OPINIÃO: Preço do iPhone X no Brasil é um ultimato para que a idolatria por uma marca seja sepultada

OPINIÃO: Preço do iPhone X no Brasil é um ultimato para que a idolatria por uma marca seja sepultada

No início do ano enumerei alguns fatores que deixam bem claro porque ser fanboy é uma das coisas mais sem noção que existem. Entre esses fatores, considero que o amor cego às marcas ou produtos seja um dos mais graves. Esse amor cego, traz consequências bem claras – como aceitar tudo que é imposto por aquelas “entidades” corporativas que alguns tanto idolatram.

Do lado da corporação é magnifico criar fanboys, ou melhor, criar evangelistas – embutir em seus consumidores um espiriito de combate a todos que falem mal dos seus produtos, e melhor do que isso: encarar tudo que é lançado como uma maravilha irretocável e que deve ser adquirida.

Porém do outro lado desse muro, em que se encontra o usuário, essa “hipnose” é uma droga. Me arrisco em dizer que não existe nenhuma empresa do mundo tech que conseguiu criar um exército de evangelistas tão grande como a Apple fez e faz. A ideia de que você não compra um iPhone ou um iMac, que não é só o dispositivo, há todo um entourage. A “ostentação social” que esses produtos trazem, a invejinha das “inimigas e inimigos”, a necessidade constante de se por num pedestal imaginário acima dos outros. Tudo isso faz parte do marketing existencial, abordado brilhantemente pelo filósofo e professor Luís Felipe Póndé, em seu livro “marketing existencial: a produção de bens de significado no mundo contemporâneo” (Três letras, 2017).

Com todo esse grande poder evangelizador e hipnótico a Apple volta e meia toma algumas medidas nos países em que oferece seus produtos que beira ao inacreditável, mas que não adianta esfregar os olhos e tentar acordar, porque é a realidade nua e crua.

Dentre os lugares que acontecem essas bizarrices o Brasil é uma das nações que mais abraça esse tipo de atitude. A mais recente, comentada a rodo por muita gente, com manifestações em polvorosas nas redes sociais, é o preço do iPhone X, o melhor iPhone do momento, que comemora aos 10 anos de lançamento do primeiro modelo, anunciado de forma épica por Steve Jobs, em 2007.

Steve Jobs, com o primeiro iPhone, lançado em 2007

O principal atrativo do aparelho é o sistema de reconhecimento facial, o Face ID, e correndo por fora a tela, de 5,8 polegadas OLED, que ocupa praticamente toda a parte frontal do aparelho.

Até no mercado internacional, em que foi lançado por US$ 999, na versão de 64 GB e US$ 1.149, na de 256 GB, o público chiou, obrigando que Tim Cook, CEO da Apple, fosse a público explicar que o iPhone X “vale quanto pesa”, que as tecnologias presentes no aparelho justificam o preço.

Se lá fora justificar os tais US$ 999 ou US$ 1.149 já é complicado, no Brasil, nem o meste da oratória, Steve Jobs, conseguiria. É simplesmente bizarro! Lançado ontem, os preços são os seguintes:

R$ 7 mil para o modelo com 64 GB e R$ 7.800 para o modelo com 256 GB.

Em dólares, de acordo com um levantamento feito pela Quartz, como já era de se esperar, o iPhone X no Brasil é o mais caro do mundo, custando o equivalente a US$ 1.925,71, superando os US$ 1.455,23, da Hungria, que aparece em segundo lugar.

Muitos que defendem pagar tal valor em um smartphone, justificam das formas mais esdruxulas possíveis, como o banal “o dinheiro é meu, e eu compro o que quiser”. Realmente, cada um aplica seu dinheiro da forma que achar mais necessária. O ponto negativo desse pensamento é que isso abre margem para que a Apple, mesmo perdendo 50% do seu mercado no Brasil, continue tratando o consumidor brasileiro como um verdadeiro trouxa, que além de ser sufocado com impostos, ainda enfrenta algumas empresas que zombam de forma descarada de alguns que se acham “descolados”.

Isso sem contar o fato que abre precedentes para que os aparelhos continuem com preços cada vez mais abusivos, que vão muito além da tecnologia e recursos empregados.

Como bem diz Pondé em um trecho de seu livro marketing existencial citado acima, “o consumo humanista é uma forma de você continuar a se matar e a matar por iPhones…

O iPhone é só uma representação, a ideia pode ser aplicada a todos esses produtos que criam tanto valor no cotidiano que nos faz aceitar tudo, por qualquer preço e ainda pagar sorrindo!

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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