So is ChromeOS a desktop winner? I think not.
Autor original: Ryan Cartwright
Publicado originalmente no: freesoftwaremagazine.com
Tradução: Roberto Bechtlufft
Quando o Google anunciou o Chrome OS, muita gente opinou sobre o impacto que ele teria sobre os usuários do GNU/Linux e o futuro do software livre. Na época, nosso estimado editor, Tony Mobily, fez um pronunciamento audacioso (embora o tenha feito na forma de uma pergunta) de que o ChromeOS poderia fazer do GNU/Linux um “vencedor nos desktops”. Não tenho tanta certeza disso.
Aconteça o que acontecer, o fato é que quando alguém com o tamanho e o impacto do Google entra em um mercado, temos vencedores e perdedores, perdas e ganhos. Agora que a poeira baixou, vamos dar uma olhada no impacto em potencial do Chrome OS.
A necessidade de um sistema operacional para desktops
Até os usuários mais focados na web dificilmente afirmam que não vá continuar havendo a necessidade de um sistema operacional “real” para desktops nos próximos anos. Quando foi sugerido por aqui que o GNOME e o KDE haviam atirado um no outro em termos de mercado, houve uma reação contrária considerável. Como já foi apontado por algumas pessoas, há certas aplicações de software das quais as ferramentas via web ainda não dão conta. Por mais que o AJAX tenha trazido feedback em tempo real para a web, por enquanto ele nem se compara a uma API para desktops, e digo isso porque há muito tempo sou um desenvolvedor web que faz uso do AJAX. Enquanto tivermos uma grande população de usuários desconectados, vamos precisar de um sistema operacional para atender às suas necessidades. Não há motivos para que o GNU/Linux (ou qualquer outro sistema operacional livre) não possa preencher um nicho de forma mais adequada do que hoje. Talvez um dos efeitos colaterais inesperados do Chrome OS seja o de forçar outros desenvolvedores de sistemas operacionais a se tornarem mais audaciosos no mercado dos sistemas operacionais baseados na web. Essa transição pode fazer com que os usuários com conexões de rede ocasionais ou não confiáveis procurem por soluções em software livre. Isso faz sentido, já que é tradição o software livre resgatar os clientes abandonados sem cerimônia pelo software proprietário no caminho do “progresso”.
Ainda assim, eu não acho que a chegada do Chrome OS vá fazer com que o nome ou a reputação do GNU ou do Linux se tornem mais conhecidos. Os usuários do Chrome OS vão ser só usuários do Chrome OS. Duvido que eles saibam que estão usando “Linux”, ou que alguma parte do seu sistema operacional é software livre, ou o que quer que seja. Não precisa acreditar em mim: pergunte a um usuário do Android, ou pergunte a si mesmo quantas vezes você ouviu os temos software livre e código aberto durante o lançamento do Nexus One. Isso já deveria ser suficiente para que nós, defensores do software livre, caíssemos na real.
Eu também não acho que o Chrome OS represente maiores oportunidades para o software livre em PCs de OEMs. Os OEMs provavelmente vão oferecer o Chrome OS nos netbooks, mas se hoje eles não oferecem o GNU/Linux ou qualquer outro sistema livre, porque a chegada do Chrome OS mudaria alguma coisa? O mercado de OEMs está cheio de acordos comerciais, de frases como “nós recomendamos…” e margens de lucro apertadas. Esse último detalhe pode levar você a acreditar que mudar para o software livre seria bom para eles, mas na minha opinião, os OEMs são como sapos em uma panela de água aquecida lentamente: no momento, eles não têm lá muita certeza se devem saltar da panela, ou mesmo como fazer isso. Talvez eu esteja sendo cínico demais, mas embora o Chrome OS possa ser uma opção para eles, não posso afirmar de forma realista que acredito que isso abrirá seus olhos para o GNU/Linux de modo geral.
A redefinição do netbook
O que eu realmente espero ver como resultado da chegada do Chrome OS é a redefinição do que constitui um netbook. Quando a Asus pegou o mundo de surpresa com o EeePC, o netbook estava claramente definido. Um computador leve, de baixo desempenho e armazenamento em estado sólido, feito para quem está sempre se deslocando. Ele não era um substituto ao desktop. Acho que foi por isso que o EeePC decolou. Tínhamos notebooks com telas de 17”, HDs de 250 GB e recursos para substituir nossos desktops. Eles eram poderosos, mas também eram pesados e difíceis de carregar. Mesmo a mais leve das telas widescreen de 17” ocupa um bom espaço na sua mochila. O nicho ao qual o EeePC 701 se destinava era o daqueles que queriam algo maior do que um Blackberry, só que sem o incômodo de um sistema operacional para desktops.
Por isso o GNU/Linux foi uma boa escolha: pequeno, compacto, adaptável, e ainda rodava em hardware mais lento e consumia menos recursos. Mas é claro que a Microsoft não tinha como proporcionar tudo isso, e começou a mexer seus pauzinhos. Subitamente, os tais dos netbooks começaram a vir com Windows XP, mas – devido aos requisitos mínimos do Windows XP – esses netbooks incorporaram discos rígidos à moda antiga, passaram a inicializar com mais lentidão, as telas aumentaram e os netbooks ficaram mais pesados. Resumindo, a safra atual de netbooks parece uma nova versão da safra de power-notebooks de uns anos atrás. Mesmo rodando GNU/Linux, para mim isso tudo arruína a ideia de um netbook, e acho que não sou o único a pensar assim. O que eu quero de um netbook é o que o EeePC me proporcionava. Talvez com uma CPU melhor e duas vezes mais RAM, tudo bem, e talvez com uma tela de nove polegadas, mas não façam nada que vá aumentar o tamanho do aparelho ou torná-lo mais lento. Acho que ainda há muito a ser conquistado no nicho descoberto pelo EeePC 701; ele está esperando que esse trabalho continue. Acho que o Google já notou isso.
O Chrome OS seria perfeito para uma máquina sem recursos para rodar aplicativos locais. Ele se integra perfeitamente a um dispositivo que espera que tudo seja feito via web, focado nas pessoas que estão sempre em trânsito. Documentos, comunicação e a simplicidade de uso são as chaves desse ambiente. A safra atual de “netbooks” está errando feio esse alvo. O netbook precisa ser redefinido, e se o Chrome OS nos levar a esse resultado, talvez o GNU/Linux volte a crescer nessa área. Pode parecer que estou caindo em contradição aqui. Se os OEMs não vão confiar no software livre a ponto de colocá-lo em seus desktops, por que o fariam em seus netbooks redefinidos? Eu vejo dois motivos para isso:
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O GNU/Linux já mostrou sua competência nessa arena;
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O software livre é muito mais personalizável, o que permite a eles agregar valor sem os custos inerentes aos netbooks deles. Não acredita? Dê uma espiada no handset HTC Hero. Ele é o primeiro a ser movido pelo Android sem a marca do Google, e oferece o que a HTC chama de Sense UI, o que supostamente agrega valor ao Android. É mais difícil e mais caro fazer isso quando o sistema operacional de base é proprietário.
O Chrome OS vai proporcionar ferramentas e aplicativos baseados na web (provavelmente do próprio Google), mas se um OEM quiser agregar valor com ferramentas de configuração personalizadas ou adicionando alguns aplicativos para desktop (por exemplo, para exibir apresentações), o GNU/Linux pode ser uma opção interessante. Como eu já disse, o GNU/Linux já provou que é um sucesso nesse mercado, e outros fabricantes de hardware já estão anunciando dispositivos parecidos. O Lenovo Skylight, por exemplo, não vai rodar o Chrome OS, mas sim um GNU/Linux personalizado. Portanto, dada a direção do mercado, é possível que o Chrome OS volte a abrir portas para empresas como a Canonical, portas essas que a Microsoft tentou fechar fazendo com que os OEMs alterassem o hardware. Além disso, a chegada de dispositivos como esse era uma das muitas coisas que eu tinha em mente quando fiz algumas previsões no começo de 2009 quanto ao futuro do software livre durante a era de incerteza econômica. É claro que eu não acertei tudo, mas isso é normal, e pretendo revisitar essas previsões com mais atenção no futuro.
Algumas previsões
Aconteça o que acontecer com relação ao GNU/Linux, vai ser interessante ver o Chrome OS em ação. Os detalhes ainda são poucos, apesar de um bom tempo já ter se passado, mas vou fazer algumas previsões que espero que não sejam muito audaciosas:
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Haverá o retorno dos netbooks menores (como descrevi acima, e por algum motivo eles estão sendo chamados de “smartbooks”);
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O Google Apps vai estar fortemente vinculado ao Chrome OS (nada de novo aqui, isso já acontece com o Android);
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Haverá uma preocupação cada vez maior com a influência e o controle que o Google exerce sobre a experiência na web, mas talvez seja tarde demais; acho que essa até já está acontecendo, não está?
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Surgirá um “marketplace” do Chrome OS, semelhante ao do Android, mas não igual;
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O software livre não vai morrer e nem vai ser a nova moda por causa do Chrome OS;
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Uma versão melhorada do Chrome OS vai sair quatro meses após o lançamento do primeiro dispositivo (Google, por favor, vê se acerta nos upgrades dessa vez);
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Crescerão os aplicativos pagos com base na utilização, e também crescerá a filosofia do software como serviço;
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Cada vez mais cadeiras vão voar na região de Redmond.
Ou seja, o Google Chrome OS vai mudar partes do mundo. Não sei se ele em si vai mudar muita coisa, mas é outro passo na estrada que leva a um mercado mais aberto (em termos de concorrência). Não estou muito certo de que a inclusão de outra empresa enorme que controla tudo no mercado seja uma boa ideia, mas acho que a situação vai melhorar um pouco. A abordagem do Google certamente está mais próxima da abordagem que precisamos em relação ao software livre do que a da Microsoft ou a da Apple.
Créditos a Ryan Cartwright – freesoftwaremagazine.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>
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