No mundo do entretenimento nada é como parece. Essa máxima pode ser facilmente aplicada aos bastidores de uma apresentação de produto, que além de enfatizar o que um novo gadget tem a oferecer, é preciso entregar uma certa dose de teatralidade, frases de efeito e momentos inesperados. Sem dúvidas o maior executivo da área de tecnologia que manobrava bem todas essas habilidades em suas apresentações é Steve Jobs.
Sua apresentação mais icônica, por todos os elementos que estavam envolvidos, aconteceu no dia 9 de janeiro de 2007, na feira anual MacWorld, que aconteceu no Moscone Center, em São Francisco. Foi nesse fatídico dia que Jobs apresentou ao mundo o primeiro iPhone, que embora reunisse muitos atributos já encontrados em outros aparelhos, foi aquele que conseguiu cativar o público, em grande parte pela forma como Steve conduziu o show de lançamento.
Recentemente revi essa apresentação e é impressionante como a imagem passada foi a do “produto perfeito”, do gadget revolucionário, e que o modelo demonstrado no palco estava pronto e tinindo. Porém a realidade é completamente diferente, a história por trás desse dia importante para a Apple e para a indústria de telefones com uma pegada mais inteligente é bem mais aterrorizante e menos charmosa.
Mas antes de chegarmos até o tal 9 de janeiro de 2007 vamos voltar alguns anos no tempo, mais precisamente para 2004, quando a Apple resolveu se aventurar em uma parceria com a Motorola, que resultou no telefone ROKR, que podemos pontuar como a primeira grande investida de Jobs para conhecer o mercado de telefone móvel. Esse telefone da Motorola oferecia a integração com a plataforma de compra de músicas da Apple, o iTunes. A apresentação aconteceu em 2005, juntamente com o iPod Nano.
A recepção acabou não sendo nada positiva, o telefone tinha alguns pontos bizarros, como, por exemplo, a capacidade de armazenar apenas 100 músicas, mesmo se a capacidade interna suportasse mais. Outro ponto negativo e que adicionava etapas na forma de interação, era que o usuário precisava utilizar o computador para comprar as músicas via iTunes, e então transferir para o celular.
Essa abordagem estava totalmente em desacordo com a visão futurista que Jobs tentava imprimir. Na época o próximo passo que a Apple queria adotar, em termos de lançamento de produto, era um tablet, que anos mas tarde acabou virando o que conhecemos como iPad, porém Jobs optou por deixar o projeto de um tablet em stand-by, já que de acordo com Jonh Ive, designer e braço-direito de Jobs no desenvolvimento de diversos produtos Apple, relata no livro “Como Steve Jobs virou Steve Jobs” (2015, Intrinseca), que Steve declarou o seguinte:
“Não sei se consigo convencer as pessoas de que precisam de um tablet um produto de valor genuíno. Mas sei que consigo convencer as pessoas de que precisam de um telefone melhor”.
O iPhone foi concebido pegando alguns dos elementos que estariam primeiramente no tablet, como o multitouch, que embora tenha encarado com certa reticência no inicio se deu conta que era realmente interessante de interação, que fugia do tradicional adotado nos computadores.
Para lançar este projeto de telefone com music player a Apple ainda precisava do apoio de alguma operadora, mas é evidente que nos planos de Jobs não constava que ela ditaria o ritmo ou as rédeas do projeto – principalmente no que girasse em torno da experiência do usuário. Assegurar iro era de suma importância, já que as operadoras atuavam da seguinte maneira: vocês irão jogar de acordo com as nossas regras!
Porém essa aliança com a operadora seria imprescindível, a primeira tentativa foi com a Verizon, mas o acordo acabou sendo firmado como a AT&T, que oferecia mais liberdade, a liberdade que Jobs e sua equipe precisavam para tocar o projeto. Para convencer os executivos da operadora americana Jobs usou o argumento de que com o iPhone o consumo de dados seria ampliado, já que o telefone iria oferecer diversas formas de uso encontradas em seus computadores, mas com a diferença que agora estaria na palma da mão, ao alcance de um clique.
O acordo garantia a liberdade para que a Apple produzisse o telefone que eles quisessem e que o preço também seria definido por eles. Nunca antes um acordo tão especial como esse tinha sido aceito por uma operadora.
Ao mesmo tempo que especial o acordo colocou uma certa pressão sob a Apple, que explica o porque a apresentação do iPhone poderia ter sido um grande desastre, já que estamos falando de um produto que não estava nem próximo de finalizado quando foi apresentado. Existia uma cláusula no acordo que permitia a AT&T deixar a Apple a ver navios se avanços no projeto não fossem demonstrados, uma forma de deixar claro que a Apple estava sim projetando um aparelho, e que as coisas estavam andando.
o resultado que hoje conhecemos como a apresentação do primeiro iPhone é uma mistura de boa vontade, uma demo com tarefas específicas a serem realizadas, e muito ensaio. A chance de dar errado era gigantesca!
Andy Grignon, um dos engenheiros envolvidos no desenvolvimento do iPhone, contou em 2013 que pequenas seções do software funcionavam. Muitas delas acabavam fazendo o aparelho simplesmente desligar. A questão do gerenciamento de memória também era outro problema, caso várias aplicações estivem em execução ao mesmo tempo acabaria esbarrando na limitação da memória
Durante a apresentação a solução foi utilizar vários iPhones, que iam sendo trocados e que permitiam que Jobs seguisse uma rotina milimetricamente calculada do que fazer com o aparelho, cada função demonstrada foi pensada, levando em conta as limitações.
“É como ter a internet no seu bolso. É o aparelho digital mais moderno. É como ter sua vida inteira no seu bolso” – uma das frases de efeito de Steve Jobs durante a apresentação
A questão da conectividade também foi outro ponto que recebeu um “truque”. Para a conexão do iPhone não falhar na apresentação, fugindo de ser mais uma vítima do congestionamento que centenas de aparelhos conectados ao mesmo tempo em grandes eventos enfrentam, uma antena portátil da AT&T foi instalada especialmente para o iPhone que seria utilizado no palco.
11 anos se passaram e o primeiro iPhone, juntamente com a forma como foi apresentado, será sempre lembrado como um do grandes momentos da história!
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