A Apple chegou ao Brasil em 1995, época em que seu principal produto ainda era aquele que deu o pontapé inicial na trajetória da companhia: os computadores.
Fundada em 1976, por Steve Jobs e Steve Wozniak, a Apple desembarcou oficialmente no Brasil numa década emblemática em sua história. A década de 90 para a Apple foi um verdadeiro misto de caos e redenção.
Flertou com a falência e retomou a aliança com seu cofundador, peça determinante para uma reviravolta impressionante, responsável por estabelecer novas raízes que hoje ajudam a explicar porque a gigante de Cupertino é uma empresa trilionária.
1995 pode ser apontado como o ano da chegada oficial da Apple ao Brasil. Neste ano, mais precisamente em maio, foi confirmada a abertura da sua subsidiária em nosso país. A Apple do Brasil Ltda.
Entretanto, os computadores da Apple já estavam zanzando pelo país bem antes disso. No início da década, os Macs já chegavam ao país chancelado pela companhia, graças à Compusource, indicada pela Apple nos EUA para ser a representante oficial da marca no Brasil.
A reserva de mercado e o contrabando
Há também o fato que muitos Macs, assim como outros produtos eletrônicos, chegavam ao Brasil, entre o fim dos anos 70 e início dos anos 90, por contrabando.
Devido a um movimento estatal, corroborado por empresas nacionais, materializado com uma reserva de mercado que dificultava a chegada dos computadores ao país.
A “consagração” desse protecionismo surgiu com a Política Nacional de Informática – PNI, que atuou de maneira implacável entre 1984 e 1992. Neste período, a importação dos computadores era proibida.
Aconteceu também uma expansão desse arregimento estatal, com restrições que também valiam para componentes do hardware, software e outros produtos de tecnologia comercializados em solo nacional.
Com a PNI, a Secretaria Especial de Informática (SEI) tinha a autonomia para atuar como o “guardião” das empresas nacionais relacionadas ao mercado de informática. Essa autonomia permitia que a SEI controlasse as importações de bens e serviços de informática.
Controle que passava pela intervenção estatal para a proteção nacional, colocando em execução restrições de produção, operação, comercialização e importação relacionadas às empresas estrangeiras. Abaixo o cartaz da COBRA (Computadores Brasileiros), estatal criada durante o período da reserva de mercado.
Repare na frase de efeito: “Computador é como petróleo: é perigoso depender dos outros”.
Com esta reserva de mercado em vigor, o Brasil enfrentou um tremendo delay tecnológico. Além da defasagem em termos de inovação, comparado com as opções de computadores que estavam no mercado internacional, os produtos ficaram mais caros que a média global.
Este período também fomentou todo um mercado de clones das versões renomadas e famosas dos equipamentos, que eram de autoria de empresas estrangeiras.
Como os produtos tinham esta restrição de entrada no país, executivos de algumas companhias nacionais traziam de fora alguns eletrônicos de renome, e, em solo nacional, tentavam a tradicional prática da engenharia reserva. Criando uma versão compatível com o modelo oficial, mas com outro nome.
Teve de tudo nessa corrida por um bypass na reserva de mercado. Até mesmo a Dismac, lendária fabricante brasileira de calculadoras, apostou em um clone para o Atari 2600 (versão batizada no Brasil de VJ-9000) e suas fitas de jogos.
Macintosh Performa, primeira grande aposta da Apple no Brasil
Em 1995, com a chegada oficial da Apple ao Brasil, a perspectiva era outra. A abertura do mercado já estava valendo. A Apple tinha como sede no país uma mansão na região do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Anos depois, essa mesma residência virou a sede de uma histórica agência de publicidade, a F/Nazca Saatchi & Saatchi, responsável por um dos maiores cases de sucesso da propaganda no Brasil, o famoso “Desce Redondo” da Skol.
Na época em que desembarcou no país, o cartão de visita da Apple para o mercado brasileiro eram os computadores da linha Performa, indicado para uso doméstico. Neste ano, a empresa tinha seis modelos de Mac disponíveis no Brasil, do Performa 5200 ao Power Mac 9500.
Além do escritório no Brasil, a Apple não perdeu tempo e colocou em linha a produção nacional dos Macs, visando a redução nos custos de produção. Os primeiros Macs lançados com produção nacional foram o Performa 6320 e 6360. As máquinas começaram a ser vendidas em dezembro de 1996. O preço ficou abaixo dos R$ 1 mil (em 1995, o Performa 6200 custava R$ 2.999!).
A recuperação quase impossível
Tudo estava correndo relativamente bem para a Apple Brasil, mas a turbulência chegou com tudo. Turbulência advinda da matriz. A Apple ficou face a face com a falência. Estava à beira do caos em 1997. Acumulando prejuízos de US$ 1,6 bilhão no último um ano e meio e com uma fatia de mercado de apenas 3%.
Evidentemente respingou em sua subsidiária no Brasil. No fim de 97, metade da diretoria foi demitida e a produção nacional dos Macs foi descontinuada no ano seguinte.
Eram medidas para a restruturação da Apple. Reestruturação conduzida com o retorno quase messiânico de Steve Jobs à companhia que ajudou a fundar. Uma de suas primeiras grandes movimentações neste retornou deixou alguns fanáticos enfurecidos.
A Apple aceitou o investimento de US$ 150 milhões da sua arqui-rival, a Microsoft. Investimento sacramentado com a aparição de Bill Gates no telão da MacWorld de 97. Jobs teve que deixar o ego de lado e agir como um executivo estratégico.
O fato é que Jobs, com o resgate do enfoque ao produto, conseguiu conduzir a Apple por um caminho de redenção histórica, engatilhando novos produtos emblemáticos. Uma revolução com a trinca iPod, iPhone e iPad.
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Apple Store à brasileira
A ligação entre a Apple e o Brasil ganhou um segundo capítulo memorável em 2014, com a abertura da sua primeira loja física no país, inaugurada no dia 15 de fevereiro daquele ano, no Village Mall, localizado na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.
No ano seguinte foi a vez da segunda Apple Store em solo brasileiro, localizada no Morumbi Shopping, São Paulo.
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