Gordon Moore, o incansável perseguidor do progresso tecnológico

Gordon Moore, o incansável perseguidor do progresso tecnológico

Otimista de carteirinha, visionário prático e em perspectivas teóricas, personagem ímpar em um mercado que só cresce. Os atributos que podem ser vinculados a Gordon Moore, cofundador da Intel, que faleceu aos 94 anos nesta sexta-feira (24), são tão extensos quanto a sua contribuição para a evolução da tecnologia.

Antes mesmo de ajudar a fundar a empresa que virou sinônimo de microprocessador, – produto criado pela Intel, Moore já estava com os dois pés fincados num dos capítulos mais interessantes sobre a história do desenvolvimento do mercado de semicondutores.

Natural de São Francisco, EUA, e PhD em química e física, Moore foi um dos principais personagens dos primeiros anos do que ainda hoje é a “meca da tecnologia”, o Vale do Siício. Contratado em 1956 como diretor de pesquisa e desenvolvimento da Shockey Semicondutor Laboratory, fundada pelo físico e inventor William Shockley naquele ano, e notavelmente uma das primeiras empresas a trabalhar com transistores, não demorou para Moore alçar voos ainda mais significativos e estabelecer uma das parcerias mais impressionantes da história da tecnologia.

Moore foi um dos contratados da Shockley que abandonou a companhia e fundou uma concorrente. Movimento que ficou apelidado de os 8 traidores, em referência ao número de colaboradores que caíram fora. Esses oito nomes deram início a Fairchild Semiconductor Corporation (agora parte da empresa onsemi) em 1957, graças ao investimento de Sherman Fairchild, que colocou US$ 1 milhão na jogada.

Na lista de “traidores”, Robert Noyce estava presente. Nada mais, nada menos que um dos responsáveis diretos pela invenção do circuito integrado e que formou com Moore a dupla histórica responsável pela criação da Intel, fundada em 18 de julho de 1968, em Mountain View, Califórnia. Pouco tempo depois se juntou ao time principal Andy Grove, trinca que estabeleceu o DNA da Intel, referência em termos de progresso tecnológico e cultura corporativa.

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Como se não fosse suficiente, a Fairchild também empregou outro nome lendário que foi atrás do seu voo solo, Jerry Sanders, que fundou a AMD em 1969. 

Até aqui já é quase que inacreditável a participação notável de Moore em eventos que são singulares e cruciais para o mercado da tecnologia. É realmente estar no momento certo, e fazer disso uma passagem brilhante e transformadora. Durante seu tempo na Fairchild, Moore escreveu um artigo que reverbera até hoje e ficou conhecido como uma espécie de “lei”.

Em abril de 1965, em um artigo publicação na revista Electronics, Moore estabeleceu o que ainda hoje chamamos de Lei de Moore.

Essa tal lei, é um dos exemplos mais populares do que é considerado como observação empírica. Com base na observação no crescimento do uso de transistores, Moore chegou a máxima sobre a evolução da computação eletrônica.

Inicialmente, a Lei de Moore batia na tecla que o número de transistores em um circuito integrado dobraria a cada ano. Em 1975, em uma revisão da teoria formulada, Moore declarou que o número de transistores dobraria a cada dois anos. 

Independente dos updates em termos de período, a Lei de Moore se transformou não apenas em um regimento interno para a própria Intel, como também para o mercado. Basicamente uma meta a ser perseguida, um norte para a indústria. 

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Andy Grove, Robert Noyce e Gordon Moore

Há anos se comenta sobre a queda na relevância dessa máxima, já que se manter em linha a isso está cada vez mais difícil e custoso para as empresas. No entanto, um acerto de Moore que se mantém, e que está linkado com outra observação empírica, é que o progresso em pequenos pontos são os responsáveis pelo grande impacto sentido por todos.

Vilfredo Pareto, renomado cientista e sociólogo italiano, desenvolveu uma observação no século XIX, que, assim como a de Moore, ficou estabelecida como uma espécie de lei em seu nome. Pareto observou que em muitas situações uma pequena proporção de elementos são responsáveis pela maioria dos efeitos e resultados. O famoso 80/20. 80% dos resultados são derivados de 20% das causas.

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Gordon Moore recebendo das mãos do Presidente Bush a Medalha Presidencial da Liberdade em 2002

Quando olhamos o mercado de processadores, que Moore ajudou diretamente a moldar, é factível observar uma correlação entre o princípio de Pareto e a tendência observada pelo cofundador da Intel.

Uma porção de desenvolvimentos tecnológicos, como o avanço de novos materiais e processo de fabricação, causa o real impacto transformador no avanço de uma determinada tecnologia. Esse avanço aumenta sua adoção, a redução do custo e possibilita que mais pessoas tenham acesso ao que começa como nicho e vira algo de massa.

E essa perseguição no avanço incansável norteou a carreira de Moore. Gordon Moore atuou como CEO da Intel de 1979 a 1987. Ele continuou a presidir o conselho de diretores da companhia até 1997, aposentando-se completamente do conselho em 2006. Moore também foi um nome notável no campo da filantropia. Em 2000, estabeleceu com sua esposa a Fundação Gordon e Betty Moore que já duou mais de US$ 5,1 bilhões para causas beneficentes.  Moore deixa 2 filhos e 4 netos.

No obituário publicado no site da Intel, Frank D. Yeary, presidente do conselho, declarou que Gordon era um cientista brilhante e um dos principais empreendedores da América. “É impossível imaginar o mundo em que vivemos hoje, onde a computação é tão essencial para nossas vidas, sem as contribuições de Gordon Moore .”

Em uma thread no Twitter saudando o legado de Moore, o CEO da Intel, Pat Gelsinger, lembrou que uma vez Moore disse que “o que pode ser feito, pode ser superado”.

Que assim se mantenha!

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Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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