É praticamente uma unanimidade: anúncios são uma praga na internet. Não importa a rede social, a plataforma de streaming, o site, o aplicativo ou o serviço online que você acesse, todos eles exibem anúncios. A não ser que você literalmente pague para se livrar deles.
Um bom exemplo é o YouTube. Se você estiver de saco cheio de ver anúncios antes, durante e depois dos vídeos, é só pagar R$ 25,90 por mês para assinar o YouTube Premium e se livrar das propagandas. Ou então usar algum tipo de adblocker, coisa que está cada vez mais difícil, diga-se de passagem.
Mas neste artigo eu quero trazer um questionamento ou, no mínimo, uma reflexão: os anúncios são tão ruins assim mesmo? Eu sou da opinião que não, não são. Nos próximos parágrafos vou tentar explicar minha visão sobre esse assunto.
Anúncios existem desde que o mundo é mundo
Em minha pesquisa, eu descobri que os primeiros anúncios como conhecemos hoje foram publicados em 1650, em jornais da Inglaterra. Nos Estados Unidos o primeiro anúncio de jornal registrado ocorreu em 1704.
No entanto, já foram encontrados papiros do Egito Antigo que eram anúncios de serviços. Na antiga cidade de Pompeia, soterrada em 79 d.C pela erupção do vulcão Vesúvio, também foram encontrados anúncios de casas de banho. Mas, na real mesmo, desde a Mesopotâmia, há cerca de 5.000 anos a.C, as pessoas fazem anúncios e propagandas de seus produtos e/ou serviços.
Ou seja, podemos concluir que os anúncios, ou melhor, a publicidade como um todo, é um mal necessário. Enquanto a humanidade existir e praticar o que chamamos de comércio, haverá a necessidade de propagandas e anúncios, em seus mais variados formatos e locais.
Se o serviço é de graça, você é o produto
A frase acima, escrita pelo jornalista americano Andrew Lewis é bem conhecida, especialmente por quem entende melhor os meandros e como funciona a internet. Eu diria até que esta é uma verdade bem básica sobre a internet.
Você não paga nada para usar serviços como YouTube, Google Maps, Waze, Facebook, Instagram, WhatsApp, Gmail, Outlook e para fazer pesquisas no Google ou no Bing, da Microsoft. Será que todos estes serviços, usados por milhões de pessoas todos os dias, são disponibilizados de graça por que as Big Techs são boazinhas? Ou por que já são ricas o suficiente?
É óbvio que não! Você consegue usar de graça pois todas estas empresas, como Google, Microsoft, Meta e tantas outras, coletam tanto seus dados pessoais quanto seus dados de uso. E as empresas usam todos esses dados coletados ao longo de anos para, dentre outras coisas, apresentar anúncios mais relevantes para você. Os anúncios são a grande fonte de renda de empresas como Google e Meta. Sem os anúncios, estas empresas simplesmente não têm como manter seus serviços no ar por muito tempo.
Um mundo livre de anúncios seria tão bom assim?
Vamos agora imaginar um outro cenário. Imagine um mundo livre de anúncios. Mas, em contrapartida, você teria que pagar uma mensalidade para ver seus e-mails no Gmail ou Outlook. Para pesquisar qualquer coisa no Google, também teria que pagar uma mensalidade. Se você quisesse ver a rota para um determinado destino, teria que adquirir uma licença do Google Maps ou do Waze. E para ver o trânsito em tempo real teria que pagar por uma licença mais cara.
Imagine um mundo onde além de pagar um serviço de streaming como a Netflix, você também teria que pagar uma mensalidade para assistir vídeos no YouTube. No seu cartão de crédito também chegariam mensalidades para acessar o Facebook, Instagram, Twitter e até mesmo para usar o WhatsApp!
Já que não haveria anúncios em nenhuma dessas plataformas, teria também menos gente produzindo conteúdo. Afinal de contas, por que eu vou ter todo o trabalho e estresse de manter um canal no YouTube se eu não vou ganhar nada com isso? Sem anúncios, sem remuneração. Sem anúncios, menos conteúdo pra gente consumir e se entreter.
Não sei você, mas eu prefiro ter acesso a todos estes serviços sem desembolsar nenhuma quantia financeira. Prefiro dar acesso aos meus dados do que gastar centenas de reais todos os meses para usar serviços úteis, como a busca do Google ou o Google Maps.
Fonte de renda para milhões de pessoas
Não sei se você já percebeu, mas só reclama dos anúncios que não tem um negócio para cuidar. Quem é dono de empresa ou é um profissional autônomo/liberal como médico, engenheiro, arquiteto, chaveiro, mecânico, barbeiro, personal trainer, etc… dificilmente reclama dos anúncios.
Porque é através dos anúncios que eles conseguem clientes. Antes do advento das redes sociais e dos anúncios online, as opções de publicidade eram pouco eficientes ou muito caras.
O método mais comum era anunciar no jornal ou nos classificados. Você pagava um valor específico e o jornal imprimia o seu anúncio em uma das páginas. Era praticamente impossível saber quantas pessoas tinham visto seu anúncio, quantas ignoraram e, principalmente, quantas chegaram até você através do anúncio. A mesma lógica ocorre com anúncios na TV, no jornal, em outdoors, panfletos, etc…
A exposição do seu produto/serviço/empresa pode até ser grande. Mas você não tem acesso a dados mais qualitativos, como a faixa etária de quem viu o anúncio ou o perfil de quem se interessou.
Com os anúncios online é diferente. Você não só tem uma grande exposição, como também tem acesso a diversos dados sobre o seu público: gênero, faixa etária, locais onde moram, quantas pessoas viram, quantas vezes o anúncio foi exibido, dentre outros dados que ajudam a otimizar ainda mais a eficiência de seus anúncios.
Vou contar uma história para exemplificar o meu ponto. Além de redator, eu também trabalho como “gestor de tráfego”. Caso você não saiba o que significa esse termo, gestor de tráfego é também conhecido como “analista de mídia” nas agências de publicidade tradicionais. É o cara responsável por comprar espaços de publicidade em jornais, TVs e rádios. No meu caso, compro espaços nas redes sociais, como Facebook, Instagram, YouTube e Google.
Um amigo meu é dono de uma barbearia e recentemente adicionou um novo serviço, o de prótese capilar. No entanto, por ser um serviço mais caro, ele estava com dificuldades de conseguir clientes. Nos últimos 3 meses ele só tinha fechado com 5 clientes.
Eu sugeri a ele investir R$ 300 em anúncios no Facebook e Instagram. Ele topou e assim fizemos. Em um mês ele recebeu 98 mensagens no WhatsApp de pessoas interessadas, conseguindo fechar com 6 delas. Cada serviço custa, em média, R$ 1.500. Ou seja, ele faturou R$ 9 mil investindo apenas R$ 300 em anúncios no Facebook e Instagram. Mais do que ele tinha conseguido nos últimos 3 meses.
A mesma lógica se aplica a donos de pizzarias, restaurantes, churrascarias, salões de beleza, academias e profissionais autônomos como chaveiros, mecânicos, personal trainers, nutricionistas, advogados, etc. As redes sociais e os anúncios online possibilitam que todos estes profissionais e empresários consigam seus clientes. E olha que eu nem entrei no mérito dos influenciadores digitais e nos donos de sites e canais no YouTube. De onde você acha que o Hardware e a GameVicio tiram dinheiro para pagar os redatores?
Mas as Big Techs vendem meus dados, pipi… popo…
Outra preocupação muito comum e igualmente válida é o que as Big Techs fazem com nossos dados. Não me entenda mal. Eu também acho que os governos devem regulamentar e fiscalizar essa parte. Tanto é que foi criada a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Europa e Estados Unidos também possuem leis similares e até mais restritivas, como é o caso da General Data Protection Regulation (GDPR), lei usada na União Europeia.
Em minha opinião, os governos devem fiscalizar como os nossos dados são tratados, impedindo práticas como a venda das informações para empresas de terceiros. Além disso, eu sou a favor de penalizações rígidas para as empresas que venderem nossos dados.
No entanto, eu continuo achando que as Big Techs podem usar todos estes dados para aprimorar os seus serviços e também para veicular anúncios mais segmentados. Como eu expliquei, enquanto existir a humanidade e o comércio, vão existir anúncios. Então, já que eu vou ver anúncios de qualquer forma, que pelo menos sejam de coisas que me interessem.
O uso dos dados coletados por parte das Big Techs para melhorar a segmentação dos anúncios é positivo para todas as partes envolvidas. Para o anunciante, que vai conseguir mostrar o seu produto/serviço/empresa para as pessoas certas. Para o usuário, que verá anúncios de coisas nas quais ele tem interesse. E para a Big Tech, que vai conseguir lucrar mais com a publicidade.
Sem a segmentação dos anúncios, será comum vermos aqueles banners de “aumente seu pinto usando o produto XYZ”.
Anúncios funcionam
Por fim, o último argumento que vou usar para defender os anúncios é que eles funcionam. Simples assim. Um estudo recente realizado pela IAB Brasil mostrou o impacto do acesso à internet através de Smart TVs em 2023.
Dos usuários que acessaram a internet através de Smart TVs, 69% deles viram anúncios online. E apenas 16% considerou que a publicidade atrapalhou sua experiência. Além disso, 49% dos usuários consideraram os anúncios como relevantes. E 66% disseram que acham positivo a personalização das propagandas.
Por último, o dado mais importante é que 3 a cada 5 usuários compram produtos com base em anúncios que eles viram. Ou seja, querendo ou não, os anúncios ainda são muito eficazes.
O problema não está nos anúncios, mas no excesso
Como diz o ditado, “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”. Ao meu ver, os anúncios online não são o problema em si. Mas o excesso deles é.
A maioria das pessoas não vê problema nenhum em entrar em um site, como o Hardware.com.br, onde os anúncios são distribuídos de forma a não atrapalhar o conteúdo. O que irrita é entrar em sites que tem tanta propaganda que fica difícil até achar o conteúdo em meio a tantos banners. E por falar nisso, coloque o nosso site na White List de seu adblocker. Ajuda nóis!
A mesma coisa com o YouTube. Assistir 2 anúncios antes de começar o vídeo, mais um anúncio no meio e outro no final é uma palhaçada. Instagram e Facebook seguem o mesmo caminho. A cada dois posts de amigos, tem um post patrocinado. Neste caso, o excesso de anúncios é o que irrita as pessoas e as faz querer usar o AdBlocker em tudo quanto é dispositivo e navegador.
O grande X da questão, ao meu ver, é que as entidades reguladoras e as Big Techs cheguem a um consenso. É preciso regulamentar e fiscalizar com eficiência o que as Big Techs fazem com nossos dados. Mas também é preciso deixar os anúncios serem veiculados com melhor segmentação e, principalmente, com moderação.
Mas e você? Qual a sua opinião sobre esse assunto?
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