Em fevereiro de 2013, numa entrevista ao site Eurogamer, Cevat Yerli, cofundador e antigo CEO da Crytek, comentou sobre as diferenças entre PCs topo de linha e consoles.
Em meio ao lançamento de Crysis 3, que chegaria ao mercado dias depois da entrevista, o executivo pontuava que a nova geração de consoles, que seria o PS4 e o Xbox One, não conseguiria atingir o esplendor gráfico de um computador topo de linha ao lidar com o game.
6 anos antes, nem mesmo os PCs topo de linha deram conta de atingir todo o esplendor gráfico entregue pela Crytek num jogo que virou um marco de uma época, símbolo máximo da corrida incessante por upgrades para tornar o PC apto a lidar com um jogo.
Lançado em 2007, o FPS Crysis foi o responsável por estabelecer um novo nível técnico para a indústria de games e também imortalizou o meme mais memorável do segmento PC Gamer: “Roda Crysis?”
Neste artigo viajaremos no tempo. Vamos retornar para todo aquele fuzuê que foi o ano de 2007 e a batalha cruel que era rodar Crysis, tarefa que seguiu incomodando gerações e gerações de hardware lançados bem depois do jogo.
2007: o ano de Crysis!
2007 foi um ano bem interessante para o mercado de jogos.
Ano de lançamento do primeiro título de franquias que acumularam fãs ao longo dos anos: Bioshock, Assassin’s Creed, Mass Effect e The Witcher.
Chegada de Halo 3, e de um dos CoDs mais aclamados. Call of Duty 4: Modern Warfare.
No entanto, outro jogo criou toda uma mística em relação ao PC como plataforma. O grande personagem nessa discussão sobre a diferença gráfica entre PCs e consoles.
E esse jogo foi produzido por uma empresa fundada 8 anos antes, que fincou seu nome na história com o lançamento de Far Cry, em 2004. Uma tech demo da Crytek chamou muita atenção na época, destacando o potencial do motor Cryengine 1.0.
Mas os limites gráficos iriam ser posicionados num outro patamar – com nanosuit e tudo -, com o lançamento do segundo jogo da Crytek: Crysis, que chegou ao mercado no dia 29 de novembro de 2007.
Esse foi o dia em que pensar em um PC para jogos ganhou outro contexto. Não somente no avanço visual dos games em relação ao que vinha sendo lançado, mas no custo que seria ter uma configuração para lidar com esse titã.
O que tornava Crysis tão pesado?
A Crytek não estava brincando na questão de elevar os limites gráficos com Crysis. O game foi um verdadeiro festival de tecnicidades, avançadíssimas para a época, que posicionaram esse jogo como uma baliza para o mercado.
Dentre os destaques, tinhamos os seguintes:
- Um dos primeiros jogos com suporte a DirectX 10;
- Uso de 85.000 shaders;
- Primeiro jogo a implementar o space ambient occlusion (SSAO), oclusão de ambiente de espaço de tela;
- Parallax Occlusion Mapping – mapeamento de oclusão de paralaxe;
- Soft Shadows;
- Grande evolução em termos de física.
“Crysis vai deixar a Crytek mostrar tudo o que tem trabalhado nos últimos dois anos. O jogo contará não apenas com gráficos de última geração, mas também física avançada, animação, iluminação e muito mais. Grande parte da tecnologia incorporada em Crysis visa aumentar a experiência cinematográfica, bem como criar uma jogabilidade mais realista”, declarou o CEO da Crytek nesta entrevista ao GameSpot em julho de 2006.
Roda Crysis?
Quando Crysis chegou ao mercado, o mundo do hardware ainda estava digerindo a fantástica e lendária série GeForce 8, da NVIDIA. Linha que ficou imortalizada com o modelo 8800 GTX, lançado em 2006.
Nessa linha, o carro-chefe era a GeForce 8800 Ultra, já do lado da ATI/AMD, os destaques ficavam por conta da HD 2900 XT e HD 3870.
Mas até mesmo as placas topo da linha se tremiam de medo diante de Crysis. Este teste de janeiro de 2008, do site Computer Base, mostra a GeForce 8800 Ultra sofrendo para lidar com o game. Até mesmo um SLI com 3x 8800 Ultra entregava uma taxa de frames baixa.
Já neste teste da GeForce 8800 GT, publicado em novembro de 2007, no Hardware.fr, a análise é bem direta ao resumir o que é rodar Crysis na resolução 1280×1024 pixels: “Impossível. Todas as placas estão de joelhos”.
Neste post de 2008, do nosso fórum, a Comunidade Hardware, um usuário com uma GeForce 8600 GT de 512 MB, CPU Athlon 64×2 dual-core e 2 GB de RAM questionava se era possível rodar Crysis.
Dentre as respostas no tópico, uma pessoa relatava que conseguiu, com uma 8600GT, rodar Crysis no médio em 1024×768 pixels.
Crysis garantia um misto de emoções. A sensação única de ver a famosa baía com suas montanhas íngremes, com uma vegetação altamente densa e vistosa. E a frustração que era tentar levar o jogo numa boa a partir disso. Com uma exigência de hardware que irritava até os mais pacifistas.
E para alguns o objetivo não era apenas conseguir rodar o jogo – situação que muitos fizeram com um nível gráfico sofrível – mas sim tentar de alguma maneira encarar Crysis em todo seu esplendor. Ativando tudo que a Crytek tinha pra oferecer, numa resolução alta, e com uma boa taxa de frames.
Esse segundo objetivo foi inalcançável por muito tempo. Após muitos anos de lançamento do jogo, hardwares mais novos ainda não davam conta de lidar com Crysis na mais alta qualidade.
O meme segue vivo
10 anos após o lançamento, apenas placas de vídeo topo de linha naquele momento, como a GTX 1080 TI, conseguiam rodar Crysis em Ultra HD com todos os detalhes no máximo.
Essa característica fez brotar ao longo do anos uma ampla seleção de memes que brincam com esse fato do jogo ser pesado, e levantando sempre o questionamento: “Roda Crysis?”
Até hoje, algumas pessoas ainda usam o “Roda Crysis?” como zoeira em relação aos lançamentos de placas de vídeo.
Além de um avanço gráfico para a época, Crysis também foi um “gargalo em si mesmo”. O motor gráfico foi pensado tendo como expectativa chips single-core de 5 Ghz, mas a tecnologia caminhou para outros horizontes, com processadores dual core, quad-core, six-core. Ocasionando uma limitação até mesmo para configurações que iam bem acima dos requisitos solicitados.
A própria Crytek abraçou o meme lendário. Em 2020, com o anúncio de Crysis Remastered Trilogy, que reúne os três títulos da franquia, a empresa confirmou a presença de um modo gráfico chamado “Can it Run Crysis?
Curiosidade: Crysis é ambientado em 2020, exatamente o ano em que a Crytek anunciou essa versão remasterizada.
Today’s post is dedicated to our PC community!
We want to show you, for the very first time, an in-game screenshot using the new “Can it Run Crysis?” Graphic mode, which is designed to demand every last bit of your hardware with unlimited settings – exclusively on PC! pic.twitter.com/kVHEf63oWe
— Crysis (@Crysis) September 6, 2020
“A postagem de hoje é dedicada à nossa comunidade de PC! Queremos mostrar a você, pela primeira vez, uma captura de tela do jogo usando o novo modo gráfico “Can it Run Crysis?”, projetado para exigir cada bit do seu hardware com configurações ilimitadas – exclusivamente no PC!”
Um legado escrito em pedra!
Crysis foi importante por inúmeras maneiras, posicionando essa franquia no imaginário popular, e imortalizando um meme criado pela própria comunidade de jogadores impactada pelo que a Crytek produziu.
Esse jeito brincalhão de resumir os avanços técnico entregues em Crysis resgata a lembrança de uma corrida marcante por avanços gráficos que deixou babando muitos gamers mundo afora.
Segue agora a expectativa por Crysis 4, confirmado em 2022 pela Crytek. O jogo ainda não tem data de lançamento. Será que ele amendrotará mais uma legião de placas e gamers? Vamos aguardar.
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