iniciativas caras e de alta visibilidade só aumentou a confiança no desenvolvimento  metaverso das forças armadas dos Estados Unidos.

Metaverso é o futuro das forças armadas dos Estados Unidos?

Doug Philippone, um dos executivos da Palantir, empresa que investe na Anduril, afirmou que o metaverso é o futuro do treinamento militar. “Mas eu também enxergo [o metaverso]como o futuro do combate militar e das decisões militares. Portanto, não é apenas sobre combate, mas, sim, sobre tomar decisões”, disse Philippone, que também é cofundador de outra empresa que investe na Red6.

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Sistema automatizado de decisões militares da Anduril.

No entanto, ainda não se sabe o quão presente essa tecnologia estará no campo de batalha, ou até mesmo nos exercícios de treinamento.

Sorin Adam Matei, professor da Universidade de Purdue, em Indiana, desenvolveu plataformas virtuais de treinamento em campo de batalha para o exército americano.

Para ele, a tecnologia que as forças armadas dos Estados Unidos utilizará no campo de batalha será consideravelmente mais simples do que imaginam os empolgados com o metaverso.

Segundo Matei, uma versão mais simples do headset IVAS pode ser eventualmente integrada a uma mira de rifle de realidade aumentada.

“Quando você está lá fora atirando e recebendo tiros, a última coisa que você quer se preocupar é sobre outra peça de equipamento”, afirma Matei. Além disso, o professor destaca que a tecnologia não precisa ser tão cara quanto o metaverso para ser útil.

Fonte: Wired

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