Steam e a ‘morte’ dos jogos para PC

Steam e a ‘morte’ dos jogos para PC

vários anos se profetiza a morte dos jogos para PC. A teoria é que com consoles cada vez mais poderosos, a queda nas vendas de jogos no varejo e os índices de pirataria cada vez mais altos entre os usuários de PC, logo não faria mais sentido continuar desenvolvendo jogos para a plataforma, já que os consoles seriam um ramo muito maior e mais rentável.

Existem muitos problemas com o formato de venda de jogos no varejo. Para começar, temos o simples problema da disponibilidade, já que as lojas trabalham com um volume limitado de títulos e muitas vezes é difícil encontrar o que você procura. Outro problema é o preço já que as lojas e distribuidores ficam com quase 50% do bolo, fazendo com que um percentual relativamente pequeno do que se paga realmente chegue aos produtores.

A situação é ainda mais complicada no caso do Brasil, onde os jogos demoram para serem lançados e as caixinhas precisam ser muitas vezes importadas, resultando em preços estratosféricos. Como pouca gente está disposta a pagar 200 reais por uma caixinha, as vendas acabam se concentrando em títulos antigos, vendidos a preços mais baixos, ou através de revistas.

Essa questão da distribuição é um dos motivos da pirataria de jogos ser tão comum. Mesmo desprezando a questão do custo, é muitas vezes mais fácil piratear do que conseguir os jogos originais.

Apesar disso, bons jogos para PC continuam sendo lançados e eles continuam sendo jogados por um público cada vez maior, muito embora as vendas de caixinhas no varejo continuem caindo mês após mês.

Existem várias possíveis explicações para este aparente fenômeno. Um dos motivos é o simples fato de um PC equipado com uma boa GPU (imagine o caso de quem usa uma GTX 285 ou uma Radeon HD 4870 com um Core 2 Quad, por exemplo) ser consideravelmente mais poderoso que qualquer console.

Quando um novo console é anunciado, as especificações são muitas vezes similares (ou até superiores) às de um PC da época, mas quando eles são efetivamente lançados, o tempo já passou e os PCs novamente assumiram a dianteira. Como a vida útil dos consoles é bem maior, a diferença acaba se tornando cada vez maior com o tempo.

Isso faz com que muitos jogos cheguem primeiro aos consoles, mas em seguida ganhem versões aprimoradas (melhores gráficos, suporte a physics, etc.) que são capazes de aproveitar o maior poder gráfico dos PCs.

Outro fator é a questão da interface. O uso de joysticks nos PCs nunca foi muito popular (com exceção dos volantes e manches, que são destinados a títulos de corrida e voo), mas o uso de teclado e mouse combina muito bem com jogos de estratégia e FPS, que são justamente as áreas em que os PCs são mais fortes.

steam_html_m5600656e

Isso explica também sucessos como o World of Warcraft e o Empire Total War, sem falar da série The Sims, que, novamente, são mais adequados para o teclado e mouse do que para o joystick.

Em se tratando de desenvolvimento, quase todas as software houses têm optado pelo uso do DirectX (com a notável exceção da ID, que baseia seus títulos no OpenGL), o que explica a falta de títulos nativos para Linux.
Apesar disso, o uso do DirectX oferece uma certa vantagem, já que ele é usado também no Xbox. Isso facilita muito o porte de jogos do PC para o Xbox e (vice-versa), ajudando a aumentar o volume de títulos disponíveis para a plataforma. Enquanto existirem jogos para o Xbox existirão também jogos para PC, já que o trabalho de portá-los é relativamente pequeno.

Adicionando portes para o PS3 e/ou Wii, os fabricantes conseguem atingir quase todo o público, como é o caso do Call of Duty World at War (PC, Xbox e PS3) ou alguns jogos da série Resident Evil (PC, Xbox, PS3 e Wii). Assim como no caso dos smartphones, o segredo atualmente é desenvolver para várias plataformas e rápido.

Outro fator por trás da sobrevida dos jogos para PC apesar da decadência das vendas no varejo é o Steam (http://steampowered.com), uma plataforma de distribuição desenvolvida pela Valve (produtora da série Half-Life) que funciona de forma similar ao iTunes, permitindo que você compre os títulos e baixe na hora:

steam_html_m2861bb1f

Inicialmente, o Steam foi concebido para ser um canal de vendas dos jogos da própria Valve, mas ele logo passou a incluir jogos de outras software-houses, resultando em um acervo de já quase mil títulos. Não existe uma versão para Linux (o que implicaria em portar também os jogos), mas é possível rodar o cliente do Steam e alguns jogos compatíveis através do Wine.

Diferente de muitos jogos para console, os bons jogos para PC continuam sendo desenvolvidos por muito tempo depois de lançados, com patches, atualizações e novos mapas sendo disponibilizados regularmente. Surge então o problema de como levar estas atualizações até os usuários, já que muitas podem ter algumas centenas de megabytes.

No caso das caixinhas, você acaba tendo que baixar e aplicar as atualizações depois de instalar, muitas vezes lidando com problemas e incompatibilidades introduzidos por elas, mas no caso do Steam o processo é mais transparente, já que você já obtém a versão mais recente ao instalar e as atualizações são aplicadas automaticamente.

Muito do sistema de atualização é baseado em sistemas de controle de versão (como o CVS) permitindo que o sistema baixe apenas as modificações dentro da árvore de arquivos e escolha automaticamente qual versão instalar (32 ou 64 bits, Windows XP ou Windows 7, etc.). Basicamente, o sistema automatiza toda a instalação dos jogos, fazendo com que o PC funcione como um vídeo-game, que você precisa apenas ligar e jogar, sem se preocupar com patches e incompatibilidade de versões.

O Steam inclui também um sistema de rede social, que permite que você adicione amigos, veja quais jogos cada um está jogando, envie convites e assim por diante. Como o serviço já tem quase 20 milhões de usuários, o sistema acaba sendo bastante usado, servindo como um ponto de encontro para as partidas multiplayer. Ele pode ser inclusive acessado dentro dos jogos, pressionando Alt+TAB.

Apesar disso, ele não substitui o sistema de multiplayer dos jogos que possuem sistemas nativos, o que é bom, já que não limita as partidas apenas aos usuários do Steam.

steam_html_738fe8cc

Outra vantagem importante é que os jogos são relacionados à conta e não ao PC, o que permite reinstalá-los quando necessário. Você pode inclusive instalá-los em vários PCs diferentes, desde que use apenas um de cada vez. Caso precise formatar, ou troque de micro, basta instalar o cliente do Steam e baixar os jogos de novo. Os downloads incluem também os savegames e configurações, que são salvos na nuvem e relacionados à sua conta.

steam_html_m21a8805c

Os preços são basicamente os mesmos praticados em lojas dos EUA, com os lançamentos recentes custando US$ 49.90 ou 39.90 e os títulos mais antigos custando 29.90, 19.90 ou 9.90. Existem também promoções de final de semana (com descontos de 50% ou mais em alguns títulos) e também “free weekends” que são uma espécie de demo, onde você pode baixar e jogar um título específico de graça durante o final de semana (e depois comprá-lo se quiser continuar jogando).

A principal vantagem é mesmo a praticidade de poder comprá-los com poucos cliques aqui no Brasil. Como se trata de um download (e não de um produto físico), você paga apenas os 3.9% de IOF, em vez dos infames impostos de importação. Como de praxe, é necessário ter um cartão internacional ou uma conta no PayPal e uma conexão rápida para conseguir baixar os jogos, já que títulos como o Call of Duty World at War e o Empire total War têm mais de 6 GB.

cod

Todos os arquivos são protegidos por um sistema de DRM, que encripta os arquivos (cada jogo é armazenado na forma de uma imagem encriptada, com a extensão .gcf) e verifica a conta antes de realizar a maioria das operações. Apesar disso, é possível também jogar em modo offline, caso a conexão esteja fora do ar. O sistema gerencia as CD-keys e outros sistemas de DRM incluídos dentro dos jogos, o que elimina muitas das chateações tipicamente encontradas nas versões em caixinha.

Assim como todos os sistemas de DRM, existe a possibilidade de que no futuro o sistema deixe de funcionar e você fique sem ter como baixar os jogos que já comprou, mas até o momento nada indica que isso possa acontecer em um futuro próximo. Existem versões pirateadas de jogos do Steam disponíveis por aí, mas elas são baseadas em uma versão antiga que foi crackeada e possuem uma funcionalidade limitada.

Levando tudo isso em conta, não é difícil concluir que assim como as vendas de CDs de música estão sendo rapidamente substituídas por serviços online, tudo indica que o Steam e outros serviços similares (como o Direct2Drive) irão dominar as vendas de jogos para PC nos próximos anos, substituindo o ineficiente sistema de venda em caixinhas. Os jogos para PC não vão acabar, mas o sistema de vendas e distribuição deve mudar bastante.

Sobre o Autor

Redes Sociais:

Deixe seu comentário

X