Começando no Fluxbox

Começando no Fluxbox

Tenho um PC top-de-linha D8, “de oito anos atrás”. Hoje em dia, para os aplicativos e sistemas atuais, ele anda meio cansado já. A inovação em termos de desktops é maior dia após dia, e temos cada vez mais efeitos e recursos na ponta do mouse. Mas como fiquei parado no tempo em hardware, e não queria ficar em termos de aplicativos (últimas versões de BrOffice, Firefox, Pidgin, kernel, etc) não via outra solução.

Para meu dia-a-dia, preciso de vários softwares abertos ao mesmo tempo para meu trabalho e também para atividades da faculdade. O GNOME ou o KDE rodam bem, desde que eu não cometa esse tipo de ação. Cansado, decidi partir para uma outra alternativa, mais radical: o Fluxbox.

Confesso que achava que o Fluxbox era um monstro, que uma vez instalado no PC, não te deixava dormir e te prendia numa certa jaula da programação. Mas depois que experimentei e o ajeitei ao meu gosto, verifiquei que o Fluxbox não é tão difícil quanto parece, é estável, leve e altamente personalizável. Tudo o que você precisa ter, especialmente no início, é um pouco de paciência e intrepidez.

Isso é apenas o resumo de uma looooonga história. Não queria escrever um artigo onde eu ficasse falando, falando e você tendo que suprir suas necessidades de cafeína. Aqui vão as conversas que tive com meu amigão Roberto Bechlufft, o tradutor oficial do Hardware.com.br, em momentos “off-road”; aproveito e deixo meus agradecimentos a ele na elaboração do tutorial. Além de se divertir, você vai descobrir porque logo eu, que “tremia igual vara verde” ao escutar o sussurro “Fluxbox”, está usando esse ambiente:

Julio:

Fala Roberto!

Essa semana vou trocar meu desktop. Ainda não troquei, farei essa semana. Vejamos no que dá 😛

Roberto:

Nada, isso é normal… a graça do Linux está nesse troca-troca mesmo. Trocando os desktops, a sensação de novidade nunca desaparece e continuamos com um sistema estável. Eu ainda estou usando o Fluxbox, e estou trilhando um caminho contrário ao seu: nesse tempo todo que uso o Flux, não senti falta de nada que o GNOME possa me oferecer, rs… dá para configurar um monte de atalhos de teclado, o Thunar cumpre bem a função de gerenciar arquivos (não estou usando o Nautilus), não sinto falta dos ícones no desktop (nem me dei ao trabalho de configurar usando outros aplicativos)… acho que só quando sair o GNOME 3 é que vou me animar em dar uma olhada, porque eu não resisto a uma boa novidade.

Julio:

Mas e agora Roberto… A leveza do XFCE, ou a excelência e atualização constante do GNOME? O desenvolvimento do XFCE anda meio parado, o do GNOME muito ativo… E claro, em termos de interface, o GNOME é muito superior… porém, é mais pesado!

Roberto:

Vai de Fluxbox 🙂

Eu não curto o XFCE, já usei por uns tempos e não gostei muito.

Julio:

Você usa programas GTK no Fluxbox? E porque você não gostou do XFCE?

Roberto:

Uso sim, vários. Troquei alguns, tipo uso o gedit para edição mais avançada, mas na maioria das vezes recorro ao leafpad, e há séculos eu não uso mais o Rhythmbox (trocado pela dupla sonata+mpd, que também é GTK).

O meu problema com o XFCE é que eu tenho a impressão de que ele é uma cópia piorada do GNOME. Eu usava o XFCE para tentar fazer tudo o que eu fazia no GNOME com menos peso, e sempre sentia falta de alguma coisa. O visual eu sempre achei um horror, uma cópia horrenda do visual GTK do GNOME. No fim das coisas, acabava achando melhor pesar um pouco mais o sistema, porque uma cópia piorada do GNOME nunca vai me trazer a mesma satisfação que o GNOME original. Fora que eu não acho o XFCE tão leve assim, e detesto aquela barrinha dele…

Quando fui para o Fluxbox, fui decidido a fazer as coisas de um jeito diferente. Por isso, não estou sentindo falta de nada do GNOME. Lanço meus programas favoritos com atalhos de teclado, para os outros uso alt+F2. Não sinto a menor falta dos ícones de quicklaunch ou no desktop. O Fluxbox é bem mais leve. É tudo diferente, mais simples, mas no meu caso específico não sinto falta mesmo dos recursos do GNOME, porque desencanei de “emular o GNOME”, eu quero é que o micro funcione para as minhas necessidades. Nas vezes anteriores em que testei o Flux eu não gostei, porque saía arrumando um monte de programinhas para emular funções do GNOME nele, e fugia ao propósito do Flux. Mas se você quer um GNOME mais leve, talvez o XFCE funcione. Questão de gosto mesmo.

Quanto ao LXDE, não estou confundindo não, e talvez seja até mais interessante do que o XFCE, porque pelo menos parece mais leve. Mas cai na mesma questão: quem quer o GNOME mais leve vai se frustrar.

Acho que a minha opinião seria: quer o GNOME? Aguente o peso. Se usar um “genérico” leve do GNOME, acho que você vai acabar é sentindo saudades das coisas que o GNOME faz bem. Mas vai de cada um… o lance é experimentar e ver o que você acha.

Acabou que decidi optar pelo GNOME, e fiquei um tempo nele. Alguns meses depois, e lá vou eu perturbar o Roberto novamente:

Julio:

Fala Roberto!

Tenho 768 MB de RAM no sistema, e o GNOME do Ubuntu roda normalmente… quando não fico com os 4 navegadores, BrOffice, Rhythmbox, Pidgin, Gedit, etc aberto.

E eu não aguento mais a lerdeza. Às vezes tenho que ir lá tomar um gole de água enquanto o sistema fica remexendo o swap. Isso acontecia com o Debian também, embora menos um pouco, por conta do KDE 3.X. Já arranquei o Metacity e coloquei o OpenBox, melhorou mas ainda tá ruim. Outras vezes dá “lag” até para digitar. Ouvir música então… Parece que estou ouvindo CD num carro em uma estrada de terra esburacada.

E como não tenho dinheiro para comprar mais RAM, o negócio é caçar com gato, usar óculos escuros, comer pão e osso duro. Então, me lembrando do seu sistema ultra-geek e ultra-leve que você me disse tempos atrás, queria saber quais são os aplicativos, no Linux, usados por você! incluindo o ambiente, que deve ser o Fluxbox, certo? Se for ele, me manda seus arquivos de configuração, por favor?

Roberto:

É Fluxbox na cabeça aqui em casa. Estou mandando os meus arquivos, mas nem está tão customizado…

Eu mexi mais nos atalhos de teclado, assim não sinto falta de nada. É o arquivo “keys”. Você vai notar que há atalhos para o mpc, que é o programa que interage com o mpd, que por sua vez é o meu servidor de músicas… confuso? Que isso, imagina 🙂

Para ouvir música, estou mais do que satisfeito com a dobradinha sonata/mpd. O mpd é o servidor de músicas, levíssimo. O sonata é um dos muitos clientes gráficos para o mpd, levíssimo também. Pode ser um pouco complicado de configurar, mas tem uns tutoriais pela internet… se interessar e tiver dificuldades, fala comigo que eu dou uma força. Se não quiser ir para o mpd e preferir algo mais light, pode usar o audacious, que é tipo um winamp e que eu uso para tocar umas músicas de videogame em formatos esquisitões 🙂

Gerenciador de arquivos aqui é o Thunar. Você deve conhecer, acho que é o default do XFCE. Dá para configurar atalhos do menu de contexto para compactar e descompactar arquivos, e é mais fácil do que parece.

O Gedit eu troquei pelo leafpad, não uso mesmo os recursos do Gedit… Firefox não tem jeito, para mim tem que ser ele mesmo. Broffice: já tentei usar Abiword e Gnumeric infinitas vezes, nunca deu certo. São dois programas extremamente irritantes e complicados. Bati um recorde outro dia: em apenas dois minutos tentando usar estilos no Abiword eu consegui xingar a mãe de todos os programadores e amaldiçoei três gerações de seus descendentes. Só em caso de desespero mesmo, se a coisa aí estiver muito preta.

Para ganhar uns megas você pode desinstalar o GDM e fazer o fluxbox entrar com um startx. Se me lembro bem, é só criar um .xinitrc no diretório home com uma única linha:

exec startfluxbox

Aí é bootar o PC, fazer login em modo texto e digitar startx. Bingo.

Vou ver se lembro de mais alguma coisa e te digo. Qualquer dúvida pergunta aí!

Julio:

… e não é que a patroa já mexeu no PC com o Fluxbox? Nem reclamou… :-O

Roberto:

E o desktop, está usando o que para os ícones?

Julio:

Estou usando o idesk para os ícones. A configuração é toda manual, mas muito simples. O bom disso é que ele não se desconfigura nunca, hehe.

Abraço!

Daí você me pergunta: o que é o Fluxbox? Em uma explicação extraída do fundo do baú, Morimoto argumenta que “o Fluxbox é baseado no código do Blackbox mas inclui uma série de melhorias. As janelas minimizadas não “somem” mas aparecem na barra de tarefas. É possível organizar as janelas em tabs, facilitando a vida de quem mantém vários programas abertos. O Fluxbox também suporta os Applets do KDE e do WindowMaker, entre outras pequenas melhorias. O Fluxbox está crescendo rápido em popularidade, é possível que em breve supere o próprio Blackbox.”

Assim como outros inúmeros, o Fluxbox é mais um gerenciador de janelas livre para o X, e como dito, é muito leve, consumindo pouquíssimos recursos da máquina, possui suporte para abas de janelas , execução de ações por uma sequências de teclas, tudo perfeitamente configurável. É ideal para aqueles que se preocupam com o essencial.

Este gerenciador já fez sucesso em uma distribuição Linux. Segundo um trecho da Wikipedia, “pequeno, rápido e leve, o Fluxbox é o gerenciador de janelas padrão da distribuição Damn Small Linux. Damn Small Linux é uma distribuição cujo live CD tem menos de 50 MB, e, segundo o seu website, ela é leve o bastante para rodar em um 486DX com 16 MB de memória RAM.” Vale lembrar que hoje o DSL usa o IceWM, um gerenciador de janelas ao estilo Windows 95, também leve.

Daí você pensa: porque não o IceWM, LXDE, dentre outros? Eu queria um conceito diferente, e não daqueles que tentam deixar o jeito Windows ou Mac de ser mais leve.

Em suma, o Fluxbox tem como pontos principais:

  • Consome poucos recursos (especialmente RAM);
  • Possui sistema de organização de janelas em abas;
  • Atalhos de teclado para o que você quiser;
  • Configuração, apesar de baseada em edição de textos, de sintaxe simples;
  • Compatibilidade com aplicativos do GNOME e KDE;
  • Suporte a dockapps (mini-aplicativos, como os do KDE e GNOME);
  • Suporte a diversas áreas de trabalho.

A interface do Fluxbox, como você já deve saber, é composta basicamente por uma barra de tarefas com a indicação e as setas de alteração das áreas de trabalho, relógio, os aplicativos abertos, e a bandeja do sistema. Claro, isso inicialmente, no padrão; tudo isso pode ser alterado.

Então vamos parar de enrolação, e mãos à obra.

Sobre o Autor

Redes Sociais:

Deixe seu comentário

X