Apple x Microsoft: as primeiras versões do Windows e do MacOS

Apple x Microsoft: as primeiras versões do Windows e do MacOS

Em 1983 a Apple apresentou uma grande novidade, o Lisa, que usava uma interface gráfica bastante elaborada e contava com uma suíte de aplicativos de escritório à lá Office. A interface funcionava bem, os aplicativos rodavam com um desempenho surpreendente e a configuração era muito superior à dos PCs da época.O problema era o preço: 10.000 dólares da época:

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Embora não houvesse nada melhor no mercado, o Lisa acabou não atingindo o sucesso esperado. No total, foram produzidas cerca de 100.000 unidades em dois anos, porém a maior parte delas foram vendidas com grandes descontos, muitas vezes abaixo do preço de custo. Como a Apple investiu aproximadamente US$ 150 milhões no desenvolvimento do Lisa, a conta acabou ficando no vermelho.

Apesar disso, o desenvolvimento do Lisa serviu de base para o Macintosh, um computador mais simples, lançado em 1984. Ao contrário do Lisa, ele fez um grande sucesso, chegando a ameaçar o império dos PCs. A configuração era similar à dos PCs da época, com um processador de 8 MHz, 128 KB de memória e um monitor de 9 polegadas. A grande arma do Macintosh era o MacOS 1.0 (derivado do sistema operacional do Lisa, porém otimizado para consumir muito menos memória), um sistema inovador de vários pontos de vista.

Ao contrário do MS-DOS ele era inteiramente baseado no uso da interface gráfica e mouse, o que o tornava muito mais fácil de ser operado. O MacOS continuou evoluindo e incorporando novos recursos, mas sempre mantendo a mesma ideia de interface amigável.

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Neste mesmo período, a Microsoft desenvolveu a primeira versão do Windows, anunciada em novembro de 1983. Ao contrário do MacOS, o Windows 1.0 era uma interface bastante primitiva, que fez pouco sucesso. Ele rodava sobre o MS-DOS e podia executar tanto aplicativos Windows quanto os programas para MS-DOS. O problema era a memória.

Os PCs da época vinham com quantidades muito pequenas de memória RAM e na época ainda não existia a possibilidade de usar memória virtual (que viria a ser suportada apenas a partir do 386). Para rodar o Windows, era preciso primeiro carregar o MS-DOS. Os dois juntos já consumiam praticamente toda a memória de um PC básico da época. Mesmo nos PCs mais parrudos não era possível rodar muitos aplicativos ao mesmo tempo, novamente por falta de memória.

Como os aplicativos Windows eram muito raros na época, poucos usuários viram necessidade de utilizar o Windows para rodar os mesmos aplicativos que rodavam (com muito mais memória disponível…) no MS-DOS. Sem contar que a versão inicial do Windows era bastante lenta e tinha muitos bugs.

O Windows começou a fazer algum sucesso na versão 2.1, quando os micros 286 com 1 MB ou mais de memória já eram comuns. Com uma configuração mais poderosa, mais memória RAM e mais aplicativos, finalmente começava a fazer sentido rodar o Windows. O sistema ainda tinha muitos problemas e travava com frequência, mas alguns usuários começaram a migrar para ele. O Windows 2.1 ganhou também uma versão destinada a PCs com processadores 386, com suporte à proteção de memória e o uso do modo virtual 8086 para rodar aplicativos do MS-DOS:

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O Windows emplacou mesmo a partir da versão 3.11 (for Workgroups), que foi também a primeira versão do Windows com suporte a compartilhamentos de rede. Ele era relativamente leve do ponto de vista dos PCs da época (os 386 com 4 ou 8 MB de RAM já eram comuns), e suportava o uso de memória swap, que permitia abrir vários aplicativos, mesmo que a memória RAM se esgotasse. Na época a base de aplicativos para o Windows já era muito maior (os títulos mais usados eram o Word e o Excell, não muito diferente do que temos em muitos desktops hoje em dia) e sempre existia a opção de voltar para o MS-DOS quando alguma coisa dava errado.

Foi nesta época que os PCs começaram a recuperar o terreno perdido para os Macintoshs da Apple. Embora fosse instável, o Windows 3.11 contava com um grande número de aplicativos e os PCs eram mais baratos que os Macs.

Por estranho que possa parecer, o Windows 3.11 era ainda um sistema de 16 bits, que funcionava mais como uma interface gráfica para o MS-DOS do que como um sistema operacional propriamente dito. Ao ligar o PC, o MS-DOS era carregado e você precisava digitar “win” no prompt para carregar o Windows. Naturalmente, era possível configurar o PC para carregar o Windows por default, adicionando o comando no arquivo autoexec.bat, mas muitos (possivelmente a maioria) preferiam chamá-lo manualmente, para ter como arrumar as coisas pelo DOS caso o Windows passasse a travar durante o carregamento.

Em agosto 1995 foi lançado o Windows 95, que marcou a transição da plataforma para os 32 bits. Além de todas as melhorias na interface e da nova API, o Windows 95 trouxe duas mudanças importante, que eram o suporte a multitarefa preemptiva e proteção de memória.

O Windows 3.11 usava um tipo primitivo de multitarefa, batizado de multitarefa cooperativa. Nele, não é usada proteção de memória, não existe multitarefa real e todos os aplicativos possuem acesso completo a todos os recursos do sistema. A ideia é que cada aplicativo usasse o processador por um certo tempo, passasse para outro programa e esperasse novamente chegar sua vez para executar mais um punhado de operações.

Esse sistema anárquico dava margem para todo o tipo de problemas, já que os aplicativos podiam monopolizar os recursos do processador e travar completamente o sistema em caso de problemas. Outro grande problema era quem sem a proteção de memória, os aplicativos podiam invadir áreas de memória ocupados por outros, causando um GPF (“General Protection Falt”), o erro geral que gerava a famosa tela azul do Windows.

A proteção de memória consiste em isolar as área de memória utilizados pelos aplicativos, impedindo que eles acessem áreas de memória usados por outros. Além da questão da estabilidade, esta é também uma função básica de segurança, já que impede que aplicativos maliciosos tenham acesso fácil aos dados manipulados pelos demais aplicativos.

Embora fosse suportada desde o 386, a proteção de memória passou a ser suportada apenas a partir do Windows 95, que introduziu também a já comentada multitarefa preemptiva, isolando as áreas de memória ocupadas pelos aplicativos e gerenciando o uso de recursos do sistema.

O grande problema era que embora fosse um sistema de 32 bits, o Windows 95 ainda conservava muitos componentes de 16 bits e mantinha compatibilidade com os aplicativos de 16 bits do Windows 3.11. Enquanto eram usados apenas aplicativos de 32 bits, as coisas funcionavam relativamente bem, mas sempre que um aplicativo de 16 bits era executado, o sistema voltava a utilizar a multitarefa cooperativa, o que dava margem aos mesmos problemas.

Na época, o Windows enfrentava a concorrência do OS/2 da IBM, que fulgurava como uma opção de sistema mais robusto, destinado sobretudo ao público corporativo:

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O OS/2 surgiu de uma parceria entre a IBM e a Microsoft para o desenvolvimento de um novo sistema operacional para a plataforma PC, capaz de suceder o MS-DOS (e também as primeiras versões do Windows, que rodavam sobre ele). Inicialmente, o OS/2 foi desenvolvido para aproveitar os recursos introduzidos pelo 286 (novas instruções, suporte a 16 MB de memória, etc.) mas ele foi logo rescrito como um sistema operacional de 32 bits, capaz de aproveitar todos os recursos do 386 em diante.

Entretanto, o sucesso do Windows 3.x fez com que a Microsoft mudasse de ideia, passando a enxergar o Windows (e não o OS/2) como o futuro da plataforma PC. As tensões foram aumentando, até que em 1991 a parceria foi rompida, o que levou a Microsoft e a IBM a se tornarem concorrentes. A IBM continuou investindo no desenvolvimento do OS/2, enquanto a Microsoft usou o código desenvolvido para iniciar o desenvolvimento do Windows NT, que passou a desenvolver paralelamente ao Windows 95.

Embora o OS/2 fosse tecnicamente muito superior ao Windows 95, foi a Microsoft quem acabou levando a melhor, pois o Windows 95 era mais fácil de usar e contava com a familiaridade dos usuários com o Windows 3.11, enquanto a IBM derrapava numa combinação de falta de investimento, falta de apoio aos desenvolvedores e falta de marketing.

Graças aos termos do acordo anterior, a IBM foi capaz de incluir suporte aos aplicativos Windows no OS/2. Entretanto, o tiro acabou saindo pela culatra, pois desestimulou ainda mais o desenvolvimento de aplicativos nativos para o OS/2, fazendo com que ele acabasse concorrendo com o Windows em seu próprio território. Rodar aplicativos do Windows dentro do OS/2 era mais problemático e o desempenho era inferior, fazendo com que mais e mais usuários preferissem usar o Windows diretamente.

Embora esteja oficialmente morto, o OS/2 ainda é utilizado por algumas empresas e alguns grupos de entusiastas. Em 2005 a Serenity comprou os direitos sobre o sistema, dando origem ao eComStation.

Um sistema muito mais bem-sucedido, que começou a ser desenvolvido no início da década de 90, é o Linux, que todos já conhecemos. O Linux tem a vantagem de ser um sistema aberto, que atualmente conta com a colaboração de milhares de desenvolvedores voluntários espalhados pelo globo, além do apoio de empresas de peso, como a IBM, HP, Oracle e praticamente todas as outras grandes empresas de tecnologia, com exceção da Microsoft e da Apple.

Apesar disso, no começo o sistema era muito mais complicado que as distribuições atuais e não contava com as interfaces gráficas exuberantes que temos hoje em dia. Embora o Linux seja forte em servidores desde o final da década de 90, o uso do sistema em desktops vem crescendo em um ritmo mais lento.

De volta à história do Windows, com o lançamento do NT, a Microsoft passou a manter duas árvores de desenvolvimento separadas, uma dela com o Windows 95, destinada ao mercado de consumo e a outra com o Windows NT, destinado ao público corporativo.

A árvore do Windows 95 deu origem ao Windows 98, 98 SE e ME, que apesar dos avanços em relação à API e aos aplicativos, conservaram os problemas fundamentais do Windows 95 em relação à estabilidade. Outro grande problema é que estas versões do Windows foram desenvolvidas sem um modelo de segurança, em uma época em que os arquivos eram trocados através de disquetes e as máquinas eram acessadas apenas localmente. Isso permitiu que o sistema fosse mais fácil de usar e rodasse com um bom desempenho nas máquinas da época, mas começou a se tornar um pesado fardo conforme o acesso à web se popularizava e o sistema passava a ser alvo de todo tipo de ataques.

A árvore do Windows NT por outro lado teve muito mais sucesso em criar um sistema operacional moderno, bem mais estável e com uma fundação bem mais sólida do ponto de vista da segurança. O Windows NT 4 deu origem ao Windows 2000, que por sua vez foi usado como fundação para o Windows XP e o Windows 2003 Server, dando início à linhagem atual.

A Apple, por sua vez, passou por duas grandes revoluções. A primeira foi a migração do MacOS antigo para o OS X, que, por baixo da interface polida, é um sistema Unix, derivado do BSD. A segunda aconteceu em 2005, quando a Apple anunciou a migração de toda a sua linha de desktops e notebooks para processadores Intel, o que permitiu que se beneficiassem da redução de custo nos processadores e outros componentes para micros PCs, mas ao mesmo tempo conservassem o principal diferencial da plataforma, que é o software:

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Do ponto de vista do hardware, os Macs atuais não são muito diferentes dos PCs, você pode inclusive rodar Windows e Linux através do Boot Camp. Entretanto, só os Macs são capazes de rodar o Mac OS X, devido ao uso do EFI (que substitui o BIOS como sistema de bootstrap) e ao uso de um chip TPM.

Apesar da mudança, os Macs continuam sendo uma plataforma fechada, controlada pela Apple, que desenvolve tanto os computadores quanto o sistema operacional. Naturalmente muita coisa é terceirizada, e várias empresas desenvolvem programas e acessórios, mas como a Apple precisa manter o controle de tudo e desenvolver muita coisa por conta própria, o custo dos Macs acaba sendo mais alto que o dos PCs.

No início da década de 80, a concorrência era mais acirrada, e muitos achavam que o modelo da Apple poderia prevalecer, mas não foi o que aconteceu. Dentro da história da informática temos inúmeras histórias que mostram que os padrões abertos quase sempre prevalecem. Um ambiente onde existem várias empresas concorrendo entre si favorece o desenvolvimento de produtos melhores, o que cria uma demanda maior e, graças à economia de escala, permite preços mais baixos.

Como os micros PC possuem uma arquitetura aberta, diversos fabricantes diferentes podem participar, desenvolvendo seus próprios componentes baseados em padrões já definidos. Temos então uma lista enorme de componentes compatíveis entre si, o que permite escolher as melhores opções entre diversas marcas e modelos de componentes.

Qualquer novo fabricante, com uma placa-mãe mais barata ou um processador mais rápido, por exemplo, pode entrar no mercado, é apenas uma questão de criar a demanda necessária. A concorrência faz com que os fabricantes sejam obrigados a trabalhar com uma margem de lucro relativamente baixa, ganhando com base no volume de peças vendidas, o que é muito bom para nós que compramos.

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