A saga dos netbooks, parte 5: os smartbooks

A saga dos netbooks, parte 5: os smartbooks

Um dos objetivos da Intel ao lançar o Atom foi o de lançar um plano de longo prazo para concorrer com os chips ARM, visando entrar também no ramo dos smartphones.

Diferente do que temos no ramo dos PCs, onde a Intel, a AMD e a VIA projetam e produzem seus próprios processadores, os chips ARM são desenvolvidos pela ARM Ltd. e produzidos por diversos fabricantes, incluindo a Texas Instruments (que fabrica a linha TI OMAP) e a Qualcomm.

Se considerarmos o número de unidades produzidas, os chips ARM são esmagadoramente mais populares que os processadores x86, já que são usados em todo o tipo de aparelhos, de celulares a robôs industriais.

O principal motivo do sucesso é uma combinação de simplicidade, baixo custo e baixíssimo consumo elétrico. Enquanto um Atom N270 mais o chipset 945GSM tem um TDP de 11.8 watts, a maioria dos SOCs ARM consomem menos de 2 watts em full load, com o consumo caindo para poucos miliwatts quando ociosos. É graças a isso que um celular (que utiliza uma bateria muito menor que um netbook) pode funcionar por vários dias com uma única recarga, diferente de um netbook que tem uma autonomia de poucas horas.

Em vez de ficarem esperando pelo novo concorrente, os fabricantes de chips ARM resolveram partir para o ataque, tentando conquistar uma fatia do ramo de netbooks. A idéia é simples: criar modelos de netbooks baseados em chips ARM, que sejam mais baratos, mais leves e ofereçam uma autonomia maior.

Muitos relacionam os chips ARM com baixo desempenho, mas atualmente já existem chips bastante poderosos, que são competitivos em relação ao Atom e outros processadores x86 de baixo consumo. Um bom exemplo é o ARM Cortex A9 MPCore, que é composto por 4 núcleos, cada um com um coprocessador aritmético independente e uma pequena quantidade de memória cache:

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O maior problema é que eles não oferecem suporte às instruções x86, o que faz com que não sejam compatíveis com o Windows e com as distribuições Linux para micros PC. A solução encontrada pelos fabricantes foi utilizar o Google Android, que apesar de ser originalmente destinado a smartphones, oferece suporte a telas maiores e pode ser perfeitamente utilizado em dispositivos maiores. Existe também muito movimento em torno de uma versão do Ubuntu capaz de rodar em chips ARM, juntamente com outros projetos menores de distribuições compiladas para a plataforma. Uma terceira possibilidade é o Windows Mobile, que também pode ser adaptado para trabalhar em telas maiores.

Um bom exemplo é este protótipo demonstrado pela QualComm na última Computex:

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À primeira vista ele parece um Eee 1008HA rodando alguma distribuição Linux, mas na verdade ele é um protótipo modificado, que utiliza um chip Qualcomm Snapdragon QSD8250.

Diferente do Atom, que é apenas o processador, o QSD8250 é um SOC (system on a chip), que inclui um processador ARM de 1.0 GHz, um chip DSP auxiliar de 600 MHz (que executa funções diversas, incluindo a decodificação de diversos formatos de audio), modem 3G, GPS, controlador de memória e um chipset de vídeo, capaz de decodificar vídeos 720p, com suporte a Wi-Fi e Bluetooth através de chips adicionais. Em resumo, ele faz o papel de processador e chipset simultaneamente, oferecendo um consumo elétrico bastante baixo. A Qualcomm oferece também uma versão high-end, o QSD8672, que é um chip dual-core, que opera a 1.5 GHz e oferece suporte à decodificação de vídeos 1080p, rivalizando com o nVidia Ion.

A proposta é bem similar à dos netbooks, ou seja, oferecer um dispositivo leve e relativamente barato para acesso à web, mas ele leva o conceito a um novo extremo, rompendo a compatibilidade com o Windows e outros softwares para micros PC. Devido a isso, foi criado o termo “smartbook”, que denota justamente a combinação do formato de netbook com um chip ARM e softwares para smartphones.

Já existe uma grande movimentação por parte dos fabricantes para o lançamento de diversos modelos, baseados no Snapdragon e outros chips. Ainda é cedo para tentar prever a aceitação para eles, já que embora o formato seja parecido, os softwares incluídos e a experiência de uso são muito diferentes. Entretanto, smartbooks tendem a ser mais leves e mais baratos (sem falar na maior autonomia), o que pode fazer com que eles se tornem populares, concorrendo simultaneamente com os netbooks e com os smartphones.

Uma outra frente de batalha foi aberta pela nVidia, com o Tegra, um SOC baseado em um chip ARM (similar ao Snapdragon em certos aspectos) que combina um processador ARM com um chip 3D da nVidia e aceleradores para diversos formatos de mídia, incluindo vídeos 1080p e Flash.

O modelo destinado ao uso em netbooks (que a nVidia prefere chamar de MIDs, ou “handheld devices for consumers”) é o Tegra 650, que utiliza um chip ARM 11 de 750 MHz. O desempenho bruto do processador não é nada espetacular (é pouco mais de duas vezes mais rápido que os chips usados na maioria dos smartphones), por isso o desempenho ao navegar e executar tarefas gerais será no máximo aceitável.

O principal trunfo do Tegra são os aceleradores, que permitem que ele exiba vídeos 1080p (com suporte a HDMI, para conexão com uma HDTV) e vídeos em flash com aceleração via hardware. O consumo máximo do Tegra 650 é de 4 watts (ao decodificar vídeos 1080p), mas em tarefas leves ele cai para menos de 1 watt.

Como outros chips ARM, ele possui também um sistema bastante elaborado de gerenciamento de energia, que permite que o processador fique virtualmente desligado quando ocioso, praticamente sem gastar energia. Graças a isso, é possível manter o netbook ligado continuamente (assim como um smartphone), pronto para ser usado.

Assim como a Qualcomm, a nVidia exibiu protótipos de netbooks com o Tegra na última Computex, prometendo 10 horas de autonomia ao assistir vídeos 1080p e mais de 20 horas de uso geral, usando uma bateria de 6 células:

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A grande observação é que por ser baseado em um chip ARM, o Tegra está no mesmo barco do Snapdragon, sem suporte x86. Por enquanto, a nVidia está baseando os protótipos em uma versão do Windows CE (que continua sendo desenvolvido pela Microsoft, como uma versão pelada do Windows Mobile), utilizando uma interface 3D desenvolvida pela nVidia.

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