Smartphones: o iPhone

Smartphones: o iPhone

Depois de falar sobre o Symbian, o Windows Mobile e o PalmOS, chegou a vez de falar um pouco sobre o iPhone, que apesar de ser o mais novo, tem crescido em popularidade.

O iPhone 3G tem obtido tanta exposição que dispensa maiores comentários. Os pontos fortes são a interface e a boa disponibilidade de aplicativos, que são comercializados através da Apple AppStore. Embora não tenha teclado, ele oferece uma forma conveniente de entrada de texto usando um teclado onscreen, que funciona bem graças à combinação de boa sensibilidade da tela e otimizações no software.

O iPhone roda uma versão reduzida do MacOS X, portada para processadores ARM e customizada para rodar dentro das limitações de memória e processamento dos aparelhos. Naturalmente, existem muitas diferenças com relação à interface e no suporte a aplicativos, mas o Kernel e outros componentes básicos do sistema são os mesmos.

Pode parecer estranho que tenham conseguido simplificar o pesado OS X a ponto de rodar num smartphone, mas na verdade isto deve ter sido relativamente simples. O OS X é um sistema Unix, derivado do BSD, que segue a mesma estrutura básica que temos no Linux, com um Kernel bastante leve e um grande conjunto de drivers, bibliotecas e aplicativos rodando sobre ele. O sistema é bastante portável, de forma que apenas uma pequena parte do código precisa ser alterada para rodar em outras plataformas.

Eliminando todo o overhead necessário num desktop e criando um set de aplicativos otimizados, a Apple conseguiu chegar ao iPhone OS, a versão reduzida do sistema, que ocupa cerca de 300 MB da memória flash integrada. Junto com o porte do OS X, a Apple desenvolveu também uma versão reduzida do Safari, usado como navegador, integrando o conjunto resultante com as funções player de mídia já usadas anteriormente no iPod.

Parte das funções da interface são acionadas por gestos, um conceito antigo, mas que ainda não havia sido implementado em smartphones. Ao rolar uma página web, ou alternar entre títulos na lista de músicas, por exemplo, o scroll é feito de acordo com a velocidade em que você arrasta o dedo. Se arrastar muito rápido, você pode ir direto ao final da página.

No aplicativo de imagem, um gesto de pinça, abrindo o polegar e o indicador sobre a tela faz com que a imagem seja ampliada. Fazendo o movimento inverso ela é reduzida. O iPhone possui também um acelerômetro, que é bem aproveitado pelo software. O simples gesto de levar o telefone à orelha, faz com que a ligação seja atendida e girá-lo faz com que um vídeo, foto ou página web passe a ser mostrado em modo wide-screen.

Ao contrário do que a mídia faz parecer, o iPhone não trouxe muitos recursos que já não estavam disponíveis em aparelhos de outras plataformas. A jogada da apple foi conseguir apresentar recursos básicos, como a possibilidade de navegar, ler os e-mails, ouvir música, assistir vídeos, usar o Google Maps e instalar aplicativos adicionais no smartphone de uma forma palatável às massas, combinado com um gigantesco esforço de marketing para divulgar o produto, assim como fez anteriormente com o iPod.

Existem duas versões do iPhone, o original, que oferece suporte a redes 2G e já é considerado obsoleto e o iPhone 3G, que oferece suporte a UMTS e incluiu diversas pequenas mudanças nos componentes e no software, mantendo o mesmo formato básico.

O iPhone 3G desempenha bem as funções básicas de smartphone e ganha pontos por incluir uma interface muito bem trabalhada e um sistema consistente de instalação de novos softwares através da Apple Store. Entretanto, ele também possui uma série de limitações, algumas delas introduzidas por limitações de hardware, ou por decisões técnicas e outras introduzidas intencionalmente ou por pressão das operadoras ou pela preocupação da Apple em dificultar o acesso a arquivos de mídia fora do iTunes.

Combinadas, elas fazem com que o iPhone 3G fique na verdade bem aquém de seu potencial, fazendo com que ele seja um aparelho bem acabado, porém capado em muitas áreas.

Uma das limitações mais graves é a falta de suporte a tethering, ou seja, da possibilidade de usar o smartphone como modem e acessar usando o notebook, um recurso básico que está disponível em praticamente todos os aparelhos atuais. Com isso, mesmo que você tenha um iPhone com um planos de dados, vai precisar comprar um modem USB e assinar um segundo plano de dados caso pretenda navegar usando o notebook.

A decisão de capar o tethering se deve primariamente às pressões da AT&T (que é a parceira primária da Apple na distribuição do iPhone nos EUA), mas foi mantida nos iPhone vendidos em outras partes do mundo, incluindo o Brasil. O tethering não é um recurso muito bem visto pelas operadoras, que temem que usuários de planos ilimitados conectem usando o notebook e consumam um volume de banda acima do esperado. Em vez de estudarem limites ou quotas de tráfego, a AT&T e a Apple optaram pela “solução final”, removendo o tethering.

Assim como no caso de outros recursos não originalmente presentes no aparelho, o tethering poderia ser ativado por aplicativos de terceiros. Um exemplo é o NetShare, um pequeno aplicativo, desenvolvido pela Nullriver que atuava como um proxy, permitindo compartilhar (embora de forma limitada) a conexão via bluetooth.

O problema é que a Apple também controla o canal de distribuição de softwares (a AppStore) e decidiu exercitar sua cultura de censura tirando abruptamente o NetShare de circulação e deixando claro que não permitirá a distribuição de outros aplicativos similares no futuro. A frase de explicação na página da Nullriver define bem a situação:

“Aparentemente a Apple decidiu que não permitirá nenhum aplicativo de tethering na AppStore. Devido a isso, o NetShare não estará disponível na iTunes AppStore. Temos visto reports similares por parte de diversos outros desenvolvedores cujos aplicativos foram abruptamente removidos e banidos da AppStore sem terem violado nenhuma das cláusulas dos termos de serviço. Estas são más notícias para os usuários da plataforma iPhone.”

Outra limitação diz respeito ao Bluetooth. A Apple optou por incluir uma versão limitada do stack Bluetooth, que suporta apenas alguns dos profiles disponíveis. Com isso, você pode usar o Bluetooth em conjunto com headsets (mono) e outros periféricos, mas não está disponível o suporte a transferência de arquivos ou a headsets estéreo. Você pode perfeitamente transferir arquivos para outros aparelhos ou para o PC usando a rede Wi-Fi ou enviando-os por e-mail, mas não via Bluetooth, que seria a opção mais prática em muitas situações.

A câmera do iPhone 3G é também bastante modesta para os padrões atuais, com um CCD de apenas 2 megapixels (similar aos usados em aparelhos baratos, como o Nokia 6120 Classic) e uma qualidade de imagem mediana, na melhor das hipóteses. A câmera é também limitada pela falta de flash e pela falta de suporte a gravação de vídeos.

Via de regra, qualquer câmera que é capaz de capturar imagens, pode ser usada também para capturar vídeos, a diferença entre os dois modos de operação reside não no hardware, mas no software usado. Ao tirar fotos, o software utiliza um tempo de captura maior, permitindo que o CCD capture mais luz e obtenha a imagem em sua resolução máxima. A imagem resultante é então pós-processada, com filtros que reduzem o nível de ruído e calibram a curva de cores. Ao capturar vídeos, por sua vez, o software faz uma seqüência rápida de capturas em baixa qualidade, produzindo os quadros que são então combinados para formar o vídeo. Por algum motivo, a Apple optou por não adicionar o módulo de gravação, limitando a câmera às fotos estáticas.

O iPhone 3G usa uma bateria interna, cuja substituição torna necessária uma desmontagem parcial do aparelho. Encontrar baterias de reposição é uma tarefa fácil (existe uma enorme oferta de peças de reposição para o iPhone em lojas do exterior) e substituir a bateria também não é um grande problema, mas este design impede que você carregue baterias extras e as troque conforme o uso, como é comum em outros aparelhos.

Como outros aparelhos 3G, o iPhone consome a carga da bateria rapidamente quando você utiliza a rede de dados. Isso torna essa questão da bateria um problema sério para os heavy-users, que acabam tendo que carregar a bateria mais de uma vez ao longo do dia.

Outro ponto digno de nota é o GPS integrado. O iPhone acompanha o receptor GPS e uma versão nativa do Google Maps, capaz de tirar vantagem dele. As duas grandes limitações são que o Google Maps funciona apenas online, sem a opção de salvar os mapas para uso offline (como no Garmin ou no Nokia Maps) e não suporta o uso de navegação por voz, se limitando a traçar rotas estáticas entre dois pontos. Outra limitação é que a pequena antena do iPhone 3G faz com que o GPS dependa fortemente do posicionamento baseado nas antenas da operadora (o A-GPS) e seja bastante deficiente em acompanhar a movimentação enquanto você se desloca.

Mesmo a tela multitouch, que é um dos grandes atrativos do iPhone também tem uma desvantagem, que é o fato de não permitir que você use o aparelho com apenas uma das mãos, como é possível em aparelhos com teclado numérico. Isso é um problema para quem tem o hábito de incluir entradas na agenda e fazer outras tarefas rápidas enquanto está caminhando ou fazendo outra coisa.

Embora possua um bom volume de armazenamento interno, o iPhone não suporta expansão através de cartões externos. Com isso, ao comprar um iPhone de 8 GB, você fica restrito aos 8 GB internos até trocar de aparelho. Mesmo que daqui a algum tempo os cartões micro SD de 8 e 16 GB caiam de preço, eles não terão muita serventia, já que você não poderá usá-los. Este é um erro que também tem sido cometido por outros fabricantes, como no caso da Nokia no N95, que também vem com 8 GB internos, sem suporte a expansão através de cartões.

O conteúdo da memória interna também não pode ser acessado diretamente quando ligado ao PC através da porta USB como em outros aparelhos, apenas através do iTunes. Naturalmente, existem softwares de terceiros para ativar o uso do mass-storage, assim como aplicativos como o AirSharing e o DataCase, que permitem acessar os arquivos através da rede Wi-Fi, mas seria muito mais simples se ele não viesse desativado em primeiro lugar.

Outro problema é o sistema de distribuição adotado pela Apple, que depende fortemente de contratos e de subsídios por parte das operadoras. Todo iPhone precisa ser ativado na loja antes de poder ser usado, o que impede a venda de aparelhos desbloqueados ou sem contrato (pelo menos através dos canais oficiais).

O motivo disso é simples: muito embora o iPhone 3G seja vendido nos EUA por apenas US$ 199, os aparelhos custam na realidade algo entre US$ 500 e US$ 600. O restante é pago pela AT&T, que subsidia os aparelhos, impondo em troca um contrato de dois anos. Isso explica porque ao chegar ao Brasil o preço do iPhone saltou para a casa dos R$ 2.000. Na verdade, este é o preço real do aparelho, incluindo os impostos.

A solução para algumas destas limitações é o “jailbreak”, feito através da modificação ou substituição do firmware. Com a modificação, o sistema de DRM que impede a instalação de softwares fora da AppStore é desativado e você pode instalar diversos softwares e hacks que não estão disponíveis através dos canais oficiais. É importante notar que o jailbreak é diferente do destravamento propriamente dito, já que apenas remove a limitação quanto ao uso de aplicativos não autorizados pela Apple (incluindo aplicativos para compartilhar a conexão, gravar vídeos usando a câmera, enviar mensagens MMS, ouvir rádio, etc.), sem remover o sistema de ativação nem o bloqueio da operadora.

Naturalmente, o jailbreak tem também seus problemas, já que anula a garantia, te obriga a baixar softwares por canais alternativos (tornando seu aparelho um alvo potencial para malwares incluídos nos executáveis) e viola termos da EULA. De qualquer forma, um bom lugar para se informar sobre os softwares disponíveis é o http://www.iphonehacks.com/.

Em resumo, o iPhone é um aparelho inovador em diversas áreas, mas que por outro lado tem uma série de limitações óbvias, introduzidas pela cultura centralizadora da Apple. Os softwares de jailbreak permitem remover muitas delas, tornando o iPhone 3G uma opção mais palatável para os power-users. Entretanto, ele levanta diversas questões morais, afinal, é complicado pagar caro por um aparelho e ter que viver à margem da lei, fugindo das atualizações oficiais. É muito mais simples ir para outra plataforma, que não possua tantas limitações artificiais.

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