Um relatório alarmante publicado pelo Centro para Democracia Digital (CDD – Center for Digital Democracy) revela que as Smart TVs e dispositivos de streaming se tornaram verdadeiros “cavalos de Troia digitais” nas residências dos consumidores.
O estudo de 48 páginas, intitulado “Como a TV nos observa: Vigilância Comercial na Era do Streaming” (PDF), expõe as práticas invasivas de coleta de dados empregadas pela indústria de TV conectada (CTV).
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Sistema de vigilância da indústria de CTV
De acordo com Jeffrey Chester, co-autor do relatório e diretor executivo do CDD, as empresas por trás da indústria de streaming desenvolveram um “sistema de vigilância” que há muito tempo compromete a privacidade e a proteção do consumidor. As técnicas de rastreamento sem precedentes, visando agradar aos anunciantes, transformaram as CTVs em um “pesadelo de privacidade”.
O relatório cita diversas fontes, incluindo publicações especializadas, posts de blogs e declarações de grandes players do streaming, como Amazon, NBCUniversal, Tubi, LG, Samsung e Vizio. Ele fornece uma visão detalhada das várias maneiras pelas quais os serviços de streaming e o hardware de streaming direcionam os espectadores de formas inovadoras, mas que o CDD argumenta representarem graves riscos à privacidade.
Um dos pontos mais preocupantes destacados no relatório é o uso crescente de inteligência artificial generativa para aprimorar as capacidades de publicidade direcionada. Por exemplo, a Amazon Web Services e a empresa de tecnologia publicitária TripleLift estão trabalhando com modelos proprietários e aprendizado de máquina para inserção dinâmica de produtos em programas de TV transmitidos por streaming. Isso significa que novas cenas apresentando exposição de produtos podem ser inseridas em tempo real “sem interromper a experiência de visualização”.
Preocupação com propagandas relacionadas à saúde e política
Além disso, o relatório alerta sobre o potencial uso indevido de dados de saúde para publicidade direcionada de produtos farmacêuticos, uma prática que gera preocupações na comunidade de saúde pública devido às suas técnicas de vendas de alta pressão, desinformação e práticas enganosas.
O CDD também expressa preocupação com o impacto político potencial da extensa coleta de dados e rastreamento pela indústria de CTV. O relatório sugere que candidatos políticos poderiam usar esses dados para executar “campanhas personalizadas secretas”, aproveitando informações sobre orientações políticas e “estados emocionais” dos espectadores.
Outro aspecto alarmante é o direcionamento específico de comunidades negras, hispânicas e asiático-americanas nos EUA, que são vistas pelos profissionais de marketing como “alvos altamente lucrativos” devido à rápida adoção de novos serviços de mídia digital e lealdade à marca.
Chester alertou que o uso generalizado de dados raciais e étnicos para segmentação de anúncios e marketing está crescendo, o que ele considera informações sensíveis que não deveriam ser aplicadas aos perfis de dados usados para segmentação na CTV e em outras plataformas.
Autoridades responsáveis já foram alertadas
Em resposta a essas preocupações, o CDD enviou cartas à Comissão Federal de Comércio (FTC), Comissão Federal de Comunicações (FCC), procurador-geral da Califórnia e Agência de Proteção à Privacidade da Califórnia (CPPA), solicitando uma investigação sobre a indústria de CTV dos EUA, “incluindo fundamentos antitruste, proteção ao consumidor e privacidade”.
O grupo enfatiza os desafios que os usuários de streaming enfrentam para proteger seus dados dos anunciantes, mesmo aqueles que pagam por streaming sem anúncios.
O relatório conclui que a televisão conectada cresceu como um meio não regulamentado nos Estados Unidos, junto com outras plataformas, dispositivos e aplicativos que fazem parte da massiva indústria da internet. O CDD pede que a FTC e a FCC investiguem as práticas de CTV e considerem a ampliação da legislação atual, como a Lei de Proteção à Privacidade de Vídeo de 1988.