O dia em que a Blockbuster não quis comprar a Netflix [VÍDEO]

O dia em que a Blockbuster não quis comprar a Netflix [VÍDEO]

O termo Blockbuster representa muita coisa no mundo do audiovisual. Quantas vezes você ouviu falar que tal filme é um Blockbuster, devido ao seu forte apelo de mercado, ou até mesmo por causa da sua inserção na cultura popular?

O termo, originário da época da Segunda Guerra Mundial, representava bombas com alto poder destrutivo. Capaz de causar alto impacto. Duas empresas, de maneiras distintas, representam um alto impacto na história do audiovisual, inclusive uma delas usava o nome Blockbuster como marca.

Estou falando da lendária rede de locadoras Blockbuster e a Netflix, atualmente referência quando falamos de streaming de vídeo, com um plantel de mais de 100 milhões de assinantes e com a capacidade de transformar produções como Round 6 em fenômenos.

A história das duas companhias se entrelaçou em alguns momentos, incluindo a possibilidade de um clichê corporativo se repetir: o gigante tradicional adquirindo um novato em crescimento. Dessa vez a história foi outra. Neste artigo vou relembrar o dia em que a Blockbuster teve a oportunidade de comprar a Netflix, porém rejeitou a oferta.

Blockbuster, a referência da locação de vídeos

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Adoro a praticidade do streaming e não abriria mão disso, mas confesso que sinto um pingo de saudade da época em que eu ia até uma locadora.

A experiência de percorrer corredores em busca de uma nova opção de filme, seja em VHS ou em DVD, era gratificante. Infelizmente, nunca pisei numa Blockbuster. Estive apenas em algumas das locadoras locais que replicavam o modelo de negócio que a Blockbuster popularizou.

Fundada em Dallas, EUA, em 1985 por David P. Cook, a Blockbuster não demorou para emplacar. Em apenas três anos após sua fundação a companhia se tornou a maior rede de locação de vídeos do mundo.  No início dos anos 90, a Bockbuster ostentava mais de 3.600 lojas em todo o mundo, cada uma delas com milhares de opções de filmes. Definitivamente a meca do conteúdo em vídeo.

Em seu melhor momento a empresa chegou a marca de 10.000 lojas ao redor do globo. Em 1994, a Blockbuster foi vendida para a Viacom, conglomerado multinacional de mídia e cinema. Fusão avaliada em US$ 8,4 bilhões.

A primeira filial da Blockbuster no Brasil foi inaugurada em 1995, no Itaim Bibi, São Paulo.

Netflix, do DVD ao streaming

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Nos anos 90 a Blockbuster passara por um momento importante, sua aliança com a Viacom. Nesta mesma década, dois amigos discutiam a ideia de um negócio em potencial.

Marc Randolph e Reed Hastings chegaram a pensar em empresas de ração para animais, pranchas de surfe personalizadas e até mesmo de xampu. Mas o momento eureca ficou quando o universo do audiovisual entrou em questão.

Até aquele momento, após um filme deixar o circuito de salas de cinema só havia a possibilidade de comprar uma cópia daquela obra ou alugar – segmento que a Blockbuster nadava de braçadas.

Independente da opção, todas elas obrigavam que o consumidor saísse de sua casa e fosse até o local: cinema, loja ou locadora. Randolph e Hastings idealizaram um modelo que invertia os papéis. O filme ia até o consumidor.

Esse modelo não era o streaming de vídeo, operação que tornou a Netflix o fenômeno global que é hoje. Era literalmente o filme indo até o consumidor.

Embalado por aquela que era uma nova tecnologia de armazenamento em disco, o DVD, a Netflix (outros nomes cogitados foram E-Flix.com, CinemaCenter e NowShowing) foi estabelecida no dia 29 de agosto de 1997, em Scotty Valley, Califórnia, como um serviço de venda e aluguel de filmes por correspondência.

Além da maneira radical de como o consumidor teria acesso aos filmes, a Netflix também colocara por terra o que era uma regra com as locadoras. Regra que o cofundador da Netfix, Reed Hastings, diz ter sentido na pele.

Multa de US$ 40

Nos anos 90, Hastings esquecera de devolver a fita do filme Apollo 13 na Blockbuster de sua rua. Seis semanas de atraso. Resultado? US$ 40 dólares de multa.

Se você era um frequentador de locadora sabe muito bem que uma das bases deste modelo de negócio era justamente o lucro obtido com multas pagas pelos esquecidos de plantão.

Falando especificamente da Blockbuster, a companhia arrecadara uma quantia enorme de receita através das multas cobradas por atraso. Essa regra acabou minando ao longo dos anos a relação do consumidor com a Blockbuster.

Mesmo após implantar a possibilidade do aluguel de filmes mediante a uma taxa mensal, a Blockbuster seguiu cobrando a sua taxa por atraso.

“Grande parte dos lucros da Blockbuster vinha de multas por atraso. Se o meu modelo de negócios depende de induzir sua base de clientes e se sentir idiota, dificilmente você obterá muita lealdade por parte deles” – Reed Hastings

Lealdade era um elemento que a jovem Netflix não poderia abrir mão de maneira nenhuma. Portanto, nada de taxas!

A Netflix começou com um catálogo de 925 filmes e 30 funcionários. Em 1998, um tal Jeff Bezo se ofereceu pra comprar a empresa por US$ 16 milhões. Era a tentativa da Amazon de crescer no negócio de vídeo. A negociação não foi pra frente.

As cartas na mesa

Em 2000, conforme é relatado no livro “A Regra é Não Ter Regras: A Netflix e a Cultura da Reinvenção” (Intrínseca, 2020), Reed Hastings e seu sócio, Marc Randolph, entraram na sala de reuniões do 27º andar da Renaissance Tower em Dallas, Texas. Era um encontro com os figurões da Blockbuster.

Só a ideia de tentar apresentar uma proposta de venda deixara Hastings e Randolph de cabelos em pé. Estavam eles diante da empresa que, em certa medida, contribuiu para a criação da Netflix. Foram cerca de 6 meses de trabalho apenas para que o CEO da Blockbuster na época, John Antioco, se importasse com as ligações da Netflix.

Não havia tempo a perder. As cartas foram colocadas rapidamente sobre a enorme mesa de vidro da sala de reuniões. Era a Netflix se oferecendo para a Blockbuster. Com a aquisição, a Blockbuster poderia pôr em prática seu negócio de aluguel de vídeos online. O valor da aquisição era US$ 50 milhões!

O pessoal da Blockbuster literalmente riu da proposta que foi recusada categoricamente.

A frustração com a negociação deu origem a um sentimento de vergonha que ecoava na cabeça de Hastings. “Quando me deitei naquela noite e fechei os olhos, visualizei todos os 60 mil funcionários da Blockbuster explodindo em gargalhadas com nossa proposta ridícula”, lembra o executivo.

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O cofundador e CEO da Netflix compreende claramente que a ideia da proposta na época era nitidamente descabida. A Blockbuster tinha muito mais cacique que a Netflix para tentar implantar uma nova rota para o seu negócio. Era uma aquisição que não fazia sentido.

Contudo, uma coisa é certa: a aquisição ou não era até questionável, mas a forma imatura e lenta como a Blockbuster viu as coisas se transformarem diante de seus olhos contribuiu diretamente para o seu desfecho.

A tradição se esfarela

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A Blockbuster, num erro de timing que já foi observado em outros casos, como com a Kodac, até tentou girar a toda velocidade a estibordo no timão. Tentou emplacar em 2004 seu serviço de assinatura por correspondência. Porém o choque era iminente. Neste mesmo ano a empresa perdera US$ 984 milhões, apesar da sua receita de US$ 5,9 bilhões. A Viacom decidiu se desfazer do negócio.

Incapaz de pagar sua dívida, a Blockbuster entrou com um pedido de recuperação judicial em setembro de 2010. Em 2011, chegou a ser adquirida pela Dish Network – cerca de 600 Blockbusters ainda estavam em funcionamento na época.

Em 2014, as atividades da Blockbuster foram encerradas oficialmente. Uma filial da Blockbuster segue em funcionamento. Localizada em Blend, no Oregon. A loja pertence a um apaixonado pela Blockbuster, Sandi Harding. O elemento da nostalgia aliado ao apoio de pessoas da região mantém a loja viva, que, inclusive, serve atualmente como um lugar para maratonas de filmes.

Inovar ou morrer

A inabilidade de se adaptar a mudanças esteve entre as reflexões de Reed Hastings sobre a Blockbuster.

O executivo diz que a Blockbuster não tinha uma cultura que colocava as pessoas acima dos processos, que enfatizava mais a inovação do que a eficiência e que mantinha pouquíssimos controles

A cultura da Netflix, nas palavras de Hastings, “é focada em alcançar o melhor desempenho com a densidade de talento e em liderar as nossas equipes com contexto em vez de com controle. Isso nos permitiu crescer e mudar continuamente à medida que o mundo e as necessidades de nossos assinantes se transformavam à nossa volta. A Netflix é diferente. Temos uma cultura em que a regra é não ter regras”.

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Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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