Console de meia geração: upgrade realmente necessário ou artifício de marketing?

Console de meia geração: upgrade realmente necessário ou artifício de marketing?

Caso você acompanhe há muito tempo o mercado de games, sabe perfeitamente que o conceito por trás de geração de console mudou radicalmente.

A partir daquela que é chamada de oitava geração, que começou em 2012, com o Nintendo Wii U, nos deparamos com um jargão que pegou. Os consoles de meia geração. PS4 Pro e Xbox One X assumiram esse papel. Atualizações de hardware em relação aos modelos chamados de base.

Como não se trata de uma virada completa geracional, esses lançamentos entre 3 a 4 anos após o primeiro console, ficaram rotulados de meia geração. Uma renovação técnica para um produto.

Phil Spencer, o chefão da divisão Xbox, já chegou a afirmar que ele não enquadra esses lançamentos com o termo “geração”. São mais upgrades. Atualizações.

A fala de Spencer está alinhada com o que ele precisa fazer publicamente: conter qualquer tipo de crise na cabeça do público que compra os produtos lançados pela empresa que representa.

Uma das funções óbvias do marketing é direcionar o discurso para o caminho que o responsável pela venda deseja. A noção de que muitos gamers sentem hoje de serem tratados como trouxa, por verem um novo console com hardware superior coexistir numa mesma geração daquela primeira versão que ele comprou, é uma realidade.

E as empresas, por intermédio de seus representantes, tentam de tudo para dourar a pílula. E mais: fazer com que você aceite o remédio amargo. Deixar bem claro que o mercado mudou, e o conceito de geração mudou juntamente. Isso é um fato!

No ano passado, publiquei aqui no Hardware.com.br um artigo em que eu dizia que jamais irei comprar novamente a versão inicial de um console, e que essa decisão tinha relação com esse conceito de meia geração.

E esse ponto de vista segue cada vez mais forte na minha mente. Em um mercado em que a maioria dos antigos exclusivos pintam no PC, e tendo praticamente a certeza que, em algum momento, a versão definitiva do console daquela geração será lançada, prefiro optar, caso decida comprar, pelo console definitivo daquela geração. 

Obviamente entendo todos os outros tipos de público. Aqueles que não querem esperar, aqueles que colecionam, aqueles que podem e querem sempre comprar os produtos mais recentes, e até mesmo aqueles que são fãs das empresas. Tudo isso é válido. Apenas trouxe a minha decisão pessoal sobre isso.

Nessa geração atual provavelmente veremos mais uma rodada de meia geração, ou upgrades como Spencer diz. É cada vez mais latente os rumores sobre o PS5 Pro. Recentemente vazaram aquelas que seriam as especificações do novo console da Sony. Inclusive, comentei sobre os principais pontos das specs no vídeo abaixo.

Como não comprei o PS5 base, não estou nenhum pouco incomodado com o lançamento de um eventual PS5 Pro. Aliás, pode até ser que eu compre essa versão.

Mas eu conheço muita gente que está revoltada com esse possível lançamento. E pedir para que o consumidor esqueça seu sentimento e analise friamente com uma cabeça voltada para o mercado é demais.

Sony e Microsoft devem estar muito interessadas em colocar um novo produto no mercado, com uma nova proposta em termos de comunicação: ainda mais poderoso. Tendo em vista o lançamento de GTA 6 em 2025, que tem tudo para ser um fenômeno de vendas. Um nível de hype jamais registrado. E claro que vender a ideia de “temos o console perfeito para você curtir esse game numa qualidade acima do que era possível no modelo anterior” é tentadora.

Por outro lado, o consumidor, em sua maioria, não enxerga esse prisma. A tentação de fazer uma nova compra, de uma versão melhorada do console, vem também carregada de um sentimento de frustração perante a realidade de uma geração mais curta.

É interessante também notar como algumas pessoas ligadas à indústria parecem estar incomodadas com esse possível PS5 Pro.

Segundo o jornalista Chris Dring, do GamesIndustry.biz, alguns desenvolvedores, ouvidos por ele durante a Game Developers Conference (GDC 2024), não corroboram com a ideia desse novo console.

Dring diz que os devs sentem que ainda não extraíram sequer o máximo que o PS5 pode oferecer. “Há algumas empresas dizendo que isso (PS5 Pro) não vai expandir o mercado – não vai fazer diferença. Esta geração nem parece ter começado realmente, quanto mais sentir a necessidade de uma atualização no meio da geração. Que tal apenas conseguirmos algum software original e de próxima geração funcionando?”, acrescentou Dring.

Esse ponto também é compartilhado por muitos gamers. Uma certa frustração com parte dos jogos dessas gerações. A noção de que algo mais poderia ter sido entregue. Embora também essa frustração esteja relacionada com o trabalho abaixo da média que muitos desenvolvedores entregam. Sempre contando com a paciência do jogador para “patches milagrosos” que irão consertar os inúmeros problemas.

Em meio aos caos que vivemos durante os momentos de pandemia, um abalo inenarrável para todos, com impacto severo também no desenvolvimento e geração de games, os consoles base deveriam permanecer por ainda mais tempo como o pilar de trabalho para os desenvolvedores.

Mas essa é a visão teórica e de um cenário quase que utópico. A visão de mercado da Sony caminha mais no sentido de aguçar e renovar essa urgência pela compra, lançando um novo console, com a promessa de ser ainda mais poderoso.

Do lado da Microsoft, o panorama parece ser mais caótico. O PlayStation ainda é um hardware sustentável, do ponto de vista das vendas. E tem uma base muito sólida de clientes, que embarca fácil na ideia de um console Pro. Do lado do Xbox o caminho é bem mais díficil. Segundo o próprio Chris Dring, os desenvolvedores já estão questionando a importância na viabilidade de investimento e recursos no desenvolvimento de jogos para a plataforma, levando em conta que o mercado de PC e o PlayStation 5 parecem ser mais promissores.

A ideia de lançar jogos do Xbox no PlayStation não é apenas um discurso empalado e bonito de “queremos levar mais jogos aos gamers de todo o mundo”, é uma urgência estratégica. Uma decisão puramente comercial. Assim como o PS5 Pro também parece ser.

Qual sua opinião sobre essas atualizações em meio a geração? Você está interessado no PS5 Pro, ou quem sabe um Xbox Series X Pro? Conte nos comentários.

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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