Apesar de não ter a mesma divulgação de distribuições como o Red Hat e o Mandrake, o Slackware continua sendo uma das distribuições Linux mais usadas, mantendo uma tradição de mais de 10 anos. Durante este período o Slackware manteve-se fiel às origens, mantendo um sistema muito simples de scripts de configuração, que permite configurar o sistema sem necessidade de muitas ferramentas de configuração (que são um ítem escasso no Slackware de qualquer forma :-). O Slackware não é uma distribuição destinada a iniciantes, mas sua simplicidade e bom desempenho agrada a muita gente.
O primeiro passo é como sempre baixar o ISO e queimar seu CD. Você pode ver a lista dos mirrors disponíveis no:
http://www.slackware.com/getslack/
Existem duas pastas, a slackware-9.0 que contém a árvore com todos os arquivos e slackware-9.0-iso que contém a imagem do CD. Nem todos os mirrors possuem o ISO, às vezes é preciso um pouco de paciência. Se não tiver paciência pra baixar você pode comprar um CD conosco no https://www.hardware.com.br/CD/linux/gnu.php
O ISO é bootável, basta queimar o CD, configurar o Setup para dar boot via CD-ROM e começar a instalação:
Não vou falar muito sobre o processo de instalação deste versão pois os passos são exatamente os mesmos da versão 8.1. Esta é uma das características do Slackware, o instalador é praticamente o mesmo desde as primeiras versões. Quem aprendeu a instalar o Slackware a 6 anos atrás por exemplo não terá nenhuma dificuldade em instalar a versão atual 🙂 Você pode ver uma descrição detalhada da instalação do Slackware neste tutorial:
https://www.hardware.com.br/tutoriais/mini-manual-slackware-2/
As novidades da nova versão se concentram nas atualizações em todos os principais aplicativos, incluindo o KDE 3.1, Gnome 2.2, Kernel 2.4.20 e o Xfree 4.3.
Você pode ver alguns comentários sobre o KDE 3.1 no meu artigo sobre o Knoppix 3.2 disponível aqui:
https://www.hardware.com.br/tutoriais/dominando-knoppix/
Se você é novo no Slackware, existem duas dicas que podem ser úteis. No final da instalação você será questionado sobre a ativação do frame-buffer e poderá escolher uma resolução de tela. Quase todas as placas de vídeos atuais suportam o frame-buffer. A grande dica é que ao ativá-lo você não precisará usar o xf86config para configurar o vídeo, o modo gráfico funcionará automaticamente ao final da instalação, usando o FBdev (o mesmo driver usado quando você usa a opção “fb1024x768” no Kurumin por exemplo). Basta fazer o login e dar um “startx”.
Outra dica é que por default o Slackware inicializa em modo texto. Para ativar o login gráfico você deve usar o comando:
E trocar o “3” por um “4” na linha:
id:3:initdefault:
Para editar o texto pressione a tecla “I”, para salvar a alteração basta pressionar a tecla Esc e depois “ZZ” (dois Z’s maiúsculos).
A placa de som também deve ser ativada manualmente depois da instalação, você pode encontrar instruções no meu tutorial que indiquei acima. A placa de rede é automaticamente detectada no final da instalação, assim como placas PCMCIA compatíveis com o sistema. Caso você tenha uma impressora você pode usar o “kprint” que é o utilitário gráfico incluído no KDE, bem simples de usar. Você pode encontrá-lo em Iniciar > Setting > Printing Manager. O scanner pode ser configurado através do Kooka, encontrado em Iniciar > Graphics. Os softmodems ainda precisam ser instalados manualmente usando os drivers disponíveis no http://www.linmodems.org/ mas atualmente o suporte está bem melhor, com drivers mais fáceis de instalar e mais modelos suportados. Baixando o driver correto e seguindo as instruções do README você não deve ter muitos problemas.
O KDE do Slackware vem com pouca personalização, basicamente o mesmo KDE que você baixa no site oficial. O antialising de fontes vem ativado por default, mas a fonte padrão não é das mais bonitas:
Você pode corrigir isso instalando mais fontes true-type. Para isso abra o Kcontrol em Iniciar > Setting > Control Center. E em seguida abra a ferramenta de instalação de fontes do KDE em System Administration > Font Installer.
Basta agora clicar em “Change Folder” apontar a localização da pasta com as fontes que serão instaladas. Todas as fontes disponíveis serão listadas no menu da esquerda. Selecione as que você deseja instalar (ou logo todas de uma vez 🙂 e clique em “Install” e finalmente em “Apply”.
Na mesma janela, acesse a aba “Anti-Alias” e marque a opção “Use sub-pixel hinting” um recurso que melhora mais um pouco a qualidade do anti-alising das fontes e é notado principalmente pelos usuários de notebooks e monitores LCD. Este recurso é semelhante ao Clear Type usado no Windows XP.
As fontes ficam automaticamente disponíveis para os navegadores e também para programas como o OpenOffice (caso esteja instalado). Você pode também usar as novas fontes para personalizar o visual do sistema, acessando a seção Appearance & Themes > Fonts.
Você deve ter percebido pelo screenshot que o KDE vem em Inglês. O CD não vem com os pacotes de internacionalização (para economizar espaço já que são muito arquivos, cada um com em média 2 MB). Para instalar o suporte à nossa língua procure pelo pacote kde-i18n-pt_BR-3.1-noarch-1.tgz na pasta slackware/kdei/ dos FTP’s do Slackware. Um rápido onde consegui baixar foi o:
http://www.slackware.at/data/slackware-9.0/slackware/kdei/
Depois de baixar o pacote acessar a pasta onde baixou e instalá-lo com o comando:
Feito isso volte ao painel de controle do KDE, acesse a seção Country/Region > Locale > Add Language e escolha o Português do Brasil.
Além do KDE o Slackware 9.0 vem com o Gnome 2.2, Xfce, Fvwm95, Fvwm2 e WindowMaker, você pode escolher seu favorito usando o comando “xwmconfig” ou clicando no botão “Session” na tela de login.
O Slackware vem também com um melhor suporte a vários modelos de placas de vídeo graças ao Xfree 4.3. A lista completa dos avanços pode ser vista no:
http://xfree86.org/4.3.0/RELNOTES.html
Os principais avanços são:
- Drivers 3D para as placas Radeon 8500, 9000, 9100 e M9. Existe ainda a opção dos drivers 3D fornecidos pela ATI.
- Melhora no suporte ao vídeo onboard dos chipsets Intel 845G, 852GM, 855GM e 865G, incluindo suporte 3D.
- Suporte para as placas National Semiconductor SC1x00, GX1 e GX2
- Suporte (2D) para as placas NVIDIA nForce2 (vídeo onboard), GeForce 4 e GeForce FX. O suporte a 3D continua sendo ativado através da instalação dos drivers da nVidia.
- Melhora expressiva nos drivers para as placas de vídeo SiS (incluindo os modelos onboard). As placas da SiS são históricamente as que apresentam o PIOR desempenho no Linux, em alguns casos até mesmo em 2D. É uma marca a evitar tanto ao comprar placas de vídeo quanto ao comprar mobos.
- Corrigidos bugs nos drivers para placas Savage e S3virge. Adicionado suporte a aceleração de vídeo para a Trident CyberBladeXP/Ai1
- Adicionado suporte para os processadores AMD Hammer.
- Melhor desempenho em 2D para todas os placas de vídeo através do uso do shadowfb.
- Melhorias no suporte a fontes TrueType.
O changelog completo (longo, voltado para desenvolvedores) pode ser lido no: http://cvsweb.xfree86.org/cvsweb/xc/programs/Xserver/hw/xfree86/CHANGELOG?rev=HEAD
Outra mudança importante é o uso do gcc-3.2.2 ao invés do antigo gcc-2.95.3 na compilação dos aplicativos. O compilador usado é uma peça chave para o desempenho de qualquer distribuição Linux, ele é o responsável por transformar o código fonte publicado pelo desenvolvedores nas instruções binárias que serão executadas pelo sistema. Este é uma trabalho extremamente complexo e por isso sempre passível de aperfeiçoamentos.
Novas versões dos compiladores trazem avanços que geram compilações mais eficientes. Isto faz com que, mesmo sem nenhuma outra alteração, o aplicativos passem a rodar mais rápido e a consumir menos memória RAM. A versão antiga do gcc era notavelmente ruim em compilar código escrito em C++, a linguagem usada no KDE. Isso foi sensivelmente melhorado na nova versão, o que faz com que o KDE 3.1 do Slackware 9.0 seja sensivelmente mais rápido que o KDE 3.0 do Slackware 8.1. Embora o tempo de abertura do KDE não tenha ficado muito menor, você notará que as respostas ao abrir aplicativos como o Konqueror ou clicar nos menus estão mais rápidas, sem as “paradinhas” típicas da versão anterior.
Nos aplicativos do Gnome, além de programas como o Mozilla e OpenOffice que são baseados em outras bibliotecas também houve algum ganho, mas bem menor.
Se você tem 128 MB ou mais de memória RAM vai notar que o tempo total de inicialização do sistema e, principalmente, o tempo necessário para abrir aplicativos como o Konqueror foram reduzidos. Alguns aplicativos, como por exemplo o Mozilla estão consumindo menos memória (o Mozilla 1.0 era um devorador de RAM 🙂 o que resulta em um melhor desempenho geral.
A configuração ideal para rodar o Slackware 9.0 com o KDE 3.1 e se beneficiar dos ganhos é um Pentium II com 128 MB. Quem tem 64 MB ou menos provavelmente não vai sentir melhoria pois o sistema continuará lento por causa do uso de memória swap. Faça um favor a só mesmo, gaste R$ 80 num Pente de 128 MB e seja feliz 🙂
Apesar de ter sofrido algumas atualizações, o pkgtool, a principal ferramenta de instalação de pacotes do Slackware continua trabalhando da mesma forma, sem suporte a checagem de dependências nem atualizações automática. Para manter seu sistema atualizado é preciso assinar a lista de desenvolvimento ou ficar atento ao lançamento das correções e ir baixando e instalando tudo manualmente.
Os pacotes mais importantes estão incluídos na distribuição ou podem ser encontrados através do google em formato .tgz mas a maioria precisa ser compilada manualmente o que é talvez o maior obstáculo para os iniciantes. O Slackware vem com um conjunto bastante completo de compiladores, tornando os problemas menos comuns que em distribuições como o Red Hat por exemplo, mas ainda assim os problemas existem. A falta de um sistema de checagem de dependências também complica um pouco as coisas.
As dependências são uma solução para o problema da falta de bibliotecas e outros arquivos, não o problema em sí.
Imagine o seguinte: O programa x precisa da biblioteca y para rodar, a biblioteca y por sua vez faz parte do pacote k. O mantenedor do programa x poderia simplesmente compilar o programa estaticamente, incluindo a biblioteca no próprio executável, isso resolveria o problema, mas por outro lado tornaria o programa muito maior. Se todos os pacotes passassem a ser compilados desta forma, você precisaria de 6 CDs para instalar o Mandrake 9.1 e o sistema consumiria o dobro de memória RAM. Compilar estaticamente é um recurso útil em programas pequenos (o executável ficará com 500 KB a mais por exemplo, mas o importante é que o usuário consiga instalá-lo sem ter problemas) mas não é uma solução razoável para uma distribuição.
Sistemas de gerenciamento de pacotes como o apt (do Debian, Knoppix, Lycoris, Libranet, Kurumin e outros) e o urpmi (do Mandrake) funcionam de uma forma relativamente simples. O mantenedor do pacote inclui um pequeno arquivo listando os pacotes de que seu programa precisa e, caso necessário, também as versões necessárias. O gerenciador de pacotes cria uma base de dados cruzando as informações de todos os pacotes e assim “sabe” que para instalar o pacote x você precisará instalar junto o pacote k. Caso você resolva remover o pacote x posteriormente, o pacote k deixa de ser necessário e o gerenciador se encarrega de removê-lo também.
O problema é que como qualquer software, os gerenciadores são burros, eles simplesmente fazem o que foram programados para fazer. Isso dá margem para “brigas” com o usuário:
Usuário: Instale o pacote R
Apt: Ok, vou instalar também o pacote T, Y, U, I, O, P, D e H
Usuário: Não! Eu quero só o pacote R!
Apt: Desculpe, regras são regras, se você não instalar os pacotes T, Y, U, I, O, P, D e H eu não deixo você instalar o pacote R
Usuário: Seu $%&#Q@#&
A moral da história é que o objetivo do gerenciador de pacotes é manter o seu sistema funcionando, mesmo que para isso você tenha que instalar 50 MB de programas junto com aquele cliente de ICQ de 500 KB. Isso faz com que os usuários avançados muitas vezes prefiram “enganar” o gerenciador, forçando a instalação de pacotes, removendo ou inserindo arquivos manualmente, escondendo as fontes de pacotes (no caso do apt) e assim por diante. Eu sou obrigado a fazer muito disso pra deixar o Kurumin com menos de 200 MB… 🙂
No Slackware este “problema” não existe. Você pode instalar ou remover qualquer pacote do sistema usando o pkgtool e ele não reclamará de nada. Isso não resolve o problema, pois o pacote x continuará precisando da biblioteca y que faz parte do pacote k. A única diferença é que agora você é quem deve saber da dependência e se encarregar de baixar e instalar o pacote necessário manualmente.
A responsabilidade de manter o sistema “inteiro” passa a ser do usuário, o que exige muito mais atenção e pesquisa na hora de incluir novos programas.
Este é provavelmente um dos motivos do Slackware ter usuários tão fiéis. Ele permite que o usuário faça o que quiser no sistema, sem impor regras. Se o programa x não funciona, a culpa é sua, e não do gerenciador de pacotes. Quer remover o pacote com os módulos do Kernel? Sem problemas, você é quem manda, só não reclame depois 🙂
Ame ou odeie, esta é a “Slackware way of Life” 🙂
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