Ao se debruçar sobre os números de vendas dessa atual geração de console é possível chegar a conclusão que o Xbox Series S e X enfrentam um momento caótico. Não estenda esse caos a divisão gaming da Microsoft, que, como publisher, vem alcançando feitos interessantíssimos, como ser altamente representativa nas vendas de jogos para o PlayStation. Mas, num recorte do hardware, “a caixa com chips” da gigante de Redmond não anda nada bem, e alguns posicionamentos de pessoas que tocam diretamente este segmento da empresa apenas reforçam o panorama nada animador.
A declaração mais recente nesse sentido veio do Michael Flatt, chefe de marketing do Xbox na região EMEA, que cobre países da Europa, Oriente Médio e África. Como informou nosso coirmão, a GameVicio, em entrevista ao MarketingWeek, o diretor expôs uma situação interna que dificilmente chegaria ao público. A carência de recursos financeiros para rivalizar com o PlayStation 5 em termos de divulgação. Em resumo, Flatt tem pouca grana para alocar em ações importantes para propagar o console.
Flatt chegou a afirmar que “eles (PlayStation) são abençoados com fundos de marketing que não somos capazes de aproveitar. Mas isso está totalmente ok. Adotamos o que eu chamaria de uma abordagem fiscalmente mais responsável para os investimentos em mídia”, declarou Flatt.
Num primeiro olhar, alguns podem pensar: como uma empresa avaliada em mais de US$ 3 trilhões está destinando pouca grana, comparado ao seu principal rival, na divulgação de um produto?. Mas a verdade é que a pergunta correta não é essa. O questionamento chave é o seguinte: a Microsoft ainda quer investir muito dinheiro no Xbox como console?
Steve Jobs e sua lição sobre renúncia
Numa de suas frases compartilhadas à exaustão, Steve Jobs aborda sobre a questão do foco. Ele afirmava que, como um gestor numa busca por inovação, em relação ao seu trabalho na Apple, ele tinha tanto orgulho das coisas que não foram feitas quanto daquelas realizadas. “Inovação é dizer não a 1.000 coisas”, dizia Jobs.
A frase claramente toca no ponto da renúncia. Situação completamente comum, não apenas na vida pessoal, como também no mundo corporativo. Empresas que investem em diversas frentes costumam ter um olhar bem pragmático em relação à alocação de recursos. A retirada de cifras financeiras de um projeto é tão comum quanto a própria busca por incentivar com que outros aconteçam.
Ao olharmos o panorama do que representa o Xbox como console em termos de vendas, em determinadas regiões, somado ao fato de executivos importantes no dia a dia do que acontece com essa divisão abraçarem cada vez mais uma linha narrativa em prol de aspectos ligados a multiplataforma, e “encontrar o game onde ele esteja”, não seria nada surpreendente que a Microsoft já iniciasse um processo de retirada de cena do Series X e S em alguns mercados, como a Europa.
Segundo estimativas da empresa de consultoria Niko Partners, o Xbox Series S e X venderam até o momento cerca de 29 milhões de unidades, enquanto o PS5 já acumula algo em torno de 58,3, milhões de unidades. Se a comparação não levasse em conta dois consoles distintos somados contra um do outro lado, o resultado seria ainda mais catastrófico. Assim como a NVIDIA está numa espécie de inconsciente coletivo quando muitas pessoas pensam em placa de vídeo, a marca PlayStation tem esse mesmo apelo com gamers. E isso tem total relação com a capacidade ofensiva de trabalhar o branding, de seguir posicionando esse nome em novos locais, com novas ações de marketing custosas, mas que surtem efeito.
Enquanto o console perde espaço, o império de IPs se solidifica
Como ficou claro pela posição de Flatt, a Microsoft não parece querer fazer o mesmo com o Xbox, considerando principalmente os números de vendas cada vez mais baixos. Um contraste total aos inúmeros louros que a Microsoft vem colhendo em ser uma distribuidora de jogos, investindo muita grana na compra de estúdios renomados que reforçam sua posição de ser um titã de IPs. Só para citar algumas: Doom, Fallout, Call of Duty, Diablo e Age of Empires.
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Rumor: Próxima geração do Xbox pode ser feita por outras fabricantes
Enquanto alguns seguem brigando pela internet a favor do Xbox como plataforma, a Microsoft parece seguir empurrando o console para “debaixo do tapete”. Segundo o analista Christopher Dring, as vendas de consoles na Europa apresentaram queda de 24% nos primeiros seis meses do ano. O PS5 apresentou uma retração de 16% , o Switch, quase em seu fim de ciclo, caiu 32%. Xbox Series S e X caíram 37%. Corroborando essa dura realidade do Xbox no mercado europeu, fontes consultadas pelo jornalista Tom Warren, do The Verge, afirmaram que a Microsoft irá parar de vender o Xbox em alguns mercados dessa faixa conhecida como EMEA (Europa, Oriente Médio e África).
No ano passado, num evento no Brasil, a Microsoft divulgou números que mostravam que, de maneira combinada, o Xbox Series S/X e Xbox One tinham acumulado algo na casa dos 79 milhões de unidades vendidas.
Desse montante, o Xbox Series S/X seriam responsáveis por 21 milhões de unidades. Portanto, na divisão, seriam cerca de 58 milhões de unidades vendidas para o Xbox One. Pare e pense: o Xbox Series S/X conseguirá chegar ao que o Xbox One vendeu? E também reflita sobre a seguinte questão: num cenário hipotético, caso a Sony e Microsoft concordassem em levar o Game Pass para o PlayStation, alguma futura geração do Xbox seria lançada? Ou a Microsoft esqueceria de vez o console e focaria somente nas suas assinaturas? Vale recordar que em 2023, Tim Stuart, CFO da Microsoft afirmou o seguinte:
“É um pouco uma mudança de estratégia. Não estou anunciando nada amplamente aqui, mas nossa missão é trazer nossas experiências first-party e nossos serviços de assinatura para todas as telas que podem rodar games”.
Com essa perspectiva, não faz muito sentido mesmo, nessa altura do campeonato, alocar um caminhão de dinheiro para tentar recuperar um produto que parece fadado a um único desfecho.
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