Quartz: nem mesmo os funcionários entendem NFT da Ubisoft

Quartz: nem mesmo os funcionários entendem NFT da Ubisoft

Na semana passada, a Ubisoft revelou uma plataforma para NFT chamada Quartz, mas a repercussão foi bastante negativa. No dia 7 deste mês, quando a Ubisoft anunciou a “novidade”, publicamos aqui uma matéria explicando sobre como funcionariam os itens colecionáveis.

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O estúdio francês iria implementar inicialmente o Quartz no jogo Tom Clancy’s Ghost Recon Breakpoint em alguns mercados, incluindo o Brasil.

O vídeo de anúncio do NFT, aliás, contava 17 mil dislikes quando publicamos a matéria sobre o Quartz. Agora, o número de dislikes já ultrapassou a faixa dos 40 mil.

Além disso, segundo informações do site Kotaku, obtidas de fontes internas da Ubisoft, nem mesmo os desenvolvedores têm noção do que fazer com o novo esquema NFT da Ubisoft.

O site obteve mensagens do post de anúncio do Quartz na rede social interna da Ubisoft, a MANA. Segundo a matéria, a postagem estava lotada de perguntas dos desenvolvedores de todas as divisões da empresa.

Funcionários da Ubisoft enviam mensagens repletas de dúvidas, críticas e sarcasmos

Nas mensagens, alguns desenvolvedores da Ubisoft afirmaram não compreender quais problemas seriam resolvidos com a inserção do Quartz.

Outros demonstraram preocupação em relação à integração obrigatória de NFTs em seus jogos, possivelmente sem relação à franquia Ghost Recon.

Quartz NFT Ubisoft
Créditos: Ubisoft

“Eu ainda não consigo entender o ‘problema’ que estamos resolvendo aqui”, escreveu um dos funcionários. “Será que vale a pena a repercussão (extremamente) negativa que isso irá causar?”.

Enquanto outro foi mais incisivo, contestando de maneira bem ousada, por sinal, a iniciativa e criticando o modus operandi dos NFTs.

“Como é possível que vocês olhem para propriedade privada, especulação, escassez artificial e egoísmo, e dizer ‘sim, isso é legal, eu quero isso, vamos torná-lo arte’”.

“Geralmente, eu tento pensar positivo quanto aos nossos anúncios, mas este [Quartz] é perturbador”, finalizou o desenvolvedor.

Além desses três desenvolvedores, outros levantaram questões sobre o impacto ambiental.

Desenvolvedores do estúdio da Ubisoft em Paris. Créditos: Ubisoft

Como dito aqui na matéria da semana passada, O Ubisoft Quartz depende do Tezos, uma blockchain em Prova de Trabalho (proof-of-stake), que, segundo a Ubisoft, consome pouca energia.

No entanto, ainda há um forte debate sobre os prós e contras dessa forma alternativa de geração de criptomoeda.

Outra parte dos funcionários comentou que o anúncio do Quartz pela Ubisoft é um trabalho desastroso da assessoria de imprensa da companhia. Esses funcionários acreditam que a entrada no mercado de NFT tem o fim de servir como uma cortina de fumaça para uma empresa cuja reputação já está em frangalhos após várias acusações de má conduta.

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CEO intervirá pessoalmente, inspirando-se em Quentin Tarantino

Ontem (14), o sindicato de trabalhadores do setor de tecnologia que representa a Ubisoft postou em seu blog oficial críticas ao NFT da Ubisoft.

De acordo com o Solidaires Informatique, todos os problemas relacionados ao NFT Quartz já foram questionados internamente na Ubisoft.

“Os lucros gerados pelo trabalho dos desenvolvedores estão sendo reinvestidos, mais uma vez, contra suas vontades em estratégias absurdas”, escreveu o blog.

Segundo o texto, os executivos da Ubisoft dão respostas evasivas, ou explicações “pedagógicas”, com o fim de convencer os funcionários e educá-los sobre a tecnologia.

Créditos: Ubisoft

Ademais, o texto afirma que os funcionários estão cientes que Yves Guillemot, co-fundador e CEO da Ubisoft, irá intervir pessoalmente no estúdio em Paris para que a ideia seja levada a frente.

Em tom de deboche, os funcionários da Ubisoft, protegidos pela anonimidade do sindicato comentam sobre a futura visita do CEO da empresa ao estúdio.

“Durante essa publicação, descobrimos que o Sr. Guillemot intervirá no estúdio pessoalmente para defender a funcionalidade, esclarecendo, com sua mente brilhante, os detalhes mais obscuros de uma estratégia que nós, simples funcionários, não conseguimos compreender”.

O texto continua com uma informação muito interessante, para não dizer ridícula.

“Por outro lado, a incompreensão sobre o assunto é nítida por parte da direção do estúdio. Por exemplo, como evidenciado pelo diretor da Ubisoft Paris, que justificou a tecnologia com a simples explicação de que ‘se Tarantino entra nesse negócio, é porque estamos vivendo o início de algo grandioso’”.

Para quem não sabe, o diretor de cinema Quentin Tarantino quis leiloar NFTs baseados em Pulp Fiction, um de seus principais filmes, lançado em 1994. Entretanto, a empreitada de Tarantino no mundo dos NFTs gerou uma batalha judicial com a Miramax, distribuidora do filme, que, portanto, controla os direitos da obra. 

Enquanto isso, gamers estão furiosos com o NFT Quartz

A Ubisoft trabalha no desenvolvimento do Quartz há quatro anos, mas a implementação do NFT ainda está nos estágios iniciais.

O único jogo da empresa a contar com o Quartz é Ghost Recon Breakpoint, cujo item colecionável é um capacete, mas só quem jogou mais de 600 horas do jogo pode requisitar o prêmio.

Quartz NFT Ubisoft
O capacete que os gamers podem ganhar após 600 horas de jogo. Créditos: Ubisoft

600 horas em um jogo medíocre é quase uma tortura e os gamers já demonstraram sua fúria ao redor da internet.

O YouTuber SkillUp presumiu que os fãs de NFT irão utilizar bots para aumentar suas horas de jogo e ganhar o capacete. Segundo ele, quem sai ganhando é apenas a Ubisoft, com o aumento de usuários ativos mensais, mesmo que sejam bots.

Além disso, o capacete e os outros NFTs de Ghost Recon ainda não estão à venda e, surpreendentemente, não afetam em nada a gameplay do jogo. Na verdade, esses cosméticos são troféus para os mais fanáticos do jogo, que serão identificados pelo capacete exclusivo.

Por fim, os jogadores poderão revender esses itens.

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