O plano da Intel para tentar contornar uma das piores crises de sua história

O plano da Intel para tentar contornar uma das piores crises de sua história

No mês passado, comentei neste artigo sobre a crise atual da Intel, que está definitivamente enfrentando um dos momentos mais difíceis de sua longa história como gigante dos semicondutores. Agora, é hora de falar sobre o que a companhia está preparando como resposta a essa sucessão de infortúnios.

A companhia está traçando um plano de ação e reestruturação crucial para a continuidade do seu negócio, que também é fundamental para as pretensões do governo dos EUA, seu país de origem. A Intel desempenha um papel central na disputa entre EUA e China pelo futuro do mercado de chips, um contexto que se tornou ainda mais urgente com o rápido avanço da IA.

Uma parte infeliz, mas necessária devido ao péssimo momento, desse plano de reestruturação foi a demissão de 15% da força de trabalho da Intelum corte de mais de 15 mil colaboradores, anunciado no início do mês passado. A medida visa uma redução de custos de US$ 10 bilhões.

As ações emergenciais também incluem o adiamento de investimentos em fábricas na Itália e França.

Atualmente, a Intel enfrenta perdas de US$ 1,6 bilhão no segundo trimestre de 2024, uma queda de 1% na receita ano a ano, além de problemas de imagem pública devido a casos de instabilidade e danos permanentes em alguns processadores das 13ª e 14ª gerações. Historicamente reconhecida por fabricar seus próprios chips, a Intel sempre evitou uma terceirização total, diferentemente de concorrentes como a NVIDIA. Para seguir com sua filosofia de manter a fabricação de seus chips a Intel confirmou uma decisão que pode mudar muita coisa nos próximos anos.

” Separando o joio do trigo”

Uma nova fase do plano da Intel envolve converter sua divisão de fabricação de chips em uma empresa separada. Segundo comunicado oficial, a Intel pretende estabelecer a Intel Foundry como uma subsidiária independente dentro da companhia.

De acordo com a empresa, essa reestruturação trará importantes benefícios. “Fornecerá aos nossos clientes e fornecedores externos uma separação e independência mais claras em relação ao restante da Intel. Importante, também dá flexibilidade futura para avaliar fontes independentes de financiamento e otimizar a estrutura de capital de cada negócio para maximizar o crescimento e a criação de valor para os acionistas.”

O comunicado oficial, assinado pelo CEO Pat Gelsinger, faz um aceno direto a dois pontos cruciais para a Intel: os parceiros que utilizam suas fábricas para produção de chips e os acionistas. A divulgação desse plano resultou em uma alta de 8% nas ações da empresa na última segunda-feira (16).

Pat Gelsinger, CEO da Intel

Com essa divisão, a Intel também projeta um cenário em que fontes externas de financiamento possam ser atraídas para manter a Intel Foundry. Isso separaria claramente o design de chips da fabricação, dois segmentos que sua rival histórica, a AMD, já tratou como distintos.

Ao considerar investimentos externos, a Intel poderia acelerar o desenvolvimento de tecnologias avançadas em litografia e fabricação de chips, competindo de maneira mais eficaz com a TSMC, a principal fabricante de semicondutores do mundo.

AMD fez um movimento parecido

Quem acompanha o mercado de hardware sabe que o movimento que a Intel está fazendo não é inédito. A AMD já foi responsável tanto pelo design quanto pela fabricação de seus próprios chips. No entanto, em outubro de 2008, a empresa anunciou que a fabricação de chips se tornaria uma empresa separada.

Rapidamente, um. grupo de Abu Dhabi, que já havia investido na AMD em 2007, entrou como investidor nesse novo modelo, alocando US$ 700 milhões por 55% da FoundryCo, que mais tarde se tornaria a GlobalFoundries. Outros US$ 300 milhões foram investidos para aumentar a participação do grupo na AMD, saltando 8% para 19,3%.

Em março de 2009, o acordo foi concluído. A AMD ficou com 34% da GlobalFoundries e se tornou o primeiro cliente da nova empresa independente. No entanto, após enfrentar diversos desafios na fabricação de chips, principalmente na época da litografia de 32nm, a AMD encerrou sua parceria com a GlobalFoundries em 2012. Época que a AMD estava fazendo a transição para processadores baseados em 28nm.

Essa separação permitiu à AMD focar no design de chips, o que impulsionou sua retomada nos últimos anos, contando com a fabricação da TSMC, que já era sua antes mesmo da criação da GlobalFoundries, cuidando de grande parte da produção das GPUs da ATI, empresa adquirida pela AMD em 2006.

A união com a Amazon

O CEO da Intel também revelou outros detalhes importantes:

  • O governo dos EUA injetou US$ 3 bilhões para ampliar a produção de semicondutores, buscando proteger a cadeia de suprimentos americana;
  • Foi firmada uma parceria estratégica com a Amazon Web Services (AWS), que inclui investimentos na produção de chips especializados para IA nas instalações da Intel Foundry.

Do ponto de vista tecnológico, o investimento da Amazon merece destaque. Não é segredo que grandes empresas de tecnologia, como Amazon e OpenAI, estão buscando reduzir sua dependência da NVIDIA. Esse movimento pode ser crucial para que a Intel recupere o tempo perdido na corrida por parceiros de peso, como a AWS, dispostos a desenvolver suas próprias soluções de hardware para IA.

Com o acordo, há o compromisso de desenvolver em conjunto um chip de IA utilizando o processo de fabricação 18A da Intel, além de criar uma versão especial do processador Xeon 6 para servidores AWS especializados.

Até o momento, não há indícios de que a Intel vá abandonar completamente a fabricação de seus próprios chips. A empresa continua comprometida com esse aspecto de seu futuro, mas é inevitável lembrar do que aconteceu com a AMD, que optou por terceirizar a fabricação — uma decisão que se provou crucial para sua recuperação.

E você, o que acha que acontecerá com a Intel? A empresa está tomando as decisões certas para se afastar da crise e retomar sua posição de destaque no mercado de semicondutores? Comente abaixo sua opinião.

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
Leia mais
Redes Sociais:

Deixe seu comentário

X