Bolha da internet: o que foi o boom das pontocom?

Bolha da internet: o que foi o boom das pontocom?

Em seu lamento, publicado num post publicado dia 9 de novembro, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciara a demissão de 11 mil funcionários, o maior corte de postos de trabalho história da companhia. Num ato de mea-culpa, reconheceu seu erro na avaliação que os efeitos positivos, em termos de mercado, para as empresas de tecnologia durante a pandemia de COVID-19 continuariam após o fim dela.

Bom, Zuckerberg errou, muitos outros também erraram em relação a esse prognóstico, e o saldo é que o mercado de tecnologia, principalmente quando olhamos para as Big Techs, enfrentam hoje um momento nada animador. Muitos falam até mesmo numa espécie de Déjà vu, associando com outro momento definidor nos rumos deste segmento, o famoso boom das pontocom.

O fundador da Glean, e ex-funcionário do Google, Debarghya Das, em um post no Twitter fez um levantamento interessante e, ao mesmo tempo, chocante. Ele listou o número de demissões que grandes empresas de tecnologia fizeram em 2022.  Somam mais de 120.000 cortes de postos de trabalho. Os dados Layoffs.fyi são ainda piores, mais de 144,5 mil funcionários de empresas de tecnologia demitidos este ano em ao menos 917 empresas. Durante o boom das pontocom foram ceifados 107 mil empregos. 

 

Os números chamam a atenção e deixam a espreita a lembrança de um período nefasto no mercado tech. Mas o que foi o boom das pontocom e o que levou a isso? Discutiremos isso neste artigo!

O que foi o boom das pontocom?

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A famosa primeira bolha da internet, ou boom das pontocom, como ficou mais popularmente conhecida, foi uma bolha de investimento especulativo que estourou e varreu do mapa muitas empresas ligadas ao mundo da tecnologia e internet. Lembrando que, no mundo financeiro, uma bolha representa a valorização excessiva dos preços de ativos sem base em fundamentos sólidos.

Formada entre idos de 90, este desastre do mercado começou com ventos favoráveis a muitos que se aventuraram no mercado de internet. Criar um site hoje em dia pode ser banal, no fim dos anos 90 e inícios dos 2000 parecia uma espécie de aposta na certeza de encontrar um pote de ouro no fim do arco-íris.

E realmente muitos colocaram as mãos nesse pote. Um caso que marcou esse período foi o da Geocities, uma espécie de precursor dos blogs, uma forma para que a criação de sites fosse democratizada. As pessoas criavam páginas que ficavam hospedadas nos servidores da empresa. Similar ao que acontece hoje com as diversas opções de criadores de site automatizados.

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A empresa foi constituída em 1994, e, em apenas cinco anos, foi comprada pelo Yahoo por impressionantes US$ 3,5 bilhões.

O jogo era o seguinte: diversas empresas sem um modelo de negócios sólido tentavam levantar centenas de milhões de dólares, através da abertura de capital. E dava certo. As ações dessas empresas alcançavam valores estratosféricos, mesmo que muitas delas não tivessem uma base financeira consistente. Era uma aposta no efeito internet.

Nesse período havia até uma máxima que era frequentemente citada. Qualquer empresa que acrescentasse .com ao final do seu nome veria o preço de suas ações dispararem. A bolha inchou não apenas aspirantes, como a Geocities, mas também impactou quem já era um titã, como a Microsoft, que chegou a ter um valor de mercado de US$ 600 bilhões em 2000.

Parecia tudo perfeito. Fim dos anos 90, início dos 2000, a consolidação da internet como uma espécie de segundo mundo, o ávido interesse das pessoas em “surfar na web” e usufruir de um campo vasto de novas possibilidades. O que poderia dar errado?

O estouro histriônico da bolha

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O episódio central que pode ser entendido como um dardo agindo sobre a bolha aconteceu em janeiro de 2000. O provedor de internet American Online (AOL) adquiriu o grupo de telecomunicações Time Warner, dona, entre outras propriedades, da HBO, por US$ 166 bilhões.

Na época, mesmo com as dívidas e crises internas, a Time Warner tinha um faturamento anual superior ao da AOL, mas, em virtude daquele recorte do mercado, com o favorecimento ao que estava ligado à internet, o valor de mercado da AOL era superior ao da Warner. US$ 169 bilhões contra US$ 121 bilhões.

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A AOL conseguiu, o acordo foi visto como histórico para alguns, mas com ceticismo por outros. O Financial Times chegou a questionar: isso levanta uma das maiores questões dos últimos tempos. O dinheiro da internet é o mesmo dinheiro da vida real?

2 meses após o anúncio da fusão, as empresas de tecnologia chegaram a uma cifra histórica. Juntas representavam US$ 5 trilhões na bolsa Nasdaq.

Como alertara Chuck Hill, que era diretor-chefe de pesquisas da First Call, em entrevista a Folha de S.Paulo em 12 de março de 2000, a valorização da bolsa da Nasdaq fugia completamente da realidade.É só ver a relação entre o preço e o rendimento das ações nesse setor. Ela passa de cem na maioria dos casos. É um exagero, é um fenômeno descolado da vida real. Já vi esse filme antes”.

Hill também traçou um paralelo com a década de 60. “Quando o aparecimento dos grandes computadores fez surgir também milhares de empresas de leasing e de periféricos. Foi uma febre, parecia que nenhuma outra indústria tinha valor. Mais tarde, a bolha estourou. A sociedade entendeu os limites da nova tecnologia. A “nova economia” daquela década foi vendida para outras empresas ou simplesmente deixou de existir. Algumas delas eram pura fraude. Hoje não é diferente”.

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Podiam tentar retardar ou atribuir outro nome, mas o mercado estava diante de mais uma bolha, que estourou e foi uma hecatombe nuclear no mundo da tecnologia.

O economista Hyman Minsky dizia que as bolhas surgem de maneira natural. Durante o período de estabilidade e preços ascendentes, os investidores extrapolam essa estabilidade para o futuro e ficam mais dispostos a assumir riscos. A bonificação por esses riscos diminui, aumentando os preços dos ativos, e as expectativas tornam-se bem mais otimistas, em um ciclo que passa ser insustentável. O momento final é o reconhecimento que os preços e os riscos assumidos tornaram-se exagerados e então a bolha explode!

Com o estouro da bolha pontocom, o apego às empresas ligadas a tecnologia e internet se transformou numa repulsa absoluta. Em 2002 o valor das empresas listadas na bolsa Nasdaq retornou ao índice de 1996, um encolhimento de US$ 4 trilhões, mais de 500 empresas que prestavam serviços pela internet desapareceram quase que do dia pra noite, e até mesmo empresas que já eram estáveis na época, como a Amazon, passaram por turbulências em meio ao caos que o mundo enfrentava naquele período, agravado também pelo aterrorizante atentado de 11 de setembro de 2001. 

Desde então, o mercado de tecnologia nunca se viu completamente imune à sombra de uma nova bolha. Falou-se sobre isso em 2003, em 2011 e agora estamos vendo novamente esse mau presságio, potencializado pela inflação global pós pandemia.

O que vai acontecer? Só nos resta aguardar.

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Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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