Configurando em modo Ad-Hoc

Assim como é possível ligar dois micros diretamente usando duas placas Ethernet e um cabo cross-over, sem usar hub, também é possível criar uma rede wireless entre dois PCs sem usar um ponto de acesso. Basta configurar ambas as placas para operar em modo Ad-Hoc. A velocidade de transmissão é a mesma, mas o alcance do sinal é bem menor, já que os transmissores e as antenas das interfaces não possuem a mesma potência do ponto de acesso.

Esse modo pode servir para pequenas redes domésticas, com dois PCs próximos, embora mesmo nesse caso seja mais recomendável utilizar um ponto de acesso, interligado ao primeiro PC através de uma placa Ethernet, e uma placa wireless no segundo PC ou notebook, já que as diferenças entre o custo das placas e pontos de acesso não é tão grande assim.

Um uso comum para o modo Ad-Hoc é quando você tem em mãos dois notebooks com placas wireless. Um deles pode ser ligado ao modem ADSL (com fio) para acessar a internet e compartilhar a conexão com o segundo usando a placa wireless, que fica livre dos fios.

Depois de configurada, a placa wireless é vista pelo sistema como um dispositivo de rede normal. Você pode compartilhar a conexão da mesma forma que faria em um micro com duas placas de rede.

Para ativar a rede em modo Ad-Hoc no Linux você utiliza a mesma configuração que já aprendemos, adicionando o comando “iwconfig wlan0 mode Ad-Hoc”. É bem mais fácil (embora inseguro) configurar uma rede Ad-Hoc sem encriptação, pois isso evita diversos casos de incompatibilidade, sobretudo com os clientes Windows. Para ativar a placa wlan0, configurando a rede com o IP “10.0.0.1”, os comandos seriam:

# ifconfig wlan0 10.0.0.1 netmask 255.0.0.0 up
# iwconfig wlan0 mode Ad-Hoc
# iwconfig wlan0 essid casa
# iwconfig wlan0 channel 8
# iwconfig wlan0 key off

Para ativar a encriptação, substitua o comando “iwconfig wlan0 key off” pelo comando abaixo, especificando a chave WEP que será usada, como em:

# iwconfig wlan0 key restricted 12345678AF

Se preferir especificar a chave usando caracteres alfanuméricos, adicione o parâmetro “s:”, como em:

# iwconfig wlan0 key restricted s:asdfg

Os mesmos devem ser executados no segundo micro, mudando apenas o endereço IP da placa de rede.

Depois de estabelecida a conexão Ad-Hoc entre os dois micros, você pode compartilhar a conexão no micro com o ADSL, permitindo que o segundo navegue. Neste caso, rode os comandos abaixo no servidor, substituindo o “eth0” pela interface de rede onde está configurada a conexão com a Internet:

# modprobe iptable_nat
# iptables -t nat -A POSTROUTING -o eth0 -j MASQUERADE
# echo 1 > /proc/sys/net/ipv4/ip_forward

Configure o cliente para utilizar o IP do servidor como gateway e adicione os endereços DNS do provedor para que ele navegue através dele.

Em uma rede Ad-Hoc, a qualidade do sinal tende a se degradar muito mais rapidamente conforme aumenta a distância. Você pode monitorar a qualidade do sinal utilizando o wavemon. Uma observação é que ele não funciona bem ao utilizar o Ndiswrapper, pois nele as extensões que permitem acessar as estatísticas de sinal fornecidas pela placa não funcionam em conjunto com a maior parte dos drivers.

Conforme o sinal fica fraco, as placas automaticamente negociam taxas mais baixas de transmissão. Essas negociações ocorrem apenas quando o número de retransmissões torna-se muito alto. Em muitas situações, onde você precisa apenas de um link lento para acessar a Web, configurar de uma vez a placa para usar uma taxa mais baixa pode ser a melhor forma de obter uma conexão mais estável e, em alguns casos, até mesmo mais rápida, já que é eliminado o overhead das negociações.

As taxas disponíveis em uma rede 802.11b são 11M, 5.5M, 2M e 1M. No caso de uma rede 802.11g, temos também 22M e 54M. Para que a rede passe a trabalhar a 2 megabits, por exemplo, use:

# iwconfig eth0 rate 2M

Outra opção importante é a txpower, que permite ativar ou desativar o transmissor da placa, além de configurar sua potência. Em alguns drivers, o padrão é (sabe-se lá porque) deixar o transmissor desativado, fazendo com que nada funcione, mesmo que você configure os parâmetros da rede corretamente. Neste caso, você pode ativar o transmissor usando o comando “iwconfig interface txpower on”, como em:

# iwconfig wlan0 txpower on

Se você estiver usando um notebook e quiser desativar o transmissor temporariamente, de forma a economizar bateria enquanto não estiver usando o wireless, use o comando “iwconfig wlan0 txpower off”.

Outra questão é a potência de transmissão, que determina o alcance e a qualidade do sinal. Muitas placas permitem que você configure a potência do sinal, de forma a ajustar o alcance desejado, assim como na configuração do ponto de acesso. Novamente, em alguns drivers o default é usar uma potência bem abaixo do máximo, fazendo com que o alcance seja bem menor do que seria normalmente. Você pode ver as opções disponíveis na sua placa (e qual está sendo usada atualmente) usando o comando:

# iwlist wlan0 txpower

A maioria das placas suporta até um máximo de 20 dBm (100 mW) ou 25 dBm (250 mW). Para configurar a placa “wlan0” para usar 25 dBm, por exemplo, use:

# iwconfig wlan0 txpower 25

A maioria dos drivers retorna um erro caso você tente usar uma potência maior do que o máximo suportado, mas outros aceitam qualquer número, ajustando qualquer número alto para o máximo suportado pela placa. Isso, às vezes, resulta em resultados estranhos.

Ao usar uma placa Atheros, por exemplo, posso digitar “iwconfig ath0 txpower 80” e o comando “iwlist wlan0 txpower” me diz que a placa está operando com uma potência de 100.000.000 mW (milliwatts). Se isso fosse verdade, ou eu cozinharia instantâneamente (a potência média de um aparelho de microondas são 2.500.000 milliwatts) ou seria preso (o máximo permitido pela legislação são 1.000 milliwatts). Felizmente, isso é apenas um bug no driver, na verdade a placa está está operando a 250 mW, que é o máximo que o transmissor suporta.

As redes Ad-Hoc aparecem normalmente na lista de redes disponíveis, nos clientes Windows, permitindo que eles se conectem diretamente:

Ao contrário de uma rede em modo de infra-estrutura (ao usar um ponto de acesso), em uma rede Ad-Hoc todos os micros estão no mesmo nível hierárquico, sem uma autoridade central. Todas as estações configuradas para usarem o mesmo SSID e as mesmas configurações de encriptação, estabelecem contato e criam uma rede ponto a ponto.

A menos que algum dos micros esteja com um servidor DHCP ativo, você precisará configurar os endereços de cada um nas propriedades do protocolo TCP/IP. Coloque sempre o micro que está compartilhando a conexão como gateway. Caso você esteja usando encriptação, é necessário definir as chaves manualmente dentro das propriedades da conexão Ad-hoc, como neste exemplo:

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