Dois grandes nomes que reviveram a Apple a partir da década de 90 não estão mais na empresa. O primeiro deles pela ordem natural da vida, já que faleceu em 2011. O segundo por uma opção profissional de buscar um novo caminho. Estou falando da dupla dinâmica Steve Jobs e Jony Ive.
É engraçado observar como a Apple é dividida em dois ciclos absurdamente vitoriosos de uma dupla bem alinhada. No primeiro ciclo temos a parceria dos Steves, Jobs e Wozniak. Aliança que deu origem a essa companhia que mudou o mundo da tecnologia.
No segundo ciclo de parceria temos Steve Jobs e Jony Ive. O lendário cofundador da Apple junto com um designer que também cravou seu nome na história.
A parceria entre Jobs e Ive é algo que difícil de traduzir em palavras. Estamos falando de uma união, em conjunto com outras mentes tão brilhantes quanto, que deu origem a dinastia dos produtos “i”. A partir de meados da década de 90 a Apple fincou sua bandeira como empresa capaz de se reinventar e ditar o mercado. Indo muito além de apenas computadores
Aproveitando que a Apple anunciou uma nova geração de iMacs, que, assim como o primeiro, tem um forte apelo na estética, resolvi relembrar o iMac G3, lançado em 1998. Produto que foi o primeiro grande triunfo dos parceiros Jobs-Ive.
iMac 1998/iMac 2021 – na mesma vibe
É possível observar algumas semelhanças conceituais em relação ao primeiro iMac – lançado em 1998, e sua nova edição. E olha que ainda não estou referindo-me à questão do design.
Essa semelhança chave é no apelo técnico. Em 1998, o iMac foi compreendido como o produto que era o cartão de visita da ideia “pense diferente” (think different) que a Apple queria passar.
A ousadia da máquina aparecia em alguns pontos. Como a decisão de não incluir uma unidade de disquete. O iMac, com seu visual descolado, vendia o conceito de olhar para o futuro. Pensar diferente é inovar e correr riscos.
No iMac de 1998 nada de disquete, apenas bandeja para CD. Quase que a máquina veio até mesmo sem disco rígido, já que Jobs cogitou para o iMac a ideia de uma máquina que iria se concentrar mais nos recursos da web. No entanto, foi convencido a incluir uma unidade de disco. O iMac também foi um dos computadores que acabou ajudando a popularizar a entrada USB.
No iMac de 2021 observamos uma outra aposta ousada. Talvez não tão ousada assim, pelo momento da Apple de hoje. Estou falando do uso do processador “feito em casa”. A geração 2021 do iMac chega com o tão falado chip M1, desenvolvido pela própria Apple.
Processador que faz parte da plataforma Apple Silicion, que é o nome pomposo da Apple para taxar seu desapego dos processadores da Intel e adoção de chips próprios, baseados em ARM. Assim como já faz há anos no mercado mobile.
É interessante a grande referência que a Apple fez numa das imagens de divulgação do iMac 2021 que remonta aos tempos do iMac de 1998.
Vemos o iMac com a inscrição hello (olá ) na tela.
Esse mesmo hello também está presente na divulgação do primeiro iMac. Além do hello, embaixo tinha o “again” (novamente), fazendo alusão que era a segunda vez que Apple utilizara essa “brincadeira” em seus computadores. A primeira foi na mítica apresentação do primeiro Macintosh, na década de 80.
Esse hello do iMac 2021 também pode funcionar como um “ei, preste atenção em mim, ainda posso ser interessante”. O motivo para essa ideia é que essa é a primeira grande atualização em design para o iMac em anos. Com destaque para as novas opções de cores e redução nas bordas. Também vale observar a redução na espessura. O novo iMac é 50% mais fino que os anteriores.
Já que falamos em design vamos a ele. Preciso adiantar que, na minha opinião, o primeiro iMac é um marco do design de produtos. A aparência daquele computador é realmente icônica. Sem dúvidas, o primeiro grande passo que a Apple deu para caminhar de maneira paralela ao universo da moda e do luxo. Era um computador com cara de algum outro apetrecho futurista e luxuoso.
Isso sem falar que também conseguia agradar aos bons e velhos entusiastas da computação. O case translúcido, a possibilidade de enxergar os componentes daquele all-in-one, faz qualquer entusiasta do hardware salivar.
John Ive declarou que a ideia daquele case era passar uma ideia de mutação. O computador como um camaleão. Era uma forma de ter cor, mas não parecer tão estático.
O aspecto conceitual e de simbolismo da máquina aparecia até mesmo na questão da cor. O case adotava um tom de azul verde-mar, que foi batizado de azul-bondi. Esse tom foi escolhido em homenagem à cor da água da praia da Austrália. Sabe como é, coisa de designer.
Do azul de 1998, chegamos a uma paleta bem mais variada e vibrante no ano seguinte. o iMac ganhou a sua linha “Lifesaver”, que inclui modelos com cases de outras cores. “Cores com sabores”, já que a lista era mirtilo, morango, limão, tangerina e uva.
Os novos iMac também estão disponíveis em várias opções de cores. São 7 opções: verde, amarelo, laranja, rosa, roxo, azul e prata.
Diferentemente do passado, os novos iMacs são mais comedidos na aparência, mas as cores trazem a jovialidade e vibração novamente para a linha.
O iMac é um produto icônico por inúmeras razões:
- Primeiro grande lançamento do retorno de Jobs para a companhia;
- Uma tremenda quebra de paradigma de design – numa época em que a cor bege era o padrão na computação;
- Marca o início de uma parceria vitoriosa entre Jobs e Ive;
- Chegou por um preço abaixo do que a Apple cobrava na época (foi lançado por US$ 1.299, a Appe não lançava computadores que custavam menos de US$ 2.000);
- O primeiro iMac foi um produto que transcendeu o mercado de computadores, se tornou um ícone cult.
Com o iMac 2021 a Apple faz essa volta ao passado, e, assim como o iMac de 1998, olha para o futuro. Dessa vez o futuro é conduzido pelo processador M1.
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